este blog está publicando uma série de dez textos sobre as previsões do gartner group, sobre as maiores oportunidades de negócio em mobilidade em 2012. quer dizer, logo ali: temos meros dois anos até o começo de 2012; dando um monte de crédito ao gartner, a futurologia do grupo tem 1.000 dias pra se concretizar. ou não.
já falamos de quatro negócios que estão no topo da lista do gartner. hoje é hora do quinto, que é…
5: Mobile Health Monitoring
Mobile health monitoring is the use of IT and mobile telecommunications to monitor patients remotely, and could help governments, care delivery organizations (CDOs) and healthcare payers reduce costs related to chronic diseases and improve the quality of life of their patients. In developing markets, the mobility aspect is key as mobile network coverage is superior to fixed network in the majority of developing countries. Currently, mobile health monitoring is at an early stage of market maturity and implementation, and project rollouts have so far been limited to pilot projects. In the future, the industry will be able to monetize the service by offering mobile healthcare monitoring products, services and solutions to CDOs.
…monitoração [móvel] de saúde. a idéia geral é muito simples: ao invés de ter os pacientes no hospital, na clínica, frequentemente, só para coletar uns poucos dados por vez, instrumenta-se quem deveria estar sendo monitorado por causa de uma ou mais condições de saúde e conecta-se o sistema [e através dele, a pessoa] na web. no começo, trata-se de capturar dados muito simples como pressão, temperatura, batimento cardíaco, coisas parecidas com as que são capturadas [em modo “batch”] pelo que também se chama “router” no meio médico. se fosse no futuro do gartner, um conjunto de sensores, algum hardware e software adicional, conectados à web, dariam conta do caso.
segundo o gartner, monitoração [móvel] de saúde ainda está no estágio inicial de desenho de produtos e serviços. sua oferta em escala, como a maioria das ofertas associadas a projetos-piloto, deve levar algum tempo. em três anos, espera o gartner, deve haver no mercado um número de serviços que poderiam melhorar a qualidade de vida de pacientes crônicos.
um tipo de paciente crônico de alto risco é quem sofre de problemas cardíacos graves. para alguns, a solução passa por um transplante, talvez antecedido pelo implante de um coração artificial temporário enquanto o doador não se torna disponível. clique na imagem ao lado pra ver do que estamos falando. a imagem leva para um texto sobre pacientes que receberam um TAH-t [total artificial heart, temporary, ou coração artificial total, temporário] coisas que, hoje, ainda não estão na web, muito menos na web móvel. abaixo, um paciente que recebeu um deles em 2007, na university of pennsylvania, enquanto esperava por um doador.
mas pense em algumas das possibilidades futuras de sistemas de computação e controle em rede, como as que descrevo no texto a seguir, publicado em 29 de setembro de 2000 na extinta revista eletrônica noponto. a história é sobre a relação entre um sujeito ranzinza e uma galerinha de um mega condomínio no futuro. leia. e assuste-se (ou não)… um dia vai ser verdade e está nove anos mais perto…
OS INVASORES
Um dia, teve uma dor de matar, aliás de quase. Acordou no hospital sentindo o peito e tendo um médico à cabeceira, perguntando, pausadamente, se estava a se sentir bem. O sim, meio trêmulo, demorou. Mas saiu. Recuperado, aprendeu que tinham reconstruído seu coração, agora composto, em parte, por um dos novos modelos IntelliBeat, que já incorporava um pequeníssimo servidor web para monitoração, avaliação e controle cardíaco. E isso há três anos.
Depois que se acostumou, a vida ficou normal, ou quase. Pouco se lembrava que seu corpo recebia (às vezes) comandos de um servidor, em algum hospital, e enviava (sempre) bio-dados para a rede. O femto-server instalado no seu coração e a antena pico-cel mais próxima faziam às vezes de sua ligação com a vida, o mantinham no ar, o tempo todo. Como se fosse um rádio na rede. Como a fonte de energia tinha deixado de ser um problema, os novos IntelliBeat eram um sucesso fenomenal: a manutenção e evolução do software podia ser feita, remotamente, sem qualquer tipo de intervenção local, muito menos cirúrgica. Você nem sentia nada quando mudava de versão.
