daniela braun é uma das mais bem informadas, conectadas e ouvidas jornalistas que cobrem o setor de TICs no brasil. este blog resolveu passar dani pro lado de lá e fazer algumas perguntas pra nossa entrevistada de hoje. a concisão da jornalista começa pela resposta à primeira:
quem é daniela braun, em dois parágrafos? a resposta veio em apenas um: Daniela Louise Braun é editora executiva do IDG Now!, o maior site de tecnologia da informação do País. Jornalista formada pela Fundação Cásper Líbero em 1995, especializou-se na área de tecnologia há dez anos e ingressou no Now! Digital Business em 2000, como repórter do jornal Computerworld. Em agosto de 2005 estreou no quadro diário CBN Tecnologia da Informação, com Carlos Alberto Sardenberg, na rádio CBN.
a seguir, a entrevista, que dani respondeu por emeio:
SM: desde que você começou a reportar tecnologias da informação e comunicação, no brasil, mudou o que? do que você sente falta, do que passou, e do que ainda não chegou?
DB: Na verdade eu já comecei a trabalhar como repórter de tecnologia na onda da internet. No meu primeiro dia de trabalho como repórter do Computerworld, em 2000, foi apurar algumas notícias para o site, já que a equipe estava pautada para o jornal (para o “papel” como costumávamos dizer). A agilidade do online e os desafios de trabalhar com um assunto diferente a cada hora, de correr contra o tempo para entregar uma informação com qualidade ao leitor me conquistaram e isso não mudou.
O que mudou muito e ainda veremos evoluir é a quebra das barreiras tecnológicas. Antes você tinha o telefone – hoje você tem dispositivos móveis conectados em banda larga – embora o serviço não seja 100% ainda – que acabam com diversas limitações de trabalho.
Me lembro da primeira coletiva de imprensa que fui cobrir quando vi os jornalistas com os press release nas mãos sacando seus celulares e indo para os cantos passar as informações prévias à redação. Levei um susto e logo liguei para o meu chefe.
Hoje o jornalista pode descobrir uma informação, apurar, pesquisar, escrever e publicar a notícia de um bom smartphone, de onde estiver, a qualquer hora. A questão é a relevância e o senso de urgência sobre determinado conteúdo. O veículo e o jornalista devem decidir como tratar a informação que o leitor deseja. Devo esperar e escrever com mais calma como recomendou meu chefe naquela primeira coletiva, ligar e passar uma prévia do anúncio, ou interromper o happy hour com os amigos para escrever uma notícia que acabei de ver no iPhone? Você é o limite.
A limitação de hoje é ficar sem acesso à internet. Panes em serviços de banda larga mostram o quanto eles são essenciais e merecem ser tratados de tal forma. Hoje, quando uso um buscador para entender um assunto ou localizar uma fonte, ou quando jogamos uma pergunta diretamente ao leitor no Twitter e em 30 minutos tenho centenas de depoimentos relevantes para uma matéria, me recordo, com pouca saudade, de como era difícil fazer tudo isso só com o telefone, com o gravador na rua ou em arquivos e bibliotecas. Hoje, um jornalista desconectado é capaz de congelar na cadeira, como se faltasse energia na redação.
SM: quais são as suas principais fontes de informação? no que você acha que elas diferem do jornalismo "do passado"?…
DB: No dia-a-dia navego muito por sites (internacionais e locais) de tecnologia, de jornais de grande circulação, agências, institutos de pesquisas e órgãos do governo, além de blogs e do Twitter, que já foi fonte de informação para muitas notícias. Do “passado” para hoje houve uma enorme pulverização do conteúdo – o que chamamos de ‘ronda’ atrás de informações não se limita a uma dúzia de sites ou aos jornais do dia. Este é outro desafio do trabalho jornalístico: encontrar a informação, agora descentralizada, em blogs, redes sociais e agora em microblogs e, sobretudo, checar. Na minha avaliação, as principais fontes serão sempre pessoas, não páginas de textos. Isso faz diferença.
SM: pra onde você acha que a mídia [toda ela, de jornais a twitter] tá indo? nesse futuro, qual será o papel dos jornalismo e dos jornalistas profissionais, agora que diploma -e a formação universitária de jornalismo- não é requerido para exercer a profissão?
DB: [Como cientista eu sou boa jornalista então prever o futuro é com as fontes]. Acredito que nunca houve um meio que disseminasse nossas idéias e opiniões de forma tão rápida e ampla como o que temos hoje na internet – mesmo com toda pressão na China e no Irã. O fato de um cidadão ser repórter ou de blogs darem furos de reportagem, por exemplo, balançou a ‘grande mídia’ e deve ser encarado de forma positiva, na minha visão. Somando estes fatores ao fim da necessidade de um registro e de um diploma, é hora de sair da zona de conforto, sem dúvida. Aqui cito dois artigos interessantes sobre a avaliação de blogs e dos modelos de negócios do jornalismo online.
Minha conclusão é que a diferença está no conteúdo – e não na ‘cara de conteúdo’. De nada adianta o diploma se você não arregaçar as mangas para entender o que o seu leitor quer, para pesquisar o que é buffer overflow e explicar para ele, ou ainda para interagir com este leitor em uma rede social ou para permitir que ele escolha se quer ler, ouvir ou ver o seu conteúdo.
Aqui falamos de tecnologia, mas como você mesmo disse após o podcast que gravamos recentemente para o IDG Now!, a tecnologia é um meio não um fim. Pois há dez anos eu trabalho neste assunto – tenho um blog sobre gastronomia há três como hobby – e sou da turma que acredita que jornalistas escrevem sobre qualquer tema, desde que se envolvam, se aprofundem e contem uma boa história. A tecnologia, é claro, tem ajudado bastante!
Sobre este tema recomendo três artigos rápidos aos leitores: "The rebirth of news" da The Economist; Blogging vs. print: Some journalists don’t get it –CNET onde se lê…
“But the news business is not about print, it’s about information. It doesn’t really matter whether you read the news on paper, on a computer screen, on a mobile phone, on a Kindle, or on an as-yet unavailable technology. However the news is consumed, what’s important is that there remains a cadre of talented, honest, and enterprising journalists to dig up facts, dispel myths, and keep powerful people in check.”
e "Making Old Media New Again" –The Wall Street Journal.