Efeitos de Rede e Ecossistemas Figitais [xi]

Uma série, aqui no blog [o primeiro texto está em… bit.ly/3zkj5EE, o segundo em bit.ly/3sWWI4E, o terceiro em bit.ly/3ycYbX6, o quarto em… bit.ly/3ycyDtd, o quinto em bit.ly/3J51vZc, o sexto em… bit.ly/3Jkd8vC, o sétimo em… bit.ly/3JTlBHM, o oitavo em… bit.ly/42z6sT1, o nono em… bit.ly/3yZFUNd e o décimo em bit.ly/3Mjr6AS, sobre Efeitos de Rede e Ecossistemas Figitais, com a co-autoria de André Neves. Esse texto é o rascunho de um documento que será publicado como um ebook pela TDS.company.

[3] Efeitos de tecnologias.
Mais performance, mais rápido e barato e… antes.

Plataformas [figitais] estão se tornando ubíquas e desafiam os incumbentes há duas décadas, ao mudar a forma como consumimos e fornecemos produtos e serviços de todos os tipos; plataformas redefinem mercados[1], nada mais, nada menos. Empresas com modelos de negócios legados criam valor intramuros, enquanto negócios figitais usam tecnologia para criar, manter, operar e evoluir plataformas que criam valor em rede, ao facilitar as conexões, relacionamentos e interações entre produtores e consumidores externos à organização. Os ecossistemas de plataformas compreendem, minimamente, um negócio de plataforma e seus mecanismos de governança e orquestração[2] para habilitar mecanismos de criação de valor numa plataforma onde seu proprietário e um ecossistema de fornecedores, consumidores e complementadores autônomos coopetem dinamicamente.

Mercados figitais, habilitados por plataformas, são majoritariamente definidos por tecnologias. E os negócios de plataforma [literalmente] governam seu ecossistema através de decisões de arquitetura de sistemas e design de interfaces, o que os leva, quase sempre, a capturar dados de maneira opaca e apresentar escolhas deliberadamente projetadas para manipulação da comunidade usuária, o que tem levado a uma reação que certamente terá consequências significativas para as plataformas, em especial aquelas das grandes empresas de tecnologia[3].

Os ecossistemas figitais têm o potencial de passar de US$60 trilhões em receita [cerca de 30% da receita corporativa global] ainda nesta década, mas só 3% das empresas já estabelecidas adotaram uma estratégia de plataforma até agora[4]. Ecossistemas bem-sucedidos são projetados para obter ganhos de mercado e criar valor para todos os participantes, mas as empresas que orquestram ou participam de ecossistemas precisam resolver um conjunto de problemas complicados dentro e fora de seus limites, entre os quais estão as tecnologias essenciais para as plataformas e seus efeitos de rede.

Quando o aumento do número de usuários da[s] tecnologia[s] que serve[m] de base a uma rede a torna melhor –mais rápida, mais simples, mais precisa, mais valiosa…- estamos diante de efeitos de redes de tecnologias, que diferem de simples avanços tecnológicos. Para uma mesma tecnologia, quanto maior o número de aderentes a uma rede peer-to-peer –por exemplo- melhor a rede. Um clássico efeito de tecnologia em rede. Em certos tipos de redes, é o aumento dos nós e links [entre eles] que torna a rede, como todo, melhor. Lembra alguma coisa?

Isso vale para sistemas de recomendação de quase qualquer coisa: numa rede de poucos usuários, como criar sugestões a partir de padrões de uso de grupos ou comunidades, se não há usuários e grupos em número suficiente? Para entretenimento, mapas, redes sociais…, os efeitos de tecnologia são parte da infraestrutura do negócio. E têm que ser desenhados como uma parte essencial da plataforma que sustenta o modelo de negócios. Esse vai ser um tema recorrente na discussão de efeitos de rede em ecossistemas de plataformas. Um bom número de agentes em rede -entre os que lideram plataformas- entende muito bem por que e como precisa fazer uso de efeitos de rede para criar, manter e evoluir suas comunidades e ecossistemas… mas o problema que enfrentam, muitas vezes [quase sempre], são deficiências das plataformas no que tange ao suporte aos efeitos de rede… entre eles os de tecnologias.

