23 anotações sobre 2023 [xxii]

Este é o 22° de uma série de textos curtos, de uns poucos parágrafos e alguns links, sobre o que pode acontecer, ou se tornar digno de nota, nos próximos meses e poucos anos. Como há uma tradição de, no fim do ano, pensar sobre as possibilidades do ano que vem, o título fala de… 23 anotações sobre 2023. O texto [Guerra. Eterna?] está no link bit.ly/3B0mysO, o [Inflação. Recessão? E Investimento?] em… bit.ly/3ir4PUR, o [Energia e Descarbonização] em… bit.ly/3gUdD5w, o [Sociedade & Política] em bit.ly/3FrM50P, o [Pessoas & Costumes] em… bit.ly/3H7CAFb, o [Plataformas & Ecossistemas] em bit.ly/3VEcxK3, o [Efeitos de Rede, Escala e Sustentabilidade] em bit.ly/3BjJUK1, o [O Mundo é Figital] em bit.ly/3FEmMJ2, o [Marketing é Estratégia, Figital] em bit.ly/3FfDJrI, o 10° [5G & Internet das Coisas] em bit.ly/3W8yVLC, o 11° [Indústria… 4.0?] em bit.ly/3BpZuUK, o 12° [Inteligência Artificial e Grandes Algoritmos] no link bit.ly/3FJMKdS, o 13° [DADOS, Análises e DECISÕES] em bit.ly/3VXR678, o 14° [BLOCKCHAIN e aplicações] no link… bit.ly/3BAEMBy, o 15° [SEGURANÇA de Informação] em bit.ly/3j0yjct, o 16° [Destruição Criativa, xTech… & Mídia] em bit.ly/3Ysy3Dq, o 17°, [VAREJO, FIGITAL], no link… bit.ly/3Yu0LE3, o 18°, [METAVERSO, pra quê?], em bit.ly/3j7Zr9z, o 19° [Educação & Aprendizado: em Transformação] em bit.ly/3jfMmv3, o 20° [Trabalho, Emprego & Escritório], em bit.ly/3vaf9Ux e o 21° [Regulação & regTech], em bit.ly/3ViEJkW.

Ciência, Tecnologia & Inovação

Um dos horrores da história universal é o genocídio de cientistas, professores, intelectuais, monges budistas, minorias étnicas e, de resto, pessoas letradas, promovido por Pol Pot no Cambodja [bit.ly/3hPQ1iL, bit.ly/3Gckelo, bit.ly/3GfglfB], numa tentativa delirante de criar uma sociedade agrária a partir de 1975. Todos que falassem um idioma estrangeiro eram presos. A morte era quase certa, no caso. As instalações educacionais foram completamente destruídas e aproximadamente 75% dos professores do ensino superior e 96% dos estudantes universitários foram assassinados. Dos 21.000 professores do ensino médio em 1975, cerca de 3.000 sobreviviam em 1979. O Camboja tinha 5.275 escolas primárias, 146 secundárias e 9 instituições de ensino superior em 1975, mas 90 por cento delas e todos os seus documentos foram completamente destruídos. Um movimento movido a certezas, que matou 1,7 milhões de pessoas em um país que tinha, à época, 7,5 milhões de habitantes.

Ao invés de certezas e dogmas, ciência é movida a dúvidas.

Na Revolução Cultural chinesa [iniciada em 1966, bit.ly/302G9Fl, bit.ly/3Gg9Wki], Mao e o partido incitaram alunos a desafiar e atacar a autoridade escolar e os professores; a violência em massa se espalhou pelos campi, professores e pesquisadores foram humilhados e espancados em público. Escolas e universidades foram fechadas, vestibulares cancelados e a violência rapidamente mudou dos campi para a sociedade em geral. O Estado instruiu as forças de segurança a ajudar a identificar famílias “reacionárias” para revista, espancamento e deportações. Mais de 10 milhões de jovens intelectuais urbanos enviados para o campo. As estimativas de mortos na “revolução” partem de centenas de milhares e chegam a dezenas de milhões. Ninguém nunca saberá ao certo. Por trás da catástrofe, a insatisfação com um “sistema”, transformada em energia puramente destrutiva, incapaz de criar qualquer futuro minimamente sustentável.

A destruição criativa é um processo de criação de futuros, não de destruição deles.

