evo morales nacionalizou a entel, maior companhia boliviana de telefonia celular e internet, que era parte dos investimentos da telecom italia na américa latina. no mesmo pacote, companhias de energia que tinham investimentos americanos, ingleses e alemães retornaram às mãos do estado boliviano, revertendo um processo de abertura e desregulamentação que corria, aos sobressaltos, há pouco mais de uma década. isso sem falar que partes da petrobrás, num rumoroso processo, já haviam sido encampadas pelo governo boliviano, incidente em que o brasil fez um papel de bobo, pero no mucho. mas isso é outra história.
a conversa que nos interessa, aqui, é o que um país como a bolívia vai fazer para operar, dentro do estado, o setor de telecom. pode até ser que, no caso de energia [especialmente gás], com a demanda e os preços internacionais nas alturas, morales consiga se safar por algum tempo, às custas do sucateamento do futuro do setor, por falta de investimentos e competências locais, já que os estrangeiros estão sendo banidos com o exército à porta de suas instalações, como aliás foi o caso da petrobrás.
já no caso de telecom, sei não. está mais que provado que celulares e internet são insumos fundamentais para o desenvolvimento. e a penetração de ambos, nas sociedades, depende de competências privadas [para inovar, competir e entregar resultados] e políticas públicas, pra regular mercados, garantir a competição e definir e implementar compensações onde e quando for necessário.
um dos erros mais típicos de estados fracos é achar que as coisas não estão funcionando porque estão sob controle da iniciativa privada. de um certo ponto de vista, é por aí mesmo: quando os estados são incompetentes a ponto de não exercerem, devidamente, seus papéis institucionais, a iniciativa privada se torna, em conluio com a ineficiência [e aliada à corrupção estatal], mais incompetente do que o próprio estado. resultado? me lembro muito bem de ter comprado um telefone [que é claramente um serviço e não um produto] à telpe, aqui em recife, por cerca de dois mil dólares, na época gloriosa da telebrás.
o problema que tem que ser resolvido, em países como a bolívia, é o da ineficácia e ineficiência do estado, o que não se faz pela dupla via da nacionalização e estatização, auxiliares diretos do processo de desorganização dos mercados e da concentração do poder nas mãos de uns poucos que, na américa latina e alhures, agem em nome de um certo “povo”, como é o caso de morales e, porque não dizer, chávez. os dois, aliás, protagonizam [segundo álvaro vargas llosa], assumindo papéis principais, a volta do idiota latino-americano.
boa sorte, bolívia. do camarote do grau de investimento da standard & poor’s, o brasil, que escolheu a via do mercado [regulado e compensado pelo estado], assiste tua longa e dolorosa ida para o brejo. e recebe a longa fila de imigrantes, legais e outros, que começa a olhar para o grande vizinho do lado como a tábua da salvação. não poderemos, por muito tempo mais, nos negar ao papel de liderar nossa parte da américa na direção de governos mais responsáveis e em equilíbrio com a região e o mundo. mundo, por sinal, capitalista, com china, rússia e tudo o mais [inclusive cuba, em breve] dentro.