como investir, em rede, para criar novos negócios no brasil?

Tentar replicar um contexto de negócios de um lugar em outro é algo quase sempre irrealizável. é só olhar para as tentativas de fazer com que o brasil [ou partes dele, ou partes da américa latina ou qualquer outro lugar] se pareçam com o silicon valley, como relata este texto de juan pablo capello no TNW. o brasil –nenhuma parte dele- é a califórnia, nem vai ser, pouco importa a quantidade de filmes que se veja sobre o ambiente para negócios inovadores nos EUA e histórias de sucessos [quase nunca as de fracassos, já notou?] que se leia e releia. parte do problema do ambiente para novos negócios, no brasil, é que experimentamos pouco. por isso que é importante olhar para as exceções, aqui, e estudá-las com cuidado, ao invés de pular de cabeça num bbom qualquer, como se fosse a salvação [pessoal] no mercado. isso, claro, não existe. e quem entra numa destas coisas sabe que está numa roubada, e mesmo assim vai com a manada, apesar de todas as evidências de que a coisa vai dar errado.

o brasil precisa de educação empreendedora de amplo espectro, e isso passa pela existência de oportunidades de envolvimento de cada vez mais atores no processo real de criação de novos negócios inovadores de crescimento empreendedor, que são as propostas de valor que têm risco, alto talvez, mas que são legítimas e têm por objetivo resolver problemas reais, no mercado, atendendo às necessidades de pessoas e empresas, gerando benefícios e custos e procurando capturar, pra elas, uma parte do valor.

uma das possibilidades de articular o processo de crescimento de novos negócios que não existia no brasil até pouco tempo é equity crowdfunding, modalidade de financiamento coletivo que habilita a captação de recursos por empreendedores com ideias inovadoras, por meio da internet, de investidores que acreditem nos projetos, oferecendo, em troca, uma participação societária nos negócios. pense numa bolsa de valores virtual, mas com você se envolvendo diretamente como sócio de um novo negócio. daí o nome da coisa: eusocio.com.

mundo afora, esta modalidade de captação de investimentos já foi implementada com sucesso na inglaterra, suécia, holanda, polônia, chile e israel e encontra-se em fase de implementação nos EUA, itália e em diversos outros países. pode ser que equity crowdfunding venha a ser uma boa alternativa para viabilizar a realização de ofertas públicas de participações em startups brasileiras, que têm uma grande dificuldade de acesso ao mercado de capitais, pois os custos de atender às regras da comissão de valores mobiliários, a CVM, para companhias abertas, são muito elevados.

pra explicar o que é equity crowdfunding e como a coisa pode funcionar no país, o blog entrevistou joão falcão, um dos empreendedores da plataforma. a conversa tá nos parágrafos seguintes. se você for um startup, leia com atenção. se você estiver na condição de investidor em potencial em novos negócios inovadores, leia com muito mais atenção, mais de uma vez. o brasil só vai ter muitos novos e inovadores negócios quando um bom número de agentes, empreendedores e investidores, se der conta do que é o risco empreendedor e se preparar para participar dele como tal. as respostas de JF ao blog estão publicadas ipsis litteris, como recebidas por emeio.

blog: qual o conceito por trás do eusocio?

JF: A plataforma Eusocio é um ambiente virtual que aproxima empreendedores e investidores, viabilizando a realização de investimento coletivo online (ou equity crowdfunding) em empresas de micro e pequeno porte fundadas no Brasil.

Para os empreendedores, a plataforma oferece a possibilidade de i) estabelecer um canal de comunicação com potenciais investidores, ii) oferecer aos investidores a possibilidade de investir no negócio, e iii) captar investimentos sem sair de sua base. É a possibilidade de se conectar com inúmeros investidores ao mesmo tempo para captar recursos online, em conformidade com a legislação e regulamentação que rege o mercado de capitais brasileiro.

Para os investidores, a plataforma oferece a possibilidade de i) entrar em contato com novos empreendedores brasileiros, ii) conhecer novas oportunidades de investimento em empresas emergentes e (iii) promover a diversificação de sua carteira de investimentos por meio do investimento em startups sem sair de casa. É a possibilidade de participar do mercado de capital de risco (venture capital) por meio do investimento em startups, estimulando a atividade produtiva e o desenvolvimento da economia do país.

blog: talvez o maior desafio para o eusocio seja o  jurídico-legal, em função da regulamentação e fiscalização da CVM. Como vocês tratam essa questão?

JF: Exatamente. Há dois anos que estamos estudando a legislação brasileira e nos adequando integralmente a ela, cumprindo todos os passos para implementar a primeira plataforma de equity crowdfunding no Brasil.

Nesse processo tivemos ajuda de Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados, que também estavam interessados em equity crowdfunding. Desde que eles entraram no processo, estamos em contato periódico e direto com a CVM. No início deste ano estivemos na CVM para explicar e validar nosso entendimento em relação aos caminhos legais a serem adotados pelo Eusocio. A CVM já compreendeu o modelo e nos desejou boa sorte.

blog: como foi essa primeira conversa com a CVM?