O Cambodja nunca se recuperou. A China, depois de dez anos de caos, negou a revolução cultural em 1981 e iniciou o caminho de décadas para ser o que é hoje, não sem ter perdido, em uma década, em muitas áreas de desenvolvimento científico, tecnológico, econômico, social e humano, de uma a cinco décadas.

A China, hoje, investe de forma massiva em ciência, tecnologia e inovação de classe mundial porque entende -há décadas- que não é se tornando a fazenda e mina do mundo que mudará o padrão de vida de seus cidadãos. Em 2008, a China investiu 1/3 dos recursos dos EUA [em paridade de compra] em pesquisa e desenvolvimento [P&D] e 1/2 da Europa. Em 2014, ultrapassou a Europa e em 2020, já era equivalente a 85% dos EUA [econ.st/3Gc0SNo].

Os últimos 4 anos marcaram o período mais difícil da ciência, tecnologia e inovação no Brasil.

Sob muitos aspectos, muito pior do que na ditadura militar. Nos últimos 4 anos, perdemos muito mais do que uma década. Políticas, estratégias, instituições, organizações, evasão de professores, pesquisadores e alunos, colapso de programas e investimentos estruturais que levamos décadas inteiras para construir simplesmente jogadas fora, tratadas como ameaças ao presente e ao futuro do país, enquanto os cientistas eram não só desconsiderados, mas efetivamente abandonados à própria sorte, junto com todo o ecossistema nacional de ciência, tecnologia e inovação [CTI]. Reconstruir vai ser um longo, complexo e profundo trabalho: na prática, investimos em CTI, hoje, um quinto ou menos do que há 10 anos.

A tentativa de destruição da base educacional e de ciência e inovação brasileiras, em todos os níveis, combinada com a acelerada reprimarização da economia… lembra o Khmer Rouge e Kampuchea [bit.ly/3WkmhJU]. E não por acaso: houve um esforço liderado de dentro do Estado, por quem se dizia contra o comunismo, agindo como comunistas radicais do Khmer Rouge e Revolução Cultural, atacando um “comunismo” inexistente nos centros de educação, ciência, tecnologia e inovação do país.

A comunidade acadêmica brasileira tem problemas, como todas, de todo mundo; e, na sociedade, não é a única comunidade a ter problemas: me mostre uma que não tem.

Aqui, como em qualquer lugar, uma boa parte dos problemas da academia se deve ao regime de incentivos à qual está sujeita. Talvez, pior, ao regime de falta de incentivos que a comunidade ajudou a criar e manter e ao qual se sujeitou [que vai de isonomia de cargos e salários às bolsas de pesquisa e muito mais].

Isso levou CTI a se tornar periférica numa economia e sociedade que precisa se inserir na era do conhecimento e que, para tal, depende de CTI no centro das atenções e como base para as soluções que tornariam o país muito mais competitivo, o trabalho muito mais interessante e produtivo, o emprego muito mais bem remunerado.

O mundo está mudando, rapidamente, desde a Segunda Guerra, e boa parte das fundações para o sistema de educação superior e CTI [ECTI] até os anos 1940 começou a mudar muito desde então. A carta de Vannevar Bush [“Science, The Endless Frontier”, 1945, no link bit.ly/3HnhWyz], que guiou o sistema de ECTI até a década de 1980 já chegou atrasada, pois era uma sistematização do que havia funcionado [muito bem] na Segunda Guerra.

O modelo sobreviveu [e na periferia do mundo, sobrevive] há décadas, com o desenho das relações entre governo, academia e indústria tomando a forma de uma tripla hélice, dada por Leydesdorff e Etzkowitz logo depois da chegada de internet comercial [em 1996, veja no link bit.ly/3nk3DTk]. Até hoje há quem tente [muita gente!] fazer as três hélices funcionarem, sem saber que elas são pelo menos seis: a indústria [além do sentido de fábricas, veja em Marketing é Estratégia, Figital, nesta série, bit.ly/3FfDJrI] da definição original virando mercado e mais os usuários, os empreendedores e os investidores.

No Brasil, por sinal, as três hélices nunca funcionaram [em escala]. E ainda há quem, hoje e muito atrasado, esteja tentando fazer funcionar aqui o que já não funciona mais em lugar nenhum. Um dos grandes problemas do Brasil é que aqui se lê pouco, do que se lê se entende ainda menos, e do que se copia, a partir do pouco que se entende, se faz mal, atrasado, subfinanciado e intermitente.

