Este é o décimo de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar digno de nota, nos próximos meses e poucos anos. Como há uma tradição de, no fim do ano, pensar sobre as possibilidades do ano que vem, o título fala de… 23 anotações sobre 2023. O primeiro texto [Guerra. Eterna?] está no link bit.ly/3B0mysO, o segundo [Inflação. Recessão? E Investimento?] em… bit.ly/3ir4PUR, o terceiro [Energia e Descarbonização] em… bit.ly/3gUdD5w, o quarto [Sociedade & Política], em bit.ly/3FrM50P, o quinto [Pessoas & Costumes] em… bit.ly/3H7CAFb, o sexto [Plataformas & Ecossistemas], em bit.ly/3VEcxK3, o sétimo [Efeitos de Rede, Escala e Sustentabilidade]. em bit.ly/3BjJUK1, o oitavo [O Mundo é Figital], em bit.ly/3FEmMJ2 e o nono [Marketing é Estratégia, Figital], em bit.ly/3FfDJrI.
5G & Internet das Coisas
A história das comunicações móveis [bit.ly/3FB7fIL] pode ser dividida em gerações, cada uma delas representando avanços significativos na tecnologia, seus usos e impactos. A primeira geração [1G] é do início da década de 1980 e permitia apenas transmissão de voz e alguns dados básicos, como mensagens de texto. 2G marca a chegada da comunicação digital nos anos 1990, com dados em velocidades que hoje não possibilitam nem navegação básica na internet… mas foi quando apareceram serviços como SMS. A terceira geração [3G] elevou dados pra região dos megabit por segundo, permitindo acesso à internet em dispositivos móveis no começo dos anos 2000.
Nos anos 2010, 4G veio a ser a primeira geracão de comunicação móvel projetada para dados em primeiro lugar, com voz -e a antiga noção de “telefone”- se transformando numa aplicação sobre as camadas de computação e comunicação da, agora, plataforma de mobilidade pessoal. Lembre que é já na segunda metade dos anos 2000 que surgem os smartphones, mudando como as pessoas se conectam e como as empresas criam e operam serviços para elas. Em 4G apareceu o suporte efetivo para aplicações com alta demanda de fluxos de dados bidirecionais, como streaming de vídeo para conferências.
5G é a geração que está chegando agora em todo mundo, e oferece ganhos significativos em velocidade, latência e capacidade de conexão simultânea, abrindo caminho para novas aplicações em áreas como realidade aumentada e virtual, a internet das coisas e sistemas de monitoramento em tempo real em larga escala, indústria 4.0, cidades inteligentes e mobilidade autônoma.
Mas o principal impacto de conectividade 5G não é no smartphone que está na sua mão, nem na conectividade da casa ou escritório, fábrica ou comunidade. É nas coisas. Claro que as vantagens de 5G incluem velocidades de download e upload mais rápidas, latência mais baixa, mas o fundamental é a gigantesca capacidade de conexão simultânea de dispositivos, que possibilita a conexão de até um milhão de objetos por quilômetro quadrado [bit.ly/3W2j4hw]. E isso vai mudar tanta coisa ao nosso redor que é até difícil descrever as possibilidades. Mas vamos lá.
Um caso-base para tecnologia 5G e coisas conectadas, em mobilidade, são veículos autônomos. A velocidade, latência e capacidade de conexão de 5G habilitaria sistemas de comunicação de alta confiabilidade entre veículos e a infraestrutura figital de trânsito, permitindo que os veículos se comuniquem e se coordenem em tempo real. Isso pode diminuir o custo dos veículos [transferindo boa parte da capacidade computacional para a nuvem], melhorar a segurança do tráfego e tornar a mobilidade autônoma uma realidade mais ampla, mais rápido, para muito mais gente em muito mais lugares. Mas essa aplicação ainda está em desenvolvimento e pode variar dependendo do uso e implementação da tecnologia 5G em diferentes áreas.
Noutro cenário, 5G em saúde pode levar à criação de sistemas de telemedicina de alta qualidade, tratando imagens de alta resolução e sinais vitais, permitindo diagnóstico e tratamento remoto. Isso pode melhorar o acesso a cuidados de saúde em áreas remotas ou de difícil acesso, e tornar a telemedicina uma opção viável em muitas situações.