JF: Explicamos que nossa estratégia é de pequenos passos. Não queremos causar nenhuma surpresa para o mercado. Precisamos ser compreendidos e tomar todos os cuidados. O investidor precisa saber que trata-se de um ambiente de risco, por exemplo. O diálogo com a CVM tem sido ótimo e me parece que eles querem ver ativado esse mecanismo, constante de uma regulamentação CVM de 2010, que prevê o financiamento à micro e pequena empresa no Brasil.

blog: e quais são as principais regras da parada?

JF: O procedimento para captação na plataforma Eusocio é bastante simples. Entretanto, para que as ofertas ocorram com êxito e de maneira a gerar o maior valor agregado para suas startups, os empreendedores deverão estar atentos a certos procedimentos para a elaboração de cada pitch [nota do blog: um pitch é
a explicação verbal do modelo de negócios de um empreendimento]. As regras e procedimentos para elaboração do pitch estão no Edital Eusocio, disponível para download em nosso site.

Em linhas gerais, os pitches a serem divulgados na plataforma Eusocio deverão observar os seguintes limites máximos de captação: R$2.400M (dois milhões e quatrocentos mil reais) ou a diferença entre R$2.400M e montantes captados em outras ofertas de valores mobiliários que a startup tenha realizado nos 12 (doze) meses anteriores à data de início da oferta.

E, pelos serviços de divulgação do pitch na plataforma, ao final da realização da captação, se bem sucedida, a startup deverá comissionar Eusocio com 5% (cinco por cento) do montante total subscrito e integralizado pelos investidores por meio de sua oferta na plataforma.

blog: pra quem ainda vive nos tempos em que segredo era a alma dos negócios, como garantir que ninguém irá copiar a ideia que o empreendedor publicar no Eusocio?

JF: A plataforma Eusocio não é para ideias, é para empresas. É preciso ter CNPJ, time constituído, plano de negócios e projeções financeiras.

Um dos segredos de um financiamento bem sucedido é estar bem preparado. Os empreendedores precisam se assegurar que no seu pitch estarão presentes dois elementos-chave: 1) plano de negócios e 2) previsão financeira.

Criar um bom vídeo com o pitch e espalhar a notícia também são essenciais para que você alcance sua meta de investimento. Nenhum investidor sério irá investir sem antes ter uma boa compreensão do negócio.

blog: e o desenvolvimento da plataforma que vai habilitar esta conversa entre os lados, os empreendedores e investidores, como anda?

JF: Nosso modelo será baseado na plataforma crowdcube.com. Fechamos uma parceria com esse grupo (que é inglês), para uso e transferência da tecnologia para o Brasil. Eles foram pioneiros colocando, em Maio de 2011, a primeira plataforma do gênero no ar. Há dois anos eles têm investido muito na evolução tecnológica da plataforma, adicionando novas funcionalidades e melhor experiência de uso.

Nós também teremos tutoriais para informação e formação dos empreendedores e investidores do ecossistema. O DNA da Eusocio tem viés educativo e nós sabemos que estamos participando do processo de amadurecimento e crescimento de todos os atores envolvidos (nós inclusive).

blog: vi que o site está no ar, mas não vi plataforma funcionando…

JF: Pois é, a plataforma deve ser ativada em setembro quando publicarmos os 3 primeiros pitches. Nós acabamos de divulgar (lá no site) o Edital Eusocio com as regras e procedimentos para empreendedores que estejam captando investimento.

A versão do site que está no ar fez um ano este mês. Trata-se apenas de um hotsite, com uma página teaser. Há um ano, publicamos ali um cadastro básico para início de um mailling list qualificado, com pessoas que estivessem de fato interessadas pelo tema de equity crowdfunding no Brasil. Colocamos essa página no ar, com o cadastro, para sentir se havia público interessado no tema. Não fizemos qualquer divulgação mas, mesmo assim recebemos cadastros de pessoas do Brasil inteiro ao longo do último ano. Concluímos que a oportunidade existe. Por isso publicamos o Edital Eusocio.

blog: algum empreendedor se interessou? quando veremos os primeiros pitches online?

JF: A resposta dos empreendedores é positiva e esperamos publicar os primeiros pitches em Setembro. Nossos advogados estão ajudando os primeiros interessados a entender o Edital e preencher os requisitos legais para publicação no Eusocio. Também estamos organizando um webinar para esclarecer as dúvidas e receber perguntas em relação ao Edital Eusocio. Para participar basta se cadastrar no site. Queremos divulgar ao máximo. Já conversamos com a turma do Porto Digital, em Recife, bem como com os empreendedores do Centro de Informática da UFPE. No Rio, estivemos duas vezes com o Instituto Gênesis, da PUC. Também fomos a São Paulo e Manaus, com diferentes grupos de empreendedores. Queremos ir a Minas, conversar com a turma da UFMG. E também aos pólos do Sul, como Florianópolis e Porto Alegre.

blog: qualquer um poderá investir através do Eusocio?

