educação empreendedora: 4

este post é parte de uma série sobre educação empreendedora, derivado de uma palestra dada no sebrae nacional, em brasilia, no 27 de janeiro passado. pode até ser que você entenda o texto que se segue sem ler os posts anteriores; mas os textos foram escritos como se fossem uma palestra, uma conversa, o que significa que há uma sequência, começo meio e, espero, um fim, uma conclusão que faça sentido.

o primeiro post da série está neste link… passe por lá, até para entender o preâmbulo e contexto desta conversa.

nesta série, antes deste texto: 1, 2, 3; depois, nenhum, ainda. simbora.

. : . : . : .

no texto anterior, terminamos a conversa anunciando uma discussão sobre o mundo digital, esta já nem tão nova infraestrutura para tudo, inclusive a condução de negócios de todos os tipos. mas não discutimos o que eram os tais novos negócios inovadores de crescimento empreendedor de que falamos no segundo texto da série.

palavra por palavra: novo é um negócio que começou a existir há pouco tempo. tipo semanas, meses ou uns poucos anos. vamos combinar que um negócio é novo se ele tem menos de 1.000 dias de vida, uns tres anos. note que isso descarta um monte de negócios que estão incruados e encalhados em muitas das incubadoras nacionais há anos. dia destes ouvi dizer, numa delas, que uma certa empresa –que lá estava há mais de cinco anos- ainda não podia ser "graduada"; se fosse, morreria. claramente, trata-se de um caso, entre muitos, de empresas que só conseguem sobreviver em ambientes protegidos, fora do mercado. tão fora do mercado que um grande número delas jamais emitiu uma nota fiscal sequer… e vive de programas estatais de fomento à inovação empreendedorismo.

novo negócio inovador é um que muda [ou está tentando mudar] o comportamento de agentes, no mercado, como fornecedores e/ou consumidores de produtos e serviços. por esta definição [tirada de peter drucker], posso criar um novo negócio inovador alterando comportamentos na minha cadeia de valor de entrada, de saída ou em ambas. e devemos observar que negócios são inovadores em contextos; e contextos são temporais, geográficos, sociais, demográficos, às vezes de modos e modelos de uso, consumo e precificação… e não é preciso aparecer com produtos e serviços como amazon.com ou iPhone para fazer alguma coisa nova e inovadora [como os dois, por sinal, o são].

falta dizer o que é crescimento empreendedor: este é o tipo de crescimento de negócios onde o empreendedor faz a diferença. se o mercado onde seu negócio está inserido está crescendo [em média, digamos] x% por ano e seu negócio também está crescendo perto de x% por ano, é o mercado que está arrastando seu negócio e não você que o está empreendendo de forma diferenciada, de forma verdadeiramente empreendedora. crescimento empreendedor, em um mercado que cresce x% ao ano, é crescer 5x%, 10x% ao ano ou mais. é assim que doceiras se transformam em líderes do varejo nacional e um matadouro do interior de goiás domina o mercado mundial de carne.

mas há mais: se, no negócio que você imaginou, o lucro é uma porcentagem fixa sobre os custos, e esta porcentagem é baixa [digamos abaixo de 30% do faturamento…] é muito provável que seu negócio, por mais complexo que aparente ser, não vai apresentar o tal crescimento empreendedor, a não ser que haja vultosas injeções de capital para, literalmente, criar ou comprar o mercado.

novos negócios inovadores de crescimento empreendedor, pois, são negócios criados recentemente, que por vários motivos são diferentes do que havia no mercado quando apareceram, têm um grande potencial de mudar comportamento ao redor do que fazem e propõem ao consumidor e, ao mesmo tempo, crescem a taxas muito maiores do que os mercados onde estão inseridos.

é desnecessário dizer que o empreendedor deste tipo de negócio vive para a criação do negócio, todas as horas do dia, todos os dias da semana e não descansa enquanto sua criatura não atingir algum ponto que ele considere sustentável ou o negócio seja vendido.

nem precisa dizer que o candidato a empreendedor deste tipo de empresa corre riscos, muitos riscos, inclusive o de só achar um  modelo de negócios para o que quer fazer em sua segunda, terceira, quinta ou sétima tentativa de montar o negócio.

e não só: corre o risco maior de errar, aprender, errar, aprender… de passar por muitos ciclos de erro e aprendizado e, por várias razões, inclusive os tempos e as janelas de mercado e dos investidores [e de sua própria capacidade de realização e investimento], nunca "chegar lá". e isso faz parte das regras do jogo.

de nada adianta dourar a pílula e propalar que "qualquer um" consegue criar e evoluir um novo negócio, um novo negócio inovador ou, ainda mais radicalmente, um novo negócio inovador de crescimento empreendedor. muita gente não vai nem conseguir tocar um negócio já existente, quanto mais criar um novo, mesmo que seja um carrinho de pipoca.

