este post é parte de uma série sobre educação empreendedora, derivado de uma palestra dada no sebrae nacional, em brasilia, no 27 de janeiro passado. pode até ser que você entenda o texto que se segue sem ler os posts anteriores; mas os textos foram escritos como se fossem uma palestra, uma conversa, o que significa que há uma sequência, começo meio e, espero, um fim, uma conclusão que faça sentido.
o primeiro post da série está neste link… passe por lá, até para entender o preâmbulo e contexto desta conversa.
nesta série, antes deste texto: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11; depois, nenhum, ainda. simbora.
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hoje vamos tratar da oitava e última das "perguntas de zwilling", fechando parte da série sobre o empreendedor, antes de voltarmos a considerar o negócio em si. no último texto, estávamos passando por uma discussão sobre se nosso empreendedor consegue criar barreiras de entrada para seu negócio, mesmo que haja outros empreendimentos já no mercado.
isso pode parecer difícil… mas a alternativa para nosso candidato a empreendedor é… será que…
esta pergunta pertence, ainda mais que as anteriores, àquela classe de considerações que é muito facilmente respondida por um certo conjunto de frases motivacionais bem básicas. e inúteis, na prática.
uma leitora desta série observa que os textos já publicados perguntam, prenunciam contextos, mostram começos de caminhos mas… para quem quer saber mesmo o que fazer [para cada uma das perguntas que estamos fazendo…] o material para logo antes de apresentar uma solução, talvez um método pronto para ser aplicado, um caminho provado para as coisas darem certo. e tem que parar mesmo.
porque passando do ponto em que estamos parando, estaríamos escrevendo mais um [inútil] livro de auto-ajuda, com as poucas vantagens e os imensos problemas que isso sempre tem. nos tais manuais, prometem a felicidade a baixo custo e curto prazo e o leitor pode até se convencer que sabe, depois da leitura, tudo o que fazer para seu negócio [e sua vida, na maioria dos casos] passar a dar certo. ledo engano. a vida não é tão simples como se quer mostrar em certos textos. empreender é parte da vida; empreender inovando é parte da mudança da vida, do contexto, do mercado, da competição, que às vezes não só tem que ser enfrentada, mas mudada.
se você, passando por esta série, achar que precisa de um texto de auto-ajuda para empreender… é muito provável que você tenha escolhido o problema errado para resolver.
procure coisa mais fácil, um "trabalho" [ou, mais apropriadamente, um "emprego"] em que você possa se esconder dos problemas, onde sua contribuição não será [nem poderia ser] significativa para a evolução do negócio, e onde seu cérebro e sua vontade de evoluir, de se manter vivo, de trabalhar como seres humanos deveriam… vai se esvair em alguns anos.
com tal preâmbulo, e se você não nos abandonou até este parágrafo, está na hora de perguntar-de novo- se nosso empreendedor depois de ter passado em todos os testes anteriores, quer e tem condições de ser o primeiro no mercado?
a resposta não está codificada em nenhum livro de auto ajuda. você pode até ler uns textos como este, que estão ali na linha divisória do gramado entre informação para reflexão e métodos para efetivamente resolver problemas complexos como os que você vai ter desenvolvendo um novo negócio. lido criticamente, mesmo um texto de auto-ajuda pode oferecer algo a que você não tinha acesso antes.
mas o problema de ser o primeiro no mercado é complexo e a literatura da área mostra que não há resposta óbvia para os desafios que o empreendedor ou a empresa enfrentariam. estudos muito recentes ainda discutem se são os "primeiros no mercado" ou os "segundos no mercado" que agregam mais valor ao negócio e dão mais retorno a seus investidores. há cenários claros onde, se você for o primeiro a chegar e não atingir, e rápido, uma posição dominante, os segundos sempre terão mais retorno sobre o investimento deles no "seu" mercado, o mercado que você criou, do que você mesmo.
a apple é uma das empresas que tem conseguido ir contra esta tendência, criando "first mover advantages" que persistem por um bom tempo, tempo mais que suficiente para, quando da chegada de outros, ela já ter tido tempo de obter retornos sobre investimento muito maiores do que a média da indústria.
aí você diria: "ah, mas a apple não é um first mover, não foi ela que lançou o primeiro celular…". olhe de novo, com cuidado: não só o iPod foi o primeiro de sua classe, resolvendo um problema "sistêmico" que nenhum dos dispositivos mp3 anteriores resolvia [articular todo um mercado ao redor do dispositivo, vender música com prejuízo, mas ter altíssimas margens no hardware] mas o mesmo conceito foi, depois, estendido para o iPhone. e com um detalhe: a experiência de uso do iPhone não só foi primeira mas, por muito tempo, única.
facebook tem uma história parecida para contar, assim como muitas outras empresas. se seu negócio, nascente ou não, vai ter os meios e os tempos para fazer o que eles fizeram… bem, aí é uma outra história. a literatura e a experiência mostram que mudanças sistêmicas e de paradigma, ou mesmo mudanças de foco e estratégias de negócios, não são, nunca são, triviais.
quer ver um caso histórico, daqui mesmo do brasil? a indústria de jogos para celulares nasceu morta, por aqui, no começo dos anos 2000. como assim? simplificando uma longa conversa, "tudo" o que precisava acontecer para ela dar certo, na época, era as operadoras móveis [ou pelo menos duas delas] terem construído, com as micro empresas de jogos móveis, um modelo de negócios que remunerasse o investimento das empresas de jogos no primeiro momento e as operadoras no segundo.
mas não: as operadoras queriam "apenas" 80, 90% da renda dos jogos móveis… na partida, sem nem terem se dado ao trabalho de criar planos de dados para download dos jogos… e o resultado foi o estrangulamento e posterior desaparecimento de quase todas as empresas de jogos móveis do começo da década passada. quem sobrou mudou de negócio.
um dos maiores problemas do "primeiro no mercado" –além de ter um produto ou serviço que faça sentido, claro- é construir o mercado e suas regras. se depender de agentes monopolistas [ou quase], satisfeitos com sua situação e retorno correntes [assim como as operadoras estavam e estão…], tal construção pode ser impossível, dados os meios, recursos e tempo do empreendedor.
entre os meios, deve-se contar as conexões: se seu negócio tem dinheiro inteligente e conectado por trás, daquele tipo de dinheiro que tem intimidade e pode fazer ligações com os principais agentes do mercado para ouvir seus argumentos… dinheiro que pode convencer agentes a correr riscos junto com você, fica mais fácil mudar a posição dos agentes dominantes.
mas, como já se comentou aqui mais de uma vez, é impressionante a quantidade de pessoas que resolve criar um negócio ou produto que vai ser o primeiro no mercado e depende de tais tipos de contextos, agentes e mudanças e não entende –porque na maioria das vezes nunca pensou sobre o assunto- a complexidade do problema de criar ou mudar um mercado.
daí a pergunta: nosso empreendedor quer –e tem condições- de ser o primeiro a chegar no mercado?… a resposta não é fácil e, seja qual for, sendo primeiro ou segundo…
…um problema não trivial, que vem a ser o de…
…que vem a ser o assunto de nossos próximos textos. incluindo uma reflexão sobre porque um "modelo" de negócios é algo radicalmente diferente de um "plano" de negócios. você sabe qual é a diferença? pense, fique na escuta e até a próxima.