Fruto do casamento de várias tecnologias, as novas próteses inteligentes eram naturalmente ligadas à rede. Houve uma oposição muito forte, no início, mas as vantagens eram tantas, e as penalidades pelo uso indevido dos dados, inclusive de localização, tão severas, que ninguém nem se lembrava, mais, que estava em rede. Ou questionava se ia ficar, quando, por alguma razão, tinha que receber uma delas.
Nas primeiras semanas, redivivo ao sair do hospital, tinha se tornado mais ouvinte, mais paciente e cordato. Mais simpático. Apesar de biônico, mais humano. Durante algum tempo, agüentava até choro de bebê com dor de ouvido no avião, sorrindo e compartilhando a agonia da mãe desesperada. Mas com o tempo foi se achando imortal, principalmente quando analisava na rede os dados do IntelliBeat, seu coração de mais que leão. Indomável.
A irritação voltou, reacesa na chama da suficiência. Fechou a cara pra todos, emburrava-se com tudo, do trip-hop do vizinho do lado, desorganizando seu sono, até o cantarolar da garota de baixo, aspirante a estrela de rede-pop. Seus limites, porém, eram dizimados mesmo pelo pestinha do 7L2S, o hiper-ativo cabelo espetado que parecia nunca dormir ou cansar, sempre observando, perguntando, gritando, correndo pra todo lado com o filhote Akita, terraplanando a paz do condomínio. E sempre muito mais perto do que deveria estar.
Um fim de dia, irritado da vida, incendiado pelas perdas no mercado e pelo trânsito, trombou com o diabo e o cão, ao ignorar o elevador e subir a rampa entre os 5L e 6L. Ficou acuado, quase descompensado entre latidos, reclamações e o alumplast repicando no chão, talvez destruindo os C3. Como os C3? A peste também tem um? Por que e para que teria um dos novos clientes de comunicação, computação e controle? Entre tantos ruídos, ouviu-se dando um bicudo no Akita, transformando a ameaça em ganidos, em fuga, de dor. E lançando o pivete numa série interminável de palavrões, entremeados por você-vai-ver e não-perde-por-esperar.
Um menino, com um C3… prá que? Só se fizesse parte (mas naquela idade?!…) de um bando de… invasores! Será? E esta mensagem no C3, agora, de Ran… junto com a listagem dos seus bio-dados no visor, sem ter pedido? Desorganizada, sua rede de pensamentos se torna cada vez mais aleatória, à medida em que o IntelliBeat enlouquece e sai, quase instantaneamente, de 80 para 120 para 160 para 40bpm, várias e várias vezes, até que, oscilando ao redor de 80, permite que o canto do olho enxergue, desesperado, os comandos que estão sendo executados no femto-server.
O penúltimo encerrou, definitivamente, o processo que ouve os comandos do servidor do hospital. O último está parando, de vez, o gerador do IntelliBeat… Depois, a assinatura da galera que invadiu seu coração, detonou o femto-server e está determinando seu fim. Ran. O nome do Akita. Os pivetes do condomínio. Se pudesse… mas é muito…
…que vai haver uma web móvel para saúde, vai. será primária em 2012. mas vai crescer, muito, por muito tempo, principalmente porque a população do mundo –e do brasil- envelhece rapidamente e demandará mais cuidados do que hoje. e a economia da saúde exigirá soluções como os intelliBeat. e sempre haverá hackers. e nenhum sistema online é completamente seguro. e talvez seja você que venha a ter um dos intelliBeat do texto acima bem no meio do seu peito. e?… pense. pense. o futuro nunca se engana. e é cheio de surpresas…
[ps: os primeiros quatro textos da série estão… aqui, aqui, aqui e aqui.]