Em tal contexto, não é à toa que, em 2001, commodities eram 37,4% das exportações brasileiras; em 2009 elas eram mais da metade [54,5%] e, em 2021, chegaram a 69,7% da pauta exportadora [veja glo.bo/3pjNL30]. Em plena era do conhecimento, o Brasil exporta ferro, óleo, soja e carne, fontes de desmatamento, incêndios florestais, destruição de ecossistemas e secas, escassez de água [que vira soja e boi] e de eletricidade. Taí um projeto de país sem futuro.

O futuro do mundo não vai esperar pelo Brasil do presente. Nunca esperou. Muito menos pela universidade e ciência brasileiras, no estado em que estão. Se o universo -pra não dizer mercado- no qual a academia atuava já vinha se tornando cada vez mais complexo desde o fim da Segunda Guerra, as coisas iriam ficar ainda mais fluidas e rápidas com a transformação do espaço competitivo pelas redes digitais.

Mas a academia brasileira, formada em boa parte nas universidades americanas e européias, vem estreitando [muito lentamente] relacionamentos com empresas [a “indústria” de Vannevar Bush…], criando escritórios de patentes para proteger [mais do que empreender] os resultados da pesquisa e estabelecendo programas de empreendedorismo [de pouca efetividade] para professores e alunos, o que alguns acusam de tratar a universidade como se fosse um negócio.

No Brasil, mais de 2/3 do complexo de ECTI é estatal. Parte significativa disso, federal. Aí… podemos passar o resto da vida discutindo se ciência -e universidade- é negócio ou não. Deve-se concordar que órgãos de estado têm que se comportar como negócios pelo menos do ponto de vista de que os recursos para que funcionem e o tempo para que obtenham resultados não são infinitos, para um conjunto finito e determinado problemas a resolver, soluções desejadas, de objetivos e metas. E não se trata da teoria que explica piões girando… [veja em bit.ly/3pqrdh5] mas de aritmética elementar.

Antes de saltar a conclusões apressadas, é preciso ler The Usefulness of Useless Knowledge [de 1939, veja bit.ly/3rzyRIH], o fantástico texto de Abraham Flexner, fundador do Institute for Advanced Study em Princeton, casa de Albert Einstein, Kurt Gödel e John von Neumann, só para citar três de seus pesquisadores.

O problema? Muitos usam o texto de Flexner para justificar uma liberdade irrestrita para fazer qualquer coisa “científica”, por menos importante e relevante que seja. Definindo… importância é uma qualidade atribuída a algo por uma comunidade que é especialista e trata daquilo. Relevância é uma qualidade atribuída a algo por observadores [ou usuários, clientes…] externos à comunidade que faz, cuida daquilo. Há mais de 80 anos, Flexner defendia -pois não há como não defender- uma relevância intrínseca para a pesquisa científica que ataca problemas importantes cujas eventuais soluções [ainda] não são relevantes.

Nada mais óbvio. Não fora assim, não haveria teoria da relatividade [de Einstein] e os teoremas de incompletude [de Gödel; o segundo foi descoberto, independentemente, por von Neumann]. Mas aqui estamos falando de avanços fundamentais do e para o conhecimento humano, tanto quanto se pesquisar, hoje em dia, vida sintética.

Definir o que importa em pesquisa não é de decisão de cada um, só, mas em boa parte da comunidade científica da área, como um todo. E tal esforço deve ser financiado apropriadamente, dentro dos limites e recursos existentes; até porque quase sempre o relevante de amanhã é construído sobre o importante de hoje.

O problema se torna difícil de administrar quando se afrouxa o crivo de Flexner para justificar quase qualquer esforço de ensino e pesquisa. Aí passamos a ter pseudo-pesquisa de suposta importância, que não é reconhecida pela comunidade conexa como tal. Exemplo? Em termos de impacto, o Brasil passou de 29º lugar entre 48 países [com mais de 3 mil artigos publicados] em 2005 para 63º entre 73 países em 2018 [veja em bit.ly/3lSaLVN]. Trocando em miúdos, a comunidade científica internacional não avalia que a pesquisa brasileira é importante o suficiente para ser citada como referência para outros trabalhos em suas áreas. Em outras palavras, não tem importância. E, em grande parte, não tem relevância, em boa parte porque está isolada da economia e suas demandas, e da sociedade. Salvam-se, claro, as honrosas exceções à regra [como os artigos citados na entrega no Nobel de física em 2021: bit.ly/3ybLpai].