Não por acidente, a internet usa efeitos de tecnologias: sua resiliência melhora com o aumento do número de nós na malha, que aumenta a quantidade de possíveis rotas de conexões entre pontos: quanto mais nós, melhor para cada nó e para toda a rede [e seus usuários]. Além disso, a internet também é exemplo de como efeitos de tecnologia podem contribuir para a evolução contínua da rede; em constante expansão, sua arquitetura é projetada para evoluir e se adaptar às necessidades mutantes dos usuários e aplicações. Claro, a internet foi desenhada tendo efeitos de rede em mente e em todos os call for proposals, arquiteturas e implementações, de protocolos a servidores. Isso nos casos em que as coisas deram certo.

Plataformas de suporte a redes sociais demonstram intensos efeitos de tecnologia. Se mais usuários se juntam às plataformas, essa maior base de usuários leva a conteúdo mais diverso, interações mais significativas e mais oportunidades para transações de todo tipo e [se a turma da plataforma souber evoluir a tecnologia] melhor experiência de uso, num ciclo virtuoso que atrai cada vez mais usuários, fortalece os efeitos de tecnologias e cria cada vez mais valor para todos os usuários. Similarmente, os marketplaces têm efeitos de tecnologia potencialmente muito fortes e se tornam mais valiosos à medida em que mais vendedores e compradores se associam à sua rede, criando um mercado maior e mais oportunidades de transações para todos. Com uma base de usuários maior, os marketplaces podem oferecer uma maior gama de produtos, preços mais baixos e melhores serviços de logística. O resultado é uma plataforma mais atraente para novos usuários, reforçando o efeito de rede.

Efeitos de tecnologia são muito difíceis de replicar e há potenciais vantagens sustentáveis para os pioneiros e inovadores. Isolando todas as outras condições, tanto maior a intensidade dos efeitos de tecnologia durante a escalada de uso da plataforma na criação de uma rede, quanto maior a sua persistência no tempo. Quando a sustentação da rede depende apenas ou na maior parte de efeitos de [certa] tecnologia, sua evolução definirá o futuro da rede e poderá se tornar barreira de entrada intransponível para novos entrantes. Em negócios que dependem de efeitos de tecnologia, dominar a evolução de seu ciclo de vida é condição óbvia de sobrevivência e estratégias efetivas para gestão do ciclo de vida de plataformas digitais. E monitorar a evolução dos efeitos de tecnologia ao longo do tempo e tomar medidas para garantir sua persistência e relevância no mercado são essenciais para sobrevivência de quem depende destes efeitos.

Efeitos de tecnologias são importantes para o desempenho das redes que habilitam, podem levar a vantagens competitivas para empresas que os dominam; “dominar”, aqui, quer dizer tanto escrever e rodar o código que realiza os efeitos como saber e fazer com que os efeitos funcionem, na prática. Alguns exemplos de efeitos de tecnologias são…

  1. Escala, um dos efeitos de tecnologias mais conhecidos e discutidos, e mais problemáticos para quem ainda não o tem: quanto maior o número de usuários em uma rede, melhor a performance da tecnologia subjacente. Um exemplo disso são redes peer-to-peer, onde o desempenho aumenta à medida que mais usuários se juntam a ela, porque mais usuários significam mais recursos compartilhados, o que leva a uma rede mais rápida e confiável.

  2. Recomendação, que em parte depende de escala: sistemas de recomendação dependem de grandes quantidades de dados para aumentar a precisão das sugestões e criar possibilidades de descoberta mais significativas e mais surpreendentes. Para tal, quanto maior a rede, mais dados estão disponíveis, o que torna as recomendações mais precisas e personalizadas além de quase certamente resultar em maior engajamento dos usuários [e suas consequências].

  3. Resiliência é a capacidade de uma rede continuar a operar mesmo quando enfrenta falhas ou interrupções, e a internet é exemplo de como a tecnologia pode se beneficiar da escala: quanto mais nós, na rede, mais redundância e resiliência. Se um nó falha, a rede encontra rotas alternativas para fazer conexões equivalentes, desde que haja outros nós disponíveis para tal.

