todo outubro, o RSF, reporters sans frontières, publica um índice comparado da liberdade informacional, que eles ainda chamam, por tradição, “de imprensa”. três longos anos atrás, em outubro 2006, sobre o índice daquele ano, escrevi um texto que passava por…
…de 2002 [quando o índice começou a ser compilado] para cá o brasil perdeu 21 posições e a bolívia avançou 31 lugares. vai ser muito interessante ouvir as explicações da propaganda governamental, que está tomando ares cada vez mais parecidos com a década de setenta. o que talvez seja uma das razões para estarmos em queda livre no índice do RSF;… capaz de se tentar explicar, também, que a disneylândia de uma certa intelectualidade brasileira [além das perseguições usuais, 24 jornalistas são presos políticos na ilha] está no rabo-da-gata porque o RSF é uma conspiração elitista, de direita, contra o progresso dos povos.
em 2006, o brasil estava no 75o. lugar do ranking [e ainda não havia nada parecido com o esforço de mídia estatal que vemos hoje…]. em 2007, a coisa piorou e o país foi para o 84o. lugar, se arrastando de volta para um ainda pouco confortável 82o. lugar em 2008, 28 posições abaixo de 2002.
a bolívia, que estava em 16o. lugar em 2006 [era o melhor, em liberdade informacional, dos países em desenvolvimento], amarga, no último ranking publicado, um mísero 115o. lugar. não é feito pequeno, cair tão rápido. diz alguma coisa sobre o governo de lá [e seus parceiros]. nós, pelo menos, estamos sistemática e estavelmente ruins.
estamos a algumas semanas da publicação do índice correspondente a 2009. devemos aparecer melhor colocados, porque o supremo detonou a famigerada “lei de imprensa” do regime militar. mas a avaliação do RSF sobre o estado de informação, no brasil, não é das boas:
Brazilian journalists are exposed to serious risks in some regions, particularly when they report on sensitive issues such as trafficking, corruption or environmental questions. Attacks that can go as far as murder still plague the northern and north-eastern states, or further south, at the Paraguayan border, the hub of the drug trade.
e é verdade: tratar de tráfico, corrupção e questões ambientais, na mídia brasileira e particulamente nas regiões norte e nordeste, é risco de vida [ou de morte], dos altos. dia destes, o jornalista rafael dias foi agredido em pleno centro do recife, por causa de uma reportagem sobre o falecimento de um vereador.
o fim dos jornais –e da imprensa- como nós conhecíamos não significa o fim do jornalismo. na web, nos blogs, nas redes sociais, a liberdade de informar e ser informado continua sendo um item essencial da democracia. reed hundt, que foi chairman da FCC [a anatel dos EUA] disse semana passada que… as liberdades fundamentais de uma internet aberta [e neutra] são a plataforma do novo jornalismo. consequentemente, qualquer tentativa de manipular a rede, informação ou profissionais e amadores da notícia e da informação [uns em rede, outros em jornais e revistas, rádios e TVs] deve ser tratada como uma agressão ao estado de direito e aos ideais democráticos.
falando nisso, a tal disneylândia, que em 2006 estava no 165o. lugar da lista do RSF, caiu mais quatro lugares e, em 2008, está acompanhada, no fim da lista, por burma, turcomenistão, coréia do norte e eritréia. diz-me com quem andas…