conteúdo, trabalho, renda, redes sociais, limites e proibições

image a globo tem, sob contrato, a maioria dos artistas mais rentáveis, como audiência –e propaganda- do país. e todos eles assinam um contrato que transforma sua “produção” em propriedade da empresa. o que é normal, pois o mesmo ocorre na record, na folha, no estado… ou qualquer outro lugar onde pessoas trabalham, arrendadas, para produzir performance ou conteúdo. faz parte do jogo.

ocorre que todo mundo que assina os contratos está, também no twitter, facebook, youTube…, não só de livre e espontânea vontade mas porque, de certa forma, tem que estar lá. afinal, artistas são pontos focais de redes sociais; e as redes sociais reais, daqui de fora, estão todas lá, na rede…

a globo [entre muitas outras empresas “de conteúdo”] está incomodada com essa, digamos, dispersão de conteúdo supostamente sob seu controle e baixou uma norma proibindo, a seus contratados“a divulgação ou comentários sobre temas direta ou indiretamente relacionados às atividades ligadas à emissora, ao mercado de mídia ou qualquer outra informação e conteúdo obtidos em razão do relacionamento com a Globo”. segundo a empresa, a razão é proteger seus… “conteúdos da exploração indevida por terceiros, assim como preservar seus princípios e valores”.

por que a globo está fazendo isso? porque boa parte da “audiência” de seus contratados está fora de seu controle, em redes como twitter e facebook. porque as redes sociais são uma ameaça de fato à hegemonia da TV sobre o que costumava ser chamado de “audiência” e, lá nas redes, é de fato “comunidade”. e porque a globo, entre muitos outros, bem que poderia ter criado as suas próprias redes sociais, mas não o fez.

o bonde da inovação passa, muitas vezes, rápido como um foguete. e a janela de oportunidade, quando você fica apenas esperando, é quase sempre invisível. mas não neste caso. a globo sabe, há muitos anos, que eventos marcantes em sua programação [incidentes no BBB, brigas e descobertas nas novelas…] correspondem a picos de atividade no orkut [por exemplo].

quando descobriu, já era quase muito tarde pra se fazer alguma coisa em redes sociais, porque o grande público já estava no orkut, e não em uma rede social da globo [que não existia e não existe até agora]. mas não se procurou alternativas, não se tentou descobrir o que poderia vir depois do orkut, não se fez experimentos para tentar transformar, paulatinamente, o que era “audiência” no que poderia ser “comunidade” da emissora.

o resultado é o que estamos vendo. a empresa, entre muitas outras, tentando controlar a presença de seus artistas em redes sociais sobre as quais não tem o menor controle ou influência. é mais ou menos como dizer que seus colaboradores não podem ir a campo participar de uma rede social chamada “torcida”, especialmente se a globo não estiver transmitindo a partida. acho que não vai dar certo.

e pode acabar de uma forma abrupta: alguém pode arguir, na justiça, que o grau de controle que a globo [e outras empresas] está querendo exercer sobre seus contratados é excessivo e indevido. e que participar de uma comunidade que discute [entre muitas coisas] seu trabalho, qualquer que seja, é um direito de todos e qualquer um, desde que não se ultrapasse certos limites óbvios, como oferecer, à concorrência, detalhes dos negócios da empresa que lhe contrata. essa regra vale em todo lugar, inclusive numa mesa de bar.

image e o twitter parece uma grande mesa de bar, 140 caracteres por vez. com dois problemas, do ponto de vista dos empregadores da moçada que está “na mesa”… primeiro, a mesa pode ser muito grande, centenas de milhares de pessoas ao redor de uma conversa. segundo, ao contrário do bar, onde ninguém escreve o que os outros dizem, tudo fica escrito e pode ser replicado ad infinitum. com as devidas consequências.

claro que todo mundo pode ir ao bar; e vai, e diz o que quer. às vezes, ouve o que não quer. no twitter, idem. algo me diz que o bom senso, ao invés da justiça, deveria resolver isso de uma forma muito mais simples.

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