    Nem toda plataforma cria redes como a internet, mas toda ela -e todos os efeitos de rede- têm por fundações o que a plataforma serve de base: estabelecer mecanismos para criação e evolução de conexões, relacionamentos e interações entre agentes interdependentes. A pergunta a fazer, neste caso e para qualquer plataforma… seria: como a[s] tecnologia[s] da plataforma poderiam torná-la mais resiliente em caso de problemas nos seus habilitadores de conexões, relacionamentos e interações? Em suma, como evitar que a plataforma caia em incidentes maiores e, ao invés, tenha a performance degradada graciosamente?

  4. Persistência: as vantagens dos efeitos de tecnologia são difíceis de replicar e podem levar a vantagens competitivas de longo prazo; um negócio que domina uma tecnologia inovadora pode se beneficiar de uma rede de usuários fiéis que dependem dessa tecnologia, tornando mais difícil para a concorrência ganhar participação de mercado, porque os usuários teimam em continuar usando uma tecnologia já existente. A rede atual e dependente da tecnologia é tão valiosa para os usuários [como resultado de outros efeitos de rede, como expertise…] que eles preferem continuar a usá-la, mesmo com outras -e talvez melhores, do ponto de vista estritamente técnico- opções.

  5. Evolução: efeitos de tecnologia podem ser fundamentais para evolução de uma rede e quem domina tecnologias inovadoras pode evoluir a rede para mantê-la competitiva por um longo tempo. Mas se uma rede depende de uma tecnologia específica que se torna obsoleta, pode enfrentar grande dificuldade para se manter relevante, inclusive no curto prazo, quando em transições muito rápidas no seu mercado. Aqui, deve-se entender que inovação é mudança, quase sempre simultânea, do comportamento de fornecedores e consumidores no mercado; adicionar recursos deve atender a necessidades explícitas ou implícitas de usuários. Pesquisa e desenvolvimento -e experimentação- contínuas para melhorar a experiência do usuário e expandir as funcionalidades da plataforma são absolutamente essenciais.

    Evolução pode ser atropelada por revolução: a evolução tecnológica pode levar a mudanças significativas na maneira como as redes operam; um exemplo que pode ter impacto radical em plataformas e ecossistemas são as tecnologias de blockchain, com as quais se pode criar redes verdadeiramente descentralizadas, sem depender de intermediários para estabelecer  conexões e realizar transações, com potencial de perturbar setores inteiros da economia de plataformas, criando oportunidades para inovação e mudança… quando as tecnologias e suas implementações tiverem efeitos equivalentes aos aqui listados.

  6. Redução de custos é um dos efeitos de tecnologia mais conhecidos e usados; entre outros, a evolução das tecnologias de plataforma pode reduzir custos de produção, armazenamento e distribuição de bens e serviços, tornando a rede ainda mais acessível e atraente para novos usuários. Serviços de streaming de música conseguiram reduzir os custos de distribuição em comparação com a indústria fonográfica tradicional e digital com suporte físico; mesmo que não fosse o propósito da investida no mercado de música [era desempacotar uma demanda existente e criar novas, customizar a oferta, com preços mais precisos, diminuir fricção…], a redução de custos e preços foi essencial para o estabelecimento das novas plataformas e de seus modelos de negócios.

    Plataformas de mobilidade pessoal usam tecnologias de geolocalização e pagamento para conectar motoristas e passageiros, reduzindo os custos de transporte em comparação com serviços tradicionais e, no mesmo mercado, autonomia veicular tem o potencial de reduzir ainda mais os custos de transporte no futuro. Tecnologias de ecommerce reduzem custos de operação do varejo, eliminando espaço físico e [em parte] trabalho, o que habilita modelos de negócio mais eficientes e competitivos, beneficiando consumidores e empresas.

  7. Inovação: a tecnologia de uma plataforma também pode estimular a inovação e a criação de novos produtos e serviços. Quanto mais avanços tecnológicos são feitos em uma rede, maior a possibilidade de desenvolver novas soluções para problemas existentes e descobrir novos problemas e oportunidades de negócios. Plataformas de mobilidade pessoal compartilhada inovaram ao criar um novo modelo de negócios para o transporte de passageiros, usando a tecnologia para conectar motoristas e usuários e exemplos similares podem ser encontrados em profusão.

