esta é a razão pela qual inúmeras galeras vão se juntar, no mundo todo, no fim de semana de 28 a 30 de janeiro próximo, em tempo integral, dedicação exclusiva: conceber, desenhar e implementar jogos para os mais diversos tipos de plataformas computacionais, inclusive humanas. sim, humanas, porque nos lugares onde não há desenvolvedores de software em quantidade, o povo se junta para desenhar jogos de tabuleiro.
na américa latina e, principalmente, no brasil, há desenvolvedores participando aos montes e a galera faz jogos de verdade, pelo menos tão de verdade quanto é possível em meros dois dias para cobrir todo o ciclo de vida do processo de desenvolvimento, de concepção a testes, passando por design, arte, trilha sonora, programação e por aí vai.
pra contar a história ao redor da global game jam e sua instância de recife, o blog foi atrás do cara que está coordenando o evento no porto digital, álvaro cavalcanti, que nos deu a entrevista a seguir; as imagens que ilustram o texto são das edições 2009 e 2010 da global game jam em recife.
meira: o que é a IGDA, no mundo, brasil e em recife?
álvaro cavalcanti: A IGDA é a Associação Internacional de Desenvolvedores de Jogos (www.igda.org) e ela funciona nos EUA nos moldes de um sindicato aqui no Brasil. A missão dela é melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores da indústria de jogos, promovendo encontros e fomentando a integração entre seus membros. Além de ter uma representação nacional, a IGDA estimula a criação de capítulos locais, que têm algumas liberdades para funcionar, como por exemplo não cobrar um valor para se associar.
Aqui no Brasil existem alguns capítulos locais, e o daqui de Recife é um dos mais antigos na ativa e já teve outras três formações, tendo a atual já mais de três anos. A nossa representação resume-se a um grupo no GoogleGroups que conta com mais de 370 membros, e procuramos fomentar o desenvolvimento da comunidade, trocando informações entre profissionais, estudantes e curiosos através de eventos, divulgação de notícias e competições de desenvolvimento, além de outras coisas.
SM: conta aí pra gente a história da global game jam:
AC: Antes de falar da GGJ acho legal falar sobre as game jams. Estes eventos são bastante populares na indústria de desenvolvimento de jogos e são inspirados nas Jam Sessions que se popularizaram com os jazzistas americanos. A idéia é a mesma, juntar um bocado de gente num mesmo lugar, de forma não muito organizada, e colocar todo mundo para trabalhar criando jogos, normalmente em 48h, de forma ininterrupta.
Em 2008, Susan Gold, a diretora do SIG de Educação da IGDA (SIG é a sigla em inglês para Grupo de Interesse Especial, que são grupos formados dentro da IGDA e que visam agrupar profissionais com interesses em comum) idealizou uma grande game Jam, em escala global. Se juntou com mais duas figuras e conseguiu montar a Global Game Jam, que desde 2009 acontece sempre no último final de semana de Janeiro. Apesar do âmbito global, o evento é bem simples e funciona da mesma forma que outros eventos semelhantes: na sexta-feira é apresentado um tema aos participantes, que devem se oprganizar em grupos e produzir jogos (muitas vezes protótipos) até as 15h do domingo (prazo final para fazer o upload para o site), e às 17h acontece o encerramento.
O clima da GGJ é a colaboração, e não a competição. A organização menciona que se um site quiser premiar os jogos, não há problema, desde que não incentive o clima de competição. Uma coisa comum nestes eventos é de algumas pessoas trabalharem em mais de um grupo, se houver necessidade, além de ajudarem-se uns aos outros.
Apesar do caráter experimental e até mesmo um pouco despretensioso, o evento é bastante conhecido dentro da indústria e tem boa visibilidade. Basta dar uma conferida na lista de patrocinadores oficiais no site www.globalgamejam.org, isso sem falar nos patrocinadores locais. A GGJ é um evento relevante e vale muito a pena participar. Ah, e vale mencionar que apesar de ter que submeter o código do jogo todo para o site, e que ele fica aberto para quem quiser baixar, a propriedade dos jogos é de seus criadores, e que se eles quiserem continuar trabalhando nos projetos para depois lançá-los no mercado, não há restrição alguma. Muito pelo contrário.
SM: este ano, vai acontecer em quantos países e locais, mundo afora? como está o brasil no cenário?
AC: Até agora já são 44 países, 173 locais e 2880 pessoas. E vale lembrar que este número ainda pode mudar muito, principalmente o número de participantes, pois a grande maioria deixa para se registrar no site apenas no primeiro dia do evento.
A América Latina no geral está atraindo uma boa atenção, ao ponto de ter sido o assunto de um post recente no blog do evento. E o Brasil é o maior representante do continente, com 9 locais até agora, detendo os segundo e sexto lugares no ranking de locais com mais participantes, 116 na PUC-PR e 77 na Fatec-SP, respectivamente.
SM: quem participa dos eventos? em que áreas?
AC: Profissionais, estudantes e curiosos, de todas as áreas de conhecimento em ou perto de jogos: desenvolvedores, artistas, game e sound designers.
SM: o que vai rolar no evento de recife, quantas vagas temos e o que a galera faz pra se inscrever?
AC: Este ano nós da IGDA Recife conseguimos o apoio do C.E.S.A.R e da Samsung. O evento será realizado no prédio do C.E.S.A.R da Rua do Brum, 77, no Porto Digital. Com o patrocínio da Samsung, nosso foco será o desenvolvimento para a plataforma Android, especificamente para o Samsung Galaxy Tab, e apesar de o foco do evento não ser treinar desenvolvedores, nós da organização pretendemos juntar o material que pudermos sobre este ambiente de desenvolvimento de modo a deixá-lo disponível para todos. Lembrando que o grande lance é todo mundo se virar na hora!
Para se inscrever basta enviar para o e-mail contato@cesar.org.br, até o dia 26/01: Nome completo, Idade, Sexo, Telefone, E-mail, Experiência (Jogos Comerciais, Independentes, Projeto Faculdade, Iniciante, Curioso), Área de atuação (Game Design, Programação, Arte, Sound Design) e se pretende levar algum equipamento. São ao todo 40 vagas e caso o número de interessados exceda o número de vagas os critérios de seleção serão três: participação do evento no ano passado, experiência no desenvolvimento de games e ordem de inscrição.
SM: ao fim e ao cabo, que jogos você acha que vão ser feitos nos dois dias de recife?
AC: Jogos criativos, sem dúvidas! E, mais importante, acredito que teremos a maioria dos jogos finalizados! Vale lembrar que são 48h e que em eventos como este a organização e capacidade de produzir com foco é o diferencial para um projeto ser concluído. Uma vez que Recife é referência no mercado nacional de jogos, nós temos pessoas aqui capazes de impressionar com projetos bem executados.
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nosso entrevistado, álvaro cavalcanti, é bacharel em ciências da computação pela unicap e engenheiro de sistemas do c.e.s.a.r desde 2007. foi gamer na época dos consoles de 8 e 16-bit, jogou um bocado no PC, conheceu bumerangues como hobby e há alguns anos se considera um ludologista, estudando a arte de criar e desenvolver jogos. faz parte da coordenação da IGDA recife, capítulo pernambucano da associação internacional de desenvolvedores de jogos.