Este não é um problema intrínseco da academia e de ECTI brasileiros. É um problema sistêmico, e do Brasil como um todo. Não há, no país, um conjunto de grandes desafios nacionais, devidamente estruturado, explícito e financiado no curto, médio e longo prazos, que demanda um esforço de ECTI amplo, diverso, complexo e profundo a ponto de criar resultados [e publicações] que tenham impacto, importância e relevância global. E, enquanto não houver, e o investimento em ECTI for pontual, episódico, insuficiente, intermitente… cada pesquisador tratará de mitigar os impactos de tal contexto em sua carreira e fará o melhor possível nos laboratórios, enquanto, talvez, faça bicos em outras ocupações que pagam suas contas, como tocar, à noite, num bar [eu mesmo já fiz isso, na década de 1990; a comida e a bebida eram massa!].

Na economia do conhecimento devemos tratar ciência, tecnologia e inovação como a essência do desenvolvimento econômico e social. Qualquer política e estratégia de país, para indústria, serviços, e comércio exterior e tudo mais deve ter conhecimento e sua aplicação, na forma de políticas e estratégias de ECTI, como parte dos grandes desafios de desenvolvimento nacional, regional e local.

A articulação das competências e habilidades nacionais de ECTI em grandes desafios nacionais para mudar o grau de impacto de conhecimento na indústria, comércio, agricultura, serviços e nas funções de Estado, no Brasil, é vital para o país, para os negócios, para a cidadania e para o próprio Estado.

Inovação pode e deve ser tratada como multiplicador de oportunidades, performance, qualidade, produtividade e competitividade nacional e internacional. Foco -em poucas e grandes escolhas-, eficácia -enfrentar os desafios apropriados- e eficiência -resolver os problemas economicamente- devem ser as bases do investimento estratégico brasileiro em ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento econômico e social.

Em inovação, na e para a indústria, agricultura, serviços e comércio, aproveitar oportunidades e dar saltos de competitividade demanda entender que o futuro vem do futuro. Em tempos de mudança, de transformação das plataformas de performance industrial, de serviços, econômica e social, a melhoria do que vem sendo feito há anos ou décadas não cria futuros, só mitiga erros passados.

É preciso criar e experimentar possibilidades de mudança concreta de produtos, serviços, negócios, mercados, plataformas e ecossistemas. Continuando a dar passos, o Brasil só se atrasa ainda mais em relação às economias de conhecimento, industriais e de serviços que avançam, ao contrário, em saltos.

Estratégia é o processo de transformação de aspirações em capacidades. Aspirações são tudo o que queremos que aconteça ou exista. Capacidades são as competências -os saberes-, as habilidades -o saber fazer- e os recursos -os meios- para realizar as nossas aspirações.

O Brasil precisa de um conjunto articulado e dinâmico de estratégias para todos os setores da economia, baseadas em conhecimento, habilitadas por empreendedorismo e inovação de classe mundial, capazes de tornar o país um competidor global relevante. O sistema nacional de ECTI é absolutamente essencial para esta empreitada.

Há muitas possibilidades estratégicas, muitos exemplos a citar e muitos [re]começos possíveis. Por economia, e pela relevância e comprovada eficiência e eficácia nas políticas e estratégias industriais em todo mundo, vale a pena considerar os ecossistemas [locais] de inovação [exemplos globais são Silicon Valley e Shenzhen] como pontos de partida. Ao invés de incubadoras nas universidades ou institutos de pesquisa, os participantes nos ecossistemas de inovação vão de grandes a pequenas empresas estabelecidas, redes de incubadoras e aceleradoras, redes de investidores e especialistas em desenvolvimento de negócios, serviços acessórios e complementares a ciência e tecnologia, como design, entre muitos outros componentes que puros parques tecnológicos de universidades jamais agregarão.

Mas o Brasil, na prática, abandonou seus ecossistemas locais de inovação -parques tecnológicos são uma de suas instâncias práticas- à míngua política, estratégica e de financiamento na última meia década ou mais. Uma grande estratégia nacional para inovação em serviços, indústria e todos outros setores da economia deveria apoiar ecossistemas existentes e incentivar a criação de muitos outros, investindo em grande escala para uma rede dezenas, centenas de ecossistemas de inovação com médio e alto potencial de impacto de negócios internacionais. O mundo precisa depender do que fazemos no Brasil, e não podemos -até porque não conseguiremos- independer do mundo para fazer no Brasil. A grande transição das cadeias globais de valor, agora e no longo prazo, não é de dependência para independência, mas para interdependência.