    Há dois tipos[5] de plataformas: de transação, que facilitam trocas entre agentes [as coisas, indivíduos e organizações] que -sem plataformas- teriam dificuldade de encontrar e negociar entre si e capturar e compartilhar dados, incluindo pessoais, na rede… e as de inovação, que servem como fundações sobre as quais todos os agentes de inovação desenvolvem produtos e serviços complementares. Um terceiro tipo, híbrido, combina as características anteriores em uma tentativa de criar ecossistemas universais, que abrangem um espectro muito amplo de tipos de agentes e suas comunidades. Inovação contínua quase sempre importa muito mais nas plataformas de transações do que, imagine, nas de inovação. Por quê?…

  8. Personalização: tecnologia pode ser usada para personalizar a experiência do usuário numa rede, o que pode aumentar o engajamento e a fidelidade dos usuários. Estratégias de gestão do ciclo de vida de informação para o negócio, a coleta apropriada de dados, análise e tomada de decisão em tempo [quase] real podem oferecer recomendações mais precisas e personalizadas para cada usuário. Algoritmos analisam históricos de interações e transações em contexto, de cada usuário, bem como as avaliações de produtos, para oferecer sugestões personalizadas que possam interessar a cada usuário individualmente ou a grupos inteiros, até os muito grandes.

    Plataformas de suporte a redes sociais usam algoritmos para personalizar o feed de notícias de cada usuário com base em suas preferências e comportamentos de navegação; isso pode aumentar o engajamento dos usuários existentes e tornar a plataforma atraente para novos usuários. Mas é importante lembrar que personalização tem desvantagens, como a criação de bolhas que limitam a diversidade de opinião e a informação que os usuários veem. Além disso, a coleta de dados pessoais levanta questões de privacidade e segurança, o que torna essencial equilibrar benefícios da personalização com a privacidade e segurança do usuário.

  9. Colaboração: a tecnologia também pode permitir maior colaboração entre usuários em uma rede, o que pode aumentar a eficiência e produtividade da comunidade como um todo. Há plataformas criadas especificamente para colaboração onde várias pessoas trabalham num mesmo documento simultaneamente e em tempo real, visualizando as alterações que cada um faz, melhorando a eficiência na comunicação e tomada de decisões, permitindo que as pessoas trabalhem em conjunto de forma mais produtiva e rápida.

    Plataformas de criação colaborativa permitem que times interajam descentralizadamente, tomem decisões de forma distribuída e o façam de maneira potencialmente assíncrona, o que tem o potencial de redefinir o trabalho simbólico, típico da economia do conhecimento.

    Um exemplo é strateegia.digital, combinando inteligência social e inteligência artificial para habilitar jornadas de debates estratégicos. strateegia possibilita debates estruturados que partem da criação de conflitos criativos [divergências…] e levam à construção de consenso coletivo [convergência…] de ideias. Usuários propõem, debatem e analisam suas hipóteses colaborativamente num ambiente dinâmico, com suporte de inteligência artificial. E, como deveria ser o caso nas plataformas, a API de strateegia permite que funções da plataforma sejam usadas por agentes externos ao time de desenvolvimento para criar apps usando suas bases. Vá lá e veja como!…

  10. O décimo efeito de tecnologias é a acessibilidade, que se refere à capacidade da tecnologia de aumentar a inclusão e diversidade em uma rede, ajudando a superar as barreiras físicas, geográficas, econômicas e culturais que impedem muitos potenciais usuários de se conectar e participar da rede. Um exemplo são plataformas de aprendizado em rede, pois habilitam estudantes a participar de cursos que de outra forma não estariam disponíveis para eles.

    Tecnologias de tratamento de sinais audiovisuais habilitam pessoas com deficiência a entrar na rede e se comunicar com outros usuários; as de tradução superam barreiras linguísticas e permitem interação entre pessoas que falam idiomas diferentes. Tecnologia móvel aumenta acessibilidade permitindo que usuários estejam em rede em qualquer lugar e momento. Os dispositivos móveis informatizaram as pessoass -ao invés das mesas- e isso não só mudou os modos de acesso à rede, mas habilitou toda uma classe de usos e modelos de negócios em todo mundo, eonmclusive nas regiões mais pobres.

