artigo de maribel lopez na forbes tenta explicar porque a informática pós-PCs, quando estiver toda aqui, será diferente da que temos hoje. os quatro pontos de lopez [na minha tradução livre e explicações próprias] são: 1. computação deixa de ser destino [não é preciso "ir" a um PC para ter computação e comunicação] ; 2. a nuvem [de serviços] habilita mobilidade de fato [pois o "smart" na sua mão tende a se tornar um browser]; 3. a era pós-PCs acelera a destruição criativa da indústria de software [que tem que se redefinir para o novo contexto] e 4. contexto passa a ser chave para novos serviços, pois o "usuário" é bem mais do que um login [passa a ser o lugar onde está, o clima por lá, outros usuários ao redor, o prédio por onde está passando…].
só que as mudanças são estruturais e bem mais profundas do que lopez aponta. e dá para explicar toda a [r]evolução da informática nas últimas e próximas décadas usando referenciais sociais e não técnicos, o que torna o cenário bem mais fácil de entender e o deixa independente de coisas como "PC", "smart" ou "nuvem".
comece por assumir que há três referenciais nas transações entre pessoas, empresas e coisas: quando se trata com empresas, pode-se usar o balcão como referencial. as próprias pessoas são um referencial. e as coisas, o outro.
olhando para as empresas [ou instituições, de forma mais geral] a informática de que fazemos uso quando nos relacionamos com elas pode estar do lado de lá do balcão, o que se dá quando a pessoa que nos atende não faz uso de informática. ela pode tomar notas num formulário e depois, talvez, usar alguma informática para capturar e processar tais dados. a informática pode estar no balcão [pense nos caixas de banco e supermercados…] e, por fim, pode estar do lado de cá do balcão. porque o PC do executivo e secretária são instâncias desta "geração" da informática, assim como o ATM [o caixa eletrônico] e o PC nas casas, conectado à internet: ele é a frente, o "meu" terminal de um grande sistema de informação em rede [a internet], que habilita o uso, no meu PC, de funções que são externas a ele.
se as pessoas são o referencial, há duas alternativas: informática com você, como seu laptop e celular ou smart, ou informática em você, como seria o caso de um implante coclear ou de implantes cerebrais para tratar o mal de parkinson. com você explica coisas sofisticadas como body area networks [BAN], redes no seu corpo, que podem fazer com que seu smart interaja com o tênis e a camisa, mais o boné. é provável que alguns dos sistemas informacionais em você também façam parte destas redes, tornando diagnósticos mais simples e efetivos e criando novas possibilidades de ação externa sobre instrumentos instalados em você. ou em mim, não pense que não vou ter umas coisas destas no meu corpo…
quando as coisas são o referencial, podemos pensar em informática pras coisas [sistemas de informação que representam itens de um estoque, por exemplo], ou informática nas coisas, para o que o código de barras em latas de ervilha é o exemplo mais elementar. mas pense em chips nos produtos e suas embalagens, e comunicação usando tecnologias como NFC e MQTT para muito curta e qualquer distância, respectivamente. agora… imagine "conversar" com o selo da casca da banana e descobrir [pois ele media seu acesso à informação sobre aquela banana específica] de onde a fruta vem, desde quando está a caminho e por onde e com quem andou até chegar à sua mesa. breve, numa casca de banana [e sistemas de informação] perto de você.
por fim, as coisas, propriamente ditas, podem ser informática, entendidas como a combinação de capacidades computacionais, de comunicação e controle. robôs são o exemplo típico e é sempre bom lembrar que a roboCup tem por objetivo, até 2050, criar um time de robôs hominídeos capazes de disputar uma partida, de igual para igual, com a seleção humana campeã do mundo. quem viver, verá.
resumo? as gerações da informática são, ao mesmo tempo: antes, no e depois do balcão; com e em você e pras, nas e as coisas.
o que estamos vivendo agora? visivelmente, no e depois do balcão estão aqui, sustentados por antes, que hoje é a tal da nuvem. informática conosco está na ordem do dia, em larga escala, de laptops a smarts, passando por câmeras digitais. em cada um… bem, isso está começando a mostrar sinais aqui e ali, mas vai levar muito tempo até que você possa ir a um camelô e comprar um olho biônico, como em blade runner. sistemas de informação pras coisas estão aí há tempos e são quase universais; informática nas coisas ainda tem muito a avançar, partindo dos códigos de barras e, finalmente, as coisas se tornando informática, elas mesmas, é um horizonte de longo prazo. ou não: viu roomba, o aspirador de pó robótico? ou o carro sem motorista de google? ou o anúncio da foxconn sobre a instalação de um milhão de robôs nas suas fábricas?…
como você vê, a tal da era pós-PCs ainda vai ficar muito animada. lembrete: se seu trabalho não envolve criação ou resolução de problemas complexos, você vai ser substituído por um robô [ou por software] nas próximas décadas. por problema complexo, entenda algo mais elaborado do que resolver o cubo de rubik, coisa que o brinquedo abaixo faz em tempo muito abaixo do recorde mundial humano. vá ver…