A aspiração, aqui, seria criar resultados a partir de ciência e tecnologia e inovação nacionais, em rede e articulação com o mundo, para criar produtos, plataformas e serviços que, através dos negócios, tenham impacto global.

Resultados que iriam criar novos negócios inovadores; iriam adaptar, evoluir e transformar negócios existentes e articular novas empresas lastreadas em conhecimento com negócios legados, em benefício de ambos e da economia e sociedade. Este seria apenas um item de uma estratégia e política capazes de fazer o Brasil dar saltos para o futuro, criar mais trabalho e emprego de maior qualidade e melhor redimento, mais rápida, econômica e mais sustentavelmente, especialmente na indústria.

O Brasil precisa parar de olhar, imaginar e planejar para o passado. Para citar um setor, tentamos muitas políticas e estratégias [e programas, e incentivos…] para as tecnologias de informação e comunicação [TICs], no passado, e muitas delas deram completamente errado. Porque pensamos -quase sempre- em substituir importações, o que é quase sempre impossível, em mercados cuja escala de produção é global, sem elevados subsídios e quase sempre com imenso atraso em relação ao estado da arte. Em quase tudo, especialmente peças, partes e componentes de alta complexidade tecnológica e industrial, com cadeias de valor de alta densidade, variedade e velocidade de mudanças, como é o caso de chips [os componentes de alta densidade para TICs].

Ao invés de tratar o problema das cadeias de valor de qualquer coisa, aqui, pensando em “como o Brasil deixa de depender do mundo para x?”… nós deveríamos sempre pensar… “como o mundo passa a depender do Brasil para y?”. O uso de variaveis diferentes, aqui, é deliberado: para muitos x dos quais dependemos, não vale a pena o investimento para tentar fazer com que o mundo passe a depender de nossas competências, habilidades e recursos para o mesmo x… porque a janela de entrada e participação relevante no mercado global de x pode ter passado há muito, muito tempo.

Quem tem prazo não tem pressa. Enquanto tiver e estiver no prazo. Mas o prazo do Brasil é curto. As transformações causadas pelos processos de informatização, automação e robotização já estão mudando os mercados e as cadeias de valor de todo o planeta, inclusive transformando produtos em serviços na indústria 4.0, numa velocidade que nem conseguimos acompanhar, muito menos influir na direção, sentido e aceleração. Para agir estratégica e celeremente em política industrial, de serviços, de varejo e de negócios de todos os tipos, é preciso pensar, articular e executar muito mais rápido do que será possível transformar o Estado.

É preciso articular organizações ágeis, com quem o executivo federal pode estabelecer contratos de gestão para cuidar de políticas públicas, exemplos das quais são o CGEE [Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, para desenho e avaliação de políticas públicas], EMBRAPII [Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, no financiamento e avaliação da execução de políticas públicas] e hubs responsáveis por ecossistemas locais de inovação, parques tecnológicos e outros clusters de ciência e tecnologia como o NGPD [Núcleo de Gestão do Porto Digital, para execução de políticas públicas de inovação].

É preciso, é possível e é urgente mudar as políticas públicas para indústria e serviços no Brasil. Na verdade, para que sejam competitivas e sustentáveis, é preciso mudar, e muito, todas as politicas e estratégias para todos os setores da economia e sociedade brasileira.

É preciso, é possível e é urgente fazer com que as políticas públicas para tudo, no Brasil, levem em conta, sejam baseadas em, tenham sempre fundamentos de ciência, tecnologia e inovação.

Não estamos no neolítico, quando os humanos aprenderam a domar plantas e animais, criaram suas primeiras plantações e se tornaram sedentários. E quando, não por acaso, começaram a demandar apoio do que hoje se chama Estado, cujo papel evoluiu de proteger os aglomerados humanos para cuidar de quase tudo que afeta nossa vida, especialmente o que pode ser feito pelos representantes do todo, para o todo: cuidar do futuro e da sustentabilidade da sociedade.

E nunca o futuro dependeu tanto de ciência, tecnologia e inovação como agora, na sociedade do conhecimento. E nunca ciência, tecnologia e inovação dependeram tanto de estratégias e políticas públicas, aliadas a e para resolver grandes desafios nacionais como agora, no século XXI.

E a nossa hora é agora. E, mais do que nunca, se nós não fizermos, ninguém fará.

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Silvio Meira é cientista-chefe da TDS.company, professor extraordinário da CESAR.school e presidente do conselho do PortoDigital.org

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