Como se pode imaginar, há um número imenso de formas de criar efeitos de tecnologias. Para que o texto não se torne enciclopédico, vamos tratar cinco maneiras de criar, manter e evoluir efeitos de tecnologia para plataformas figitais, dadas a seguir.

  1. Inovação ágil e contínua é uma base para criar|evoluir efeitos de tecnologia em plataformas figitais, concebendo, experimentando e desenvolvendo produtos e serviços em ciclos curtos, garantindo implementação rápida das mudanças, como propostas da plataforma e|ou em resposta às novas demandas e necessidades dos usuários. Inovação incremental também é uma maneira de evoluir a plataforma, implementando pequenas mudanças graduais que, somadas, melhoram funcionalidade, performance e a experiência do usuário ao longo do tempo.

    Entender as características das comunidades [e não público, ou “audiência”] que se quer criar e evoluir numa plataforma é fundamental para desenhar e implementar tecnologias que irão atender às suas necessidades e preferências. Este é o ponto de partida não só do desenho estratégico, mas de todo o processo de inovação contínua para criação de efeitos de tecnologia para o ecossistema da plataforma. Demografia, geografia e comportamentos desejados, tratados como cenários, personas e hipóteses na criação e experimentação das tecnologias-base pode ser a diferença entre sucesso e fracasso[6] da plataforma.

    Inovação não é a construção e liberação contínua de um número cada vez maior de funções. Realizar testes com e analisar feedback das pessoas pode obter dados sobre como usuários interagem com as tecnologias e identificar áreas para melhoria, informando a estratégia de desenvolvimento de plataforma. Iterar continuamente é importante para reagir a mercados em constante mudança, mas há que se ter cautela, também, certas horas.

    Uma armadilha comum para os negócios de plataforma, em relação às tecnologias e seus efeitos, é o aumento contínuo do raio de ação do core da plataforma, que leva a um arrasto de manutenção e evolução que quase sempre compromete os recursos que deveriam estar disponíveis para investir em inovação.

    Evitar esta armadilha demanda pensar em rede, além de entender que modelos de negócios mais efetivos para plataformas são invertidos, onde a maior parte do valor em questão deve ser gerado fora dos limites [clássicos] do negócio e de lá para dentro dele, que deve estar em uma posição -na rede- para capturar uma parte do valor. Todo negócio de plataforma deve investir em P&D e colaborar com outros negócios inovadores para identificar e investir em tecnologias emergentes e novas oportunidades de mercado a partir de um pensamento em rede. Plataformas devem criar e oferecer, para suas comunidades, ambientes que funcionam como sand boxes de experimentação, labs de inovação, para testar novas ideias e produtos em espaços controlados, para que o processo de verificação e validação se dê muito antes de seu estágio de mercado.

    Ao mesmo tempo, não se deve esquecer que plataformas estão em permanente competição -e com plataformas de todos os mercados, inclusive o “seu”. Algumas das questões-chave a considerar -e onde efeitos de tecnologias podem influir- são a sensibilidade do consumidor aos preços, a relevância da base instalada em relação à qualidade da oferta e se os efeitos de tecnologias criam excesso de inércia no mercado. Entender as variáveis que influenciam os efeitos, associando-as aos resultados que os efeitos podem produzir, pode ser essencial para o posicionamento da e para a estratégia de inovação.

  2. Design para escalabilidade é uma estratégia essencial para criar, manter e evoluir efeitos de tecnologias. O redesenho constante da competição demanda resposta imediata a mudanças na demanda, para manter a relevância da plataforma. Escalar rapidamente pode ser um dos principais problemas que uma plataforma enfrenta, especialmente quando seus efeitos de rede “dão certo”. Isso inclui o uso de nuvem, sistemas distribuídos de cache e tecnologias de balanceamento de carga, entre muitas outras características de arquitetura e engenharia de software.