O impacto econômico de 5G não vai se dar de uma hora pra outra. Como toda a infraestrutura tem que ser instalada, ainda, e como os negócios ainda têm que aprender a usar os serviços associados, como os modelos de negócios ainda terão que passar pelo crivo da realidade… vai levar um certo tempo até que as fichas todas caiam. É bom ficar ligado que, em um dos cenários, o impacto anual de 5G na economia global, em 2035, seria de USS13,2 trilhões por ano [bit.ly/3HqF9Cw]. Pra comparar, isso dá, dependendo da medida, entre 7 a 10 PIBs do Brasil. É muito. E mais de 1/3 desse verdadeiro choque, pelo mesmo cenário, vai acontecer na indústria… e na transformação de produtos em serviços. Como?…
As coisas, conectadas, têm pelo menos dez propriedades [bit.ly/3Ff3JDD] que não estão associadas, hoje, ao seu fogão, moedor de café e fechadura da porta: [1] são identificáveis e endereçáveis, estão em rede; [2] são programáveis, mesmo as mais rudimentares; [3] têm memória, [4] sensores, pra capturar sinais ao seu redor, podem ter [5] atuadores, para agir sobre seu ambiente, [6] são rastreáveis, podemos saber onde estão e por onde estiveram… [7] podem estabelecer conexões com outras coisas, pessoas e organizações, assim como [8] relacionamentos, para formar redes, grupos, comunidades, onde poderão realizar [9] interações com outros agentes aos quais podem se [10] associar, para realizar tarefas mais complexas do que uma única coisa poderia.
Tudo isso pode servir para muita coisa… ou nada. Imagine que a indústria [no sentido dos fabricantes de coisas] não faz nada com esse potencial. Nada, aqui, é nem criar os soquetes, concretos e abstratos, pra que a gente possa “plugar” as coisas na rede. Sem isso, o potencial de uma coisa conectada é só um… potencial. Mas… imagine que a indústria começa a entender o potencial de negócios da internet das coisas e se prepara para criar gêmeos digitais de um monte de… “coisa”.
Um gêmeo digital é uma representação digital de um objeto ou sistema físico. É um modelo virtual de um produto, processo ou serviço, que pode ser utilizado para simulação, análise, previsão e otimização de performance. Na indústria, já são usados para melhorar design e operação de produtos, processos e serviços, permitindo que as empresas testem e avaliem diferentes cenários e tomem decisões baseadas em dados.
Mas um gêmeo digital de um produto pode ser usado não só para prever seu desempenho e identificar possíveis problemas antes dele ser construído, mas para agregar camadas de serviço aos produtos, o que poderia fazer com que, por exemplo, seu ar-condicionado esteja permanentemente em contato com a fábrica e que problemas de operação possam ser detectados e tratados em tempo real, com o serviço de manutenção preventiva ou corretiva acionado sem nenhuma intervenção sua. Imagine as consequências -para as redes de valor, como um todo- de “produtos que têm conexões, relacionamentos e interações com a fábrica”, onde esta, a seu critério e através do produto, pode interagir direta e continuamente como o proprietário [aliás, o usuário!…] sem qualquer mediação do que hoje costumamos chamar de varejo.
Olhando pra um cenário que já discutimos aqui [o nono post da série, “Marketing é Estratégia, Figital”, em bit.ly/3FfDJrI], os impactos são imensos: pra começar, a internet das coisas e produtos como serviços, pelos cenários descritos até aqui, têm o potencial de encerrar mais um grande debate do marketing [bit.ly/3iVpmB9]… porque, cada vez mais, e mais inevitavelmente… todo o marketing se tornará mais parecido com a área especializada que antigamente chamávamos de marketing de serviços… [e serviço, agora, figital].
Agora imagine as fábricas processando, mentalmente, os axiomas da lógica [de mercado e marketing] dominante em serviços [bit.ly/3W34MOh]: [1] serviço é a base fundamental de todas as trocas; [2] valor é uma cocriação coletiva, sempre incluindo os beneficiários; [3] cocriação de valor existe numa rede de arranjos institucionais; [4] valor é sempre e ultimamente determinado pelo beneficiário e [5] todos os atores são integradores de recursos. Não vai ser fácil. De jeito nenhum.
Se a transformação de finanças e varejo, por exemplo, está demorando mais de um quarto de século e tendo o impacto que estamos observando, com instituições que existem há décadas [muitas, há séculos] sendo abaladas, e muitas delas destruídas pela transformação digital -sim, apenas pela introdução da dimensão digital do espaço figital [bit.ly/futurosfigitais] na demanda por suas performances, imagine 5G e internet das coisas, fazendo chegar simultaneamente, na indústria, as demandas por performances nas dimensões digital e social. É disso mesmo que vamos falar no próximo texto desta série. Até lá.