este blog gosta dos histogramas do e-marketer e vez por outra uns deles aparecem por aqui. até porque –se nos EUA há dados em quase excesso- o brasil é o país onde faltam dados. ou onde os dados são, muitas vezes, tão antigos que fazem apenas parte da história. isso quando não são muito conflitantes com outros levantamentos e, às vezes, inexplicáveis.
dito isto, olhe pro histograma abaixo, que mostra a evolução dos hábitos matinais dos jovens americanos na década passada: rádio perdeu quase a metade da audiência neste público, jornais cairam para menos de um terço, enquanto TV subiu quatro pontos percentuais e uso da internet, pra começar o dia, foi multiplicado por mais de 2.5.
bote ou tire alguns por cento [para incluir populações de características diferentes na discussão] e adicione algum tempo, [para tratar países menos conectados] e dados como estes tendem a valer de forma mais ou menos universal. agora, dê uma olhada no histograma abaixo [do mesmo texto da referência acima], que tenta nos mostrar história e tendências de uso de mídias nos últimos anos e uma tendência para os próximos poucos. note o crescimento de redes sociais [um fator de sete entre 2006 e 2012], rádio na rede [mais que sete] e podcasting, mais que oito vezes maior, no período.
o declínio relativo do rádio e dos jornais é fenômeno global; veja este texto sobre a situação em portugal, onde se defende a tese de que, ainda por cima, a situação atual dos jornais pode ter raízes bem anteriores ao embate com o digital. e o jornal de papel, então? sua cadeia de valor tem problemas estruturais que vêm de muito longe, como mostra este texto de 2000, sobre o fim de um dos fins do papel. uma pergunta recorrente e muito atual é se dá ou não para salvar [o bom] jornalismo, mesmo que os jornais desapareçam…
no brasil, aposta-se que o volume de comerciais na web passa o rádio este ano. atrasado, por sinal; o blog apostou que isso ia acontecer no ano passado. apostas, apostas.
segundo estudo do grupo publicis, o mercado publicitário crescerá 11,8% no ano e a mídia online vai aumentar 29,2% em volume de recursos. ano passado, o rádio recebeu [no brasil] US$514M em publicidade e a web US$502M; os valores são em dólar para haver base de comparação internacional. este ano, o rádio cresce pouco mais de 8% [para US$558M] e a web salta para US$649M.
mas a tendência de crescimento da mídia digital interativa [como é chamada nos relatórios do setor, como este do IAB] é bem maior: julho de 2010 foi 34,25% maior que julho de 2009. olhe a situação no histograma abaixo; como o todo cresceu 26.72%, só as TVs abertas e pagas e a internet estiveram acima desta média [ou seja, todo o resto, em termos relativos, perdeu mercado. os jornais cresceram, no período, cerca de um quinto da internet e perderam sete pontos percentuais da publicidade total entre 2000 [21,2%] e 2009 [14,1%]. a situação dos guias e listas, então…
vai ser ainda mais interessante ver este estudo em ano sem copa, como 2011; o grande evento mundial de futebol aumenta desproporcionalmente o gasto em publicidade na TV, ainda a principal fonte de sincronização de massas em tempo de megaeventos. o mesmo relatório do iab mostra que o crescimento de investimentos na web é consistente ano a ano [figura abaixo], confirmando no brasil o que é uma tendência mundial.
nos EUA, nem a TV escapa; estudo de fevereiro deste ano mostrava [aqui] que mais de tres vezes mais consumidores, se forçados a escolher o que cortar, cortariam a TV paga e não a internet de suas casas. até porque, para os jovens [veja este outro texto aqui] internet já era, em 2009, muito mais importante que jornais como fonte de notícias e empatava com TV.
o que vai mudar tudo de vez, de uma vez por todas, vai ser a TV conectada na internet ou, se você quiser, o hábito de se ver, a partir daí, TV dentro de um browser. quando isso acontecer, ao contrário do que se esperava com a TV digital interativa [levar a interação para dentro do ambiente da TV], a TV terá se tornado parte do ambiente da internet de uma vez por todas.
e isso é muito importante até porque, se você voltar e olhar o primeiro histograma deste texto, vai se lembrar que os jovens estão vendo mais, e não menos, TV.
a forrester prevê 43 milhões de casas americanas tendo uma TV conectada no meio desta década. agora olhe para brasil [25% das casas com banda larga, hoje] adicione o PNBL [duplicando, talvez triplicando isso até o fim da década?…] e imagine o cenário se repetindo aqui, de forma possivelmente mais acelerada, porque não temos tantas instalações antigas de TV a cabo, como têm os americanos, para atrapalhar nossa evolução. é esperar pra ver.