dia destes o blog publicou um texto sobre o tamanho e o potencial da internet na economia, mostrando onde estamos e onde poderíamos chegar SE tivéssemos políticas, estratégias e determinação para tal, ao invés de, pura e simplesmente, conversas, manobras e desencontros.
o texto passado usou gráficos da mcKinsey publicados durante o e-G8 em paris e, logo depois, a consultoria internacional publicou o texto completo, Internet matters: The Net’s sweeping impact on growth, jobs, and prosperity, que vale a pena ler e guardar pra fazer comparações no futuro.
como já discutido aqui, avalia-se o tamanho da oportunidade da internet para países como o brasil olhando para um dos gráficos do relatório, justamente a imagem de sua chamada na web:
a imagem