    Além disso, as plataformas devem lidar com riscos que envolvem escalabilidade, como picos de tráfego inesperados. Uma abordagem de design resiliente pode incluir a implementação de estratégias de fallback, mecanismos de desacoplamento e testes regulares de stress para garantir que a plataforma lida com o aumento de carga. Ao projetar para escalabilidade, as plataformas tentam garantir que seus efeitos de tecnologia funcionam independentemente do crescimento de usuários ou demanda, mitigando os efeitos do “fracasso do sucesso”, que acontece quando a plataforma fracassa ao tentar atender a demanda criada pelo sucesso de seus efeitos de rede.

  3. Gestão estratégica do ciclo de vida de informação do, no, e para o negócio: plataformas devem ter estratégias para tratar dados de usuários e de uso -e de tudo…-, para entender as jornadas e problemas dos usuários e evoluir a plataforma conforme as demandas, sucessos e fracassos dos usuários ao tentar realizar ações no ecossistema. Desde a forma de captura da informação até mecanismos de análise de dados, algoritmos de recomendação e sistemas baseados em machine learning, um grande número de funções pode ajudar as plataformas a identificar padrões no comportamento e preferências das pessoas como usuários, melhorar suas capacidades de personalização e oferecer conteúdo, produtos e serviços relevantes. As plataformas devem garantir que os dados do usuário sejam tratados de forma responsável e ética, protegendo a privacidade dos usuários e cumprindo os requisitos legais e regulatórios. Isso envolve a consistência, síntese, apresentação, garantia de segurança e a terminação de informação.

    Outro aspecto da gestão estratégica do ciclo de vida da informação é a coleta e análise do feedback de usuários, para que se entenda suas necessidades e expectativas. Isso requer a realização de pesquisas, avaliações, classificações e suas análises para identificar problemas comuns, a partir do que se prioriza esforços para evoluir a funcionalidade e usabilidade da plataforma.

    Por fim, plataformas podem incentivar efeitos de rede de tecnologias criando ecossistemas abertos que permitem colaboração, interoperabilidade e inovação, oferecendo APIs, SDKs e outras ferramentas para que terceiros integrem produtos e serviços complementares aos da plataforma, tendo como resultado a expansão das ofertas, atração de mais desenvolvedores e usuários e o estabelecimento de ciclos virtuosos de efeitos de rede. O duopólio ocidental de plataformas de conectividade pessoal móvel, ao conseguir isso há 15 anos, “deslocou” os antigos players dominantes [as teles] para a periferia dos seus ecossistemas de plataformas, talvez para sempre, inflingindo-lhes imensos prejuízos de longo prazo

  4. A integração com tecnologias e ambientes físicos é uma chave para criar, manter e evoluir efeitos de tecnologia em ecossistemas de plataformas. A evolução da tecnologia nos últimos anos permitiu que plataformas digitais fossem além do mundo virtual e se integrassem com o mundo físico, expandindo horizontes e aumentando potencial. Ao integrar artefatos como sensores IoT e dispositivos móveis, plataformas podem coletar dados em tempo [quase] real usá-los para personalizar experiências, oferecendo serviços e informação de acordo com as preferências e necessidades individuais. Por exemplo, plataformas de compartilhamento de bikes usam sensores físicos para coletar dados de localização e desempenho, facilitando o encontro de bicicletas disponíveis e o deslocamento das pessoas de forma mais eficiente.

    Outro exemplo de integração de tecnologia física é o reconhecimento de voz para controlar dispositivos domésticos, integrando termostatos, luzes e eletrodomésticos e permitindo que usuários os controlem sem o uso de telas e teclas. Isso pode tornar a experiência bem mais intuitiva e conveniente, aumentando a fidelidade dos usuários e atração de novos usuários.

    Tecnologias físicas também podem ter impacto significativo na segurança e eficiência das ofertas: plataformas de transporte compartilhado usam tecnologias de GPS e mapeamento para rastrear motoristas e passageiros, permitindo que motoristas encontrem passageiros mais facilmente e monitorando a segurança da viagem. Além de melhorar a experiência e a segurança, tecnologias físicas também podem aumentar eficiência de processos de negócios e serviços; plataformas de entrega estão testando drones em áreas urbanas congestionadas, reduzindo o tempo e aumentando sua eficiência.