é possível formar empreendedores, disso não há dúvida; mas há que haver um conjunto de precondições e predisposições individuais, sem as quais não adianta nem tentar. nem a melhor escola do mundo fará de um cidadão avesso a risco o empreendedor de um novo negócio inovador de crescimento empreendedor.

mas são exatamente estes negócios que precisamos criar para irrigar a base da economia, criando as possibilidades, em mercados maduros e empresas antigas, para, fora delas, tentar novas idéias, produtos e serviços. e novas formas de investir, de gerir, de trabalhar, de contribuir para o desenvolvimento.

tudo isso levando em conta que…

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…são pessoas, como já vimos, que definem o mercado e que, nos nossos tempos, estamos falando de…

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pessoas digitais são o tipo de gente que está nascendo e vivendo em um mundo muito diferente do que aquele onde, por exemplo, eu nasci há 56 anos. para descrever tal evolução, vamos reusar [quase na íntegra] um texto aqui mesmo do blog, de outubro passado, que descreve uma releitura  de um texto da alcatel/lucent [chamado the shift], onde

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…rotulamos as infraestruturas que sustentam os processos informacionais das gerações de pessoas vivas hoje, gente que, obviamente, é quem está definindo o mercado, como mostrado no slide abaixo:

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na coluna da esquerda, uma faixa de anos em que alguém nasceu ou, depois de 2010, ainda vai nascer; à direita, o modo de [comunicação ou] conectividade de seu tempo quando você tinha mais ou menos quinze anos, modo este que provavelmente possibilitou e limitou seu entendimento de mundo.

se você nasceu até 1925, você é do mundo do papel impresso; se teve sorte e estava no lugar certo [no brasil] teve acesso a bibliotecas e jornais [atrasados, e muito] quando tinha entre 15 e 20 anos. além de limitada, e muito, sua informação sobre o mundo era fora de tempo [especialmente na periferia] e pouco você podia dizer para o centro.

nascido entre 1925 e 1945, você é dos tempos gloriosos do rádio; o centro de seu mundo estava na rádio nacional, francisco alves, orlando silva e as rainhas das ondas hertzianas [!] aracy de almeida, dalva de oliveira, dolores duran, linda e dircinha batista, marlene e emilinha borba. entre muitos e muitas outras, claro

nascido entre 1945 a 1965, como eu, você é do tempo da TV; se nascido em 55, aos 15 você viu o brasil ganhar a copa do méxico pela TV ao vivo e isso marcou nossas vidas, por muito tempo. este é também o tempo do cinema, claro, mas a TV, nas casas, logo começou a ter um impacto muito maior e só recentemente o cinema [pelo menos por aqui] voltou a ser o palco que nunca deveria ter deixado de ser, pois ponto de encontro mediático e social.

os que nasceram entre 1965 a 1980 [pegue quem nasceu em 1970, por exemplo] viram os primeiros computadores pessoais assumir seus lugares nos bancos, lojas e supermercados quando tinham 15 anos. os mais afortunados entre este povo da era digital tinham acesso a um PC nos escritórios dos pais, quem sabe até em casa; mesmo com suas poucas centenas de kilobytes de memória e processadores que mais pareciam lesmas comparados aos atuais, era o início, perceptível e utilizável, de uma era digital nos escritórios e nas poucas casas que tinham um PC.

vale a pena lembrar que, aí por 1985, telefone fixo era coisa rara e celular não existia; tenho uma declaração de renda da época… em que linha telefônica era declarada como bem e, em recife, valia quatro mil dólares. coisa de louco. que estava para mudar muito em breve. ainda bem, por sinal.

os anos de fim de uma faixa e de começo da outra, na tabela, colidem e isso é proposital; as faixas, por sinal, não são  nem devem ser tratadas como muito precisas, servem apenas para nos dar uma idéia geral dos tempos em que mudanças e eventos marcantes aconteceram, e pode ter sido mais ou menos tempo e anos para cada coisa ou faixa, dependendo de quem você era ou estava.

mas uma coisa é certa: se você nasceu de 1980 pra frente, quando você tinha quinze anos ou menos havia algo ao redor, ou ao seu alcance [ainda na década de 90, com sorte], chamada internet e esta coisa tinha um caráter completamente diferente de tudo o que tinha acontecido antes em se tratando de tecnologias de informação e comunicação: servia para conectar, mais do que para comunicar. nossa conectividade veio pela internet, e aí nos tornamos agentes independentes, em rede, capazes de contar nossas histórias pela nossa própria e desintermediada voz.

pense numa mudança radical, que mudou tudo o que já existia do ponto de vista de mídia. quer ver? olhe este texto, aqui mesmo do blog, sobre impresso, rádio e TV sendo literalmente consumidos pela web.