JF: Somente aqueles que compreenderem a dinâmica do mercado de capital de risco. Investir em empresas startup e em estágio inicial envolve riscos, incluindo a falta de liquidez e dividendos, perda ou diluição do investimento e, portanto, deve ser realizado apenas como parte de uma carteira diversificada. Eusocio se destina exclusivamente a investidores que são suficientemente sofisticados para entender esses riscos e tomar suas próprias decisões sobre investimentos. Para se cadastrar como investidor é preciso responder a um questionário com perguntas específicas sobre capital de risco.

A plataforma Eusocio recomenda que após a liquidação das ofertas, as startups adotem regras claras e objetivas para divulgação de informações aos novos sócios, criando uma política de comunicação e relacionamento transparente e aberta com as partes interessadas.

blog: qual a saída para os investidores? como ganham com, ou negociam, ações?

JF: As ações das empresas que captarem pelo Eusocio estarão escrituradas. Neste caso, o investidor poderá receber dividendos e/ou negociá-las no âmbito privado.

blog: qual o diferencial do Eusocio em relação às outras alternativas do mercado, como investimento anjo e semente, fundos estatais, bancos?…

JF: Eusocio vem para somar. Acreditamos que a plataforma é mais uma opção no ecossistema. É um caminho que aproxima empreendedores que não estejam nos grandes centros, como São Paulo. No Eusocio você pode captar recursos sem sair do escritório, da operação da empresa. No mais, trabalhamos para que o Eusocio seja uma opção mais simples, menos burocrática e mais rápida do que os editais públicos, por exemplo. E mais barata e menos arriscada, para os empreendedores, do que tomar recursos emprestados no setor financeiro. E bem mais participativa do que investimentos em fundos (por exemplo), para os investidores.

blog: pra terminar, quem são os sócios do Eusocio?

Somos um grupo de empreendedores brasileiros com experiência internacional em áreas como design, tecnologia, estratégia, marketing, desenvolvimento de negócios, finanças e direito. Nosso CV de um parágrafo está abaixo…

João Falcão: Formado pela Faculdade de Direito da PUC-Rio, tem MBA pela Fundação Getúlio Vargas e Mestrado em Direito (LL.M) pela Harvard University. Trabalhou como advogado na BM&A e foi Secretário de Cultura e Turismo de Olinda (PE). Atuou como Diretor-Executivo no Porto Digital e na Oestudio.

Alberto Colares: Tem formação em Design e Tecnologia pela Fundação Mineira de Arte (ESAP/FUMA). Possui entre seus empreendimentos os projetos Tynus Web Developers, Coddart Digital by Design, Kinobox e Zunnit. E atuou com pesquisa, inovação e desenvolvimento no Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG, tendo experiência com as tecnologias da Miner e Akwan.

Rafael Vasconcellos: Formado em Engenharia de Produção pela UFRJ, Mestrado em Finanças e Economia pela FGV e MBA pela UC Berkeley. Acumulou 12 anos de experiência em grandes organizações do setor de serviços financeiros, atuando em gerenciamento de risco, desenvolvimento e gerenciamento de produtos, vendas, marketing, finanças e inovação. É membro do TED Internacional e CoOrganizador do TEDx Amazônia.

Ana Paula Pessoa: Bacharel em Economia e Relações Internacionais pela Stanford University, onde também se diplomou Mestre e PhD. Foi Diretora Executiva no PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), no Banco Mundial e no Banco Interamericano de Desenvolvimento. Trabalhou na NET/Globopar, na SKY, na Webb Negócios On Line. E foi CFO (Chief Financial Officer) na Inflogobo. Atualmente no Conselho Executivo do Valor Econômico, Zap, Busk e da Fundação Roberto Marinho, leciona Economia nas Universidades Stanford-Florence e PUC-Rio.

* * *

pra quem tiver perguntas pra galera do eusocio, é só passar na páginas deles no faceBook, que a turma garante reagir rápido. e boa sorte a todos os envolvidos: os empreendedores, investidores e ao pessoal da plataforma. precisamos fazer mais coisas como esta no brasil, e tomando todos os cuidados que estão sendo tomados no caso, mostrando a todos que não se trata de mais uma operação mágica, capaz de gerar ganhos a partir do nada, sem esforço.

empreender dá trabalho e investir nos empreendimento de terceiros dá muito trabalho. quando as redes capazes de fazer o trabalho gerar resultados se formam e funcionam, o trabalho, muito, de todos, dá resultado. é isso que eusocio quer fazer, pelo que se vê. tomara que dê certo, pra muita gente.

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Silvio Meira é cientista-chefe da TDS.company, professor extraordinário da CESAR.school e presidente do conselho do PortoDigital.org

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