    Sob outro ponto de vista, a integração de tecnologias digitais a ofertas físicas cria negócios e modelos de receita. Uma plataforma de aluguel fragmentado integrou com um software de gestão de propriedades que oferece aos anfitriões a possibilidade de gerenciar seus imóveis de forma mais eficiente e eficaz. Isso cria uma oportunidade de negócio para o fornecedor e faz com que a plataforma ofereça um serviço mais sofisticado aos seus usuários em todos os lados do mercado que habilita.

    A integração de tecnologias físicas, no entanto, apresenta desafios significativos. A coleta de dados em tempo real pode sobrecarregar os sistemas de armazenamento e processamento de dados, exigindo investimentos significativos em infraestrutura e tecnologia. Além disso, a segurança dos dados e a privacidade dos usuários são questões críticas que precisam ser abordadas adequadamente.

  5. A colaboração entre plataformas é chave para criar, manter e evoluir efeitos de tecnologia em ecossistemas de plataformas. Ao se conectar e colaborar, plataformas aproveitam suas tecnologias e experiências para oferecer serviços mais abrangentes e diversificados, com o potencial de integração de serviços complementares. Uma fintech pode colaborar com uma plataforma de gestão de negócios para fornecer soluções integradas que ajudem usuários a gerenciar finanças no mesmo ambiente em que tomam decisõe administrativas. E isso pode levar a uma maior eficiência e conveniência, com muitos serviços em uma única plataforma.

    Além disso, a colaboração entre plataformas pode ajudar a expandir a base de usuários. Por exemplo, redes sociais podem colaborar com e-commerce para permitir a venda de produtos nas primeiras. Isso pode levar a um aumento no número de usuários nas redes sociais, assim como no volume de transações da plataforma de e-commerce. Seria ainda melhor se redes sociais, em geral, tivessem um comportamento ético pelo menos na média das plataformas.

    Um benefício da colaboração entre plataformas é estabelecer a possibilidade de inovação conjunta, com o potencial de criar soluções inovadoras que ajudem a resolver problemas ou atender necessidades emergentes dos usuários. Como exemplo, plataformas de transporte e de energia podem criar soluções que levem a carregar veículos elétricos em estações cujas fontes de energia são renováveis. E a colaboração entre plataformas pode ajudar a reduzir os riscos, compartilhando recursos e conhecimento para enfrentar desafios comuns, como segurança cibernética e as garantias de privacidade do usuário. Ao trabalhar em conjunto, as plataformas podem desenvolver soluções mais robustas e eficazes que reduzem o risco de violações de segurança ou vazamento de dados.

    A interoperabilidade entre plataformas pode ser essencial para colaboração, porque sempre haverá diferentes padrões e tecnologias entre negócios, o que dificultará até um mínimo de integração. Sem interoperabilidade, ecossistemas de plataforma não têm muita chance de se tornarem realidade, limitando muito as oportunidades de inovação. A colaboração pode superar tal barreira desenvolvendo padrões e APIs abertos, permitindo a comunicação entre diferentes sistemas e criando um ambiente mais aberto e integrado que pode chegar no estágio de ecossistemas de plataformas, que podem ser vistos como redes de negócios que trabalham juntos para criar redes mais abrangentes de serviços e experiências. Isso envolve a criação de um ambiente aberto e integrado para que os usuários possam acessar uma ampla gama de serviços e funcionalidades.

    As estratégias de colaboração podem variar de acordo com as necessidades e objetivos de cada plataforma. Uma opção é a aquisição de outras empresas para adquirir tecnologias e recursos. Outra opção é a colaboração por meio de parcerias estratégicas ou alianças com outras plataformas. E nem tudo são flores; a colaboração tem desafios. Um dos principais é a gestão de conflitos de interesse: sem acordos bem definidos, a confusão é garantida.

