novos tempos, novas redes, novos riscos

hoje, em são paulo, a bradesco seguros promove um fórum de discussão sobre riscos e eu vou estar, com raquel rolnik, na mesa de debates depois da palestra de sérgio besserman, que vai falar sobre riscos ambientais, inclusive os riscos urbanos aos quais quase todos nós estamos sujeitos.

rudolph giuliani, que era prefeito de nova iorque no 11 de setembro, encerra o dia falando sobre a cidade que dirigiu, e não só sobre catástrofes, mas como tratar um dos maiores riscos das grandes cidades, a violência quase endêmica que as afeta.

as cidades, principalmente as muito grandes, se tornaram caos infernais. tipo são paulo em dia de 266Km de lentidão [veja o vídeo aqui]. ou do vazamento do gás no porão que, ao explodir, pode levar um quarteirão junto. ou o estouro da adutora que derruba um monte de casas e arrasta dezenas de carros. ou o buraco do metrô que engole caminhões, carros, vans e gente, sem falar nos apagões, mais frequentes do que os outros desastres e só superados, nas grandes cidades, pelos engarrafamentos.

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entre as cidades, os problemas não são menores: navios afundam, trens colidem, ônibus despencam e aviões caem, batem ou, simplesmente, desaparecem.

do ponto de vista mais geral, estamos falando sobre fenômenos que ocorrem em redes: redes de água, esgoto, viária, eletricidade, aérea, fluvial, de gás e de tudo o mais que construimos para servir de infraestrutura para a vida que chamamos de moderna. estas redes suportam, delimitam, simplificam e complicam a vida de todo mundo. é impensável viver, hoje, sem a rede elétrica. todas as outras, aliás, de água a internet, dependem dela para funcionar.

falando de internet, ela é a rede –e o conjunto de riscos- mais recente a servir de infra para quase tudo o que fazemos. desde transações financeiras [os bancos se mudaram pra lá] a cidadania [o governo, também], passando por compras, educação, saúde, trânsito… estamos vendo um conjunto muito grande de processos e funções de suporte a todo tipo de atividade se mudar pra internet.

e isso tem consequências do ponto de vista de riscos, a ponto do brasil ter, no DSIC, departamento de segurança da informação e comunicações, o centro de suas preocupações de segurança da infraestrutura de internet. segundo raphael mandarino jr, diretor do DSIC… "Estamos estudando como proteger a infraestrutura crítica do País, aquilo que se parar traz consequências graves para o cidadão como, por exemplo, as telecomunicações, água, energia, transporte. E o que é que eu tenho a ver com a água? Como é que são trocadas as informações? Por meio da informática. A estrutura física da informação permeia todas as outras"

image o resumo é este aí mesmo: a infraestutura de informação permeia todas as outras. quer ver como? em 9 de abril passado, indivíduos não identificados resolveram tirar a cidade californiana de morgan hill do ar: cortaram oito cabos de fibra ótica em entroncamentos-chave da localidade, isolando-a da internet ao seu redor. resultado? 52.000 casas sem telefone em três cidades, serviço 911 [de emergência], banda larga, caixas automáticos e rede de sistemas de alarme [inclusive incêndio] fora do ar, polícia com reduzida capacidade operacional, hospitais sem coordenação por falha nas comunicações…

em suma, um caos considerável e uma parte do silicon valley fora do ar, a ponto do condado de santa clara ter [na época] declarado estado de emergência e da AT&T, empresa cujos cabos foram cortados, haver oferecido US$100.000 pela possível identificação dos infratores.

tirante a ruptura das comunicações, o incidente de morgan hill não gerou nenhum outro efeito além do caos informacional. mas há quem ache que foi apenas um ensaio, um piloto de prova, pra ver até que ponto uma quebra na infraestrutura de rede de informação afeta todas as outras redes. se tiver sido isso mesmo, os próximos incidentes do tipo podem ter consequências bem mais graves.

agora pense: estamos nos tornando cada vez mais dependentes da internet e de todos os sistemas e serviços sobre a rede. quantos pontos da infra de rede, numa cidade como são paulo, precisam ser atacados com sucesso [na calada da noite…] pra tirar a cidade inteira do ar? mais de oito? talvez não. e isso pode ser feito sem que se invada um prédio sequer, sem qualquer confronto com seguranças ou portas, travas, cadeados ou senhas. é capaz de, tanto quanto em morgan hill, dar pra parar são paulo –parar mesmo- entrando numas bocas-de-lobo e seccionando alguns cabos.

é isso que vai ser debatido hoje no fórum de riscos, e você pode nos seguir pelo twitter, através da tag #forumderiscos, isso se o twitter, que anda caindo o tempo todo por excesso de demanda, estiver no ar e se ninguém resolver sabotar a rede durante o fórum. novos tempos, novas redes, novos riscos…

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