mas a vida continua; no brasil, já são 193 milhões de celulares e os telemóveis, no mundo, acabam de atingir 79% de penetração: pelo menos em tese, é quase como se quatro em cada cinco habitantes do planeta tivessem um celular em suas mãos agora; são [ou seriam, dependendo de nossa crença nos dados] cinco bilhões e trezentos milhões de assinantes móveis, contra "apenas" dois bilhões de usuários da internet

isso inclusive porque, se você nasceu de 2000 pra cá, sua era é a da mobilidade; você sabe que pode carregar sua informaticidade com você, que não precisa [e nem deve, talvez] compartilhá-la com mais ninguém e que todas as fontes de informação do mundo para você e de você para o mundo podem ser parte quase que inseparável de sua identidade. afinal de contas, como foi que, num mundo em que "todo mundo" tem um número e onde não há mais nenhuma lista telefônica… todo mundo [que lhe interessa] sabe "seu" número? de que outra forma, aliás, os assinantes móveis do planeta trocariam 200.000 SMS por segundo?…

finalmente, há os que ainda estão para nascer de 2015 pra frente. claro que isso [e é verdade para cada uma das faixas] já inclui gente pequena e grande que está aí agora, hoje: estamos passando a viver em tempos onde temos acesso [e queremos ter acesso] à programabilidade do mundo e dos dispositivos ao nosso redor. não queremos mais, e apenas, acesso às fontes de informação; queremos e vamos programá-las para que forneçam a informação que queremos, que sabemos que temos direito a ter e que, por falta de alguém para programá-la para nós, em nossos formatos, nós mesmos o faremos.

um sinal é a web 3.0, a rede onde, além de inserir meu próprio conteúdo, eu programo as funções que acho que deveriam estar lá. outro, muito mais pessoal, é a grande rede de dispositivos móveis programáveis, onde cada um já "programa" seu smartphone para que ele tenha as funcionalidades essenciais [ou simplesmente preferidas…] do ponto de vista de cada um, vindas de um mercado de apps de possibilidades cada vez maiores, que nos deixa tratar quase cada smartphone como um lego infinito [se tanta memória tivesse para tal].

dentro de uma década não haverá nenhum "celular" que não seja smart, pela simples razão de que "celular", o telefone, já é há muito tempo apenas uma aplicação a mais em um dispositivo [e sistema] que nos habilita, a todos e a cada um, a fazer muito mais do que simplesmente "falar" ao telefone.

este é o mundo de hoje e do amanhã. se você vai simplesmente usá-lo ou está pensando em empreender nele ou para ele, se lembre que as gerações que detêm [hoje] e estão criando [para daqui a pouco] a maior parte das formas de geração de renda, consumo e poder são aquelas das pessoas que estão vivendo em contextos e mercados digitais, conectados, móveis e programáveis.

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isso está centrado em quem nasceu de 1965 em diante, pessoas que hoje têm quarenta e cinco anos ou menos. mas não está e nem vai ficar restrito a estas gerações, pois todo mundo, entre os mais antigos, acaba entrando em fase e em cena, no seu tempo.

este é o mercado onde se vai criar novos negócios, porque estas são as pessoas que fazem o mercado. este é um universo de…

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…para onde nos mudamos e de onde não voltaremos. nem ditadores acossados por muito tempo conseguem "desligar" a rede dos seus países definitivamente, pois rede agora é como eletricidade, é informaticidade, é informática, provida e usada de forma tão simples como eletricidade e bilhetada [e cobrada] como tal, por uso. "desligar" a rede é desligar o país, o governo, os negócios, os hospitais. o tempo da rede não tem volta.

e a informatização pessoal redefine o que é a informática. veja o slide abaixo, combinação de previsões de várias fontes [IDC, forrester, GSMA] sobre o número de smartphones no brasil no ano passado e nos próximos anos:

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seriam 19 milhões de smartphones no fim de 2010, 27 no fim de 2011 [meu chute pessoal é 35 milhões no fim do ano, me cobrem], 75 milhões em 2013 e, no ano da copa, mais da metade da população brasileira teria um smartphone e uma conta de dados. isso afeta mercados estabelecidos [como lanhouses…] e modifica comportamentos em todos os lugares. quer ver?…

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a foto acima é do poço do cânion 2 do rio preto, logo depois da cachoeira,no parque nacional da chapada dos veadeiros, tirada e tuitada de lá, no meu milestone. pedaço de paraíso com cobertura de banda larga móvel, mais de 250km ao norte de brasília. já que deve para tuitar uma foto, aproveitei, troquei uns dois ou tres emeios, ajustei uns itens na agenda, fiz duas ligações e continuei a caminhada, servindo de pasto pros mosquitos da chapada, que devoram repelente como parte da entrada.

então, nosso universo de empreendedorismo [e de educação empreendedora é um de…

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neste contexto… o que é um…

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pois é exatamente isso que vamos tentar responder, com a ajuda de muita gente, no próximo texto desta série. continue conosco.

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Este é o quarto post de uma série dedicada ao metaverso. É muito melhor começar lendo o primeiro [aqui: bit.ly/3yTWa3g], que tem um link pro

O Metaverso, Discado [3]

Este é o terceiro post de uma série dedicada ao metaverso. É muito melhor começar lendo o primeiro [aqui: bit.ly/3yTWa3g], que tem um link pro

O Metaverso, Discado [2]

Este é o segundo post de uma série dedicada ao metaverso. É muito melhor ler o primeiro [aqui: bit.ly/3yTWa3g] antes de começar a ler este aqui. Se puder, vá lá, e volte aqui.

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Silvio Meira é cientista-chefe da TDS.company, professor extraordinário da CESAR.school e presidente do conselho do PortoDigital.org

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