Os efeitos de tecnologia em ecossistemas figitais podem ter impactos significativos na performance, agilidade, capacidade de agregação de valor e estruturas de custos das plataformas, podem oferecer vantagens sustentáveis aos pioneiros e|ou aos inovadores, além de serem difíceis de replicar. Para criar, manter e evoluir tais efeitos, é necessário investir em pesquisa, desenvolvimento e inovação, manter uma cultura de experimentação e inovação e monitorar os ecossistemas habilitados pela plataforma para avaliar o que está [e não está] funcionando de forma eficaz, eficiente e econômica. Essas ações podem ajudar a garantir a persistência da plataforma ao longo do tempo e a criar uma barreira de entrada significativa para novos concorrentes.


[1] Hein, A. et al., “Digital platform ecosystems.” EM, 2020, bit.ly/43zHXFW.

[2] Lang, N. et al., “Four Strategies to Orchestrate a Digital Ecosystem”, BCG, 2020, on.bcg.com/43xYI4d.

[3] Gawer, A., “Digital platforms and ecosystems: remarks on the dominat…”, Innovation, 2022, bit.ly/3o7eov2.

[4] Chung, V. et al., “Ecosystem 2.0: Climbing to the next level”, McK, 2020, https://mck.co/3mHEDI3.

[5] Cusumano, M. A. et al., “The future of platforms.” MITSMR 2020, pág. 26, bit.ly/3odpjn4.

[6] Özcan, L. et al., “Why do digital platforms succeed or fail? A literature review…”, 28th ACIS, 2022, bit.ly/43UjACS,

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Este é o 19° de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar

23 anotações sobre 2023 [xviii]

Este é o 18° de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar

23 anotações sobre 2023 [xvii]

Este é o 17° de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar

23 anotações sobre 2023 [xvi]

Este é o 16° de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar

23 anotações sobre 2023 [xv]

Este é o 15° de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar

23 anotações sobre 2023 [xiv]

Este é o décimo quarto de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se

23 anotações sobre 2023 [xiii]

Este é o décimo terceiro de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se

23 anotações sobre 2023 [xii]

Este é o décimo segundo de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se

23 anotações sobre 2023 [xi]

Este é o décimo primeiro de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se

23 anotações sobre 2023 [x]

Este é o décimo de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar

23 anotações sobre 2023 [ix]

Este é o nono de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar

23 anotações sobre 2023 [viii]

Este é o oitavo de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar

23 anotações sobre 2023 [vii]

Este é o sétimo de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar

23 anotações sobre 2023 [vi]

Este é o sexto de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar

23 anotações sobre 2023 [v]

Este é o quinto de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar

23 anotações sobre 2023 [iv]

Este é o quarto de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar

23 anotações sobre 2023 [iii]

Este é o terceiro de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar

23 anotações sobre 2023 [ii]

Este é o segundo de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar

23 anotações sobre 2023 [i]

Esta é uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar digno de nota,

Efeitos de Rede e Ecossistemas Figitais [ii]

Uma série, aqui no blog [o primeiro texto está em… bit.ly/3zkj5EE, o segundo em bit.ly/3sWWI4E, o terceiro em bit.ly/3ycYbX6, o quarto em… bit.ly/3ycyDtd, o quinto

Efeitos de Rede e Ecossistemas Figitais [i]

Uma série, aqui no blog [o primeiro texto está em… bit.ly/3zkj5EE, o segundo em bit.ly/3sWWI4E, o terceiro em bit.ly/3ycYbX6, o quarto em… bit.ly/3ycyDtd, o quinto

O Metaverso, Discado [4]

Este é o quarto post de uma série dedicada ao metaverso. É muito melhor começar lendo o primeiro [aqui: bit.ly/3yTWa3g], que tem um link pro

O Metaverso, Discado [3]

Este é o terceiro post de uma série dedicada ao metaverso. É muito melhor começar lendo o primeiro [aqui: bit.ly/3yTWa3g], que tem um link pro

O Metaverso, Discado [2]

Este é o segundo post de uma série dedicada ao metaverso. É muito melhor ler o primeiro [aqui: bit.ly/3yTWa3g] antes de começar a ler este aqui. Se puder, vá lá, e volte aqui.

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Silvio Meira é cientista-chefe da TDS.company, professor extraordinário da CESAR.school e presidente do conselho do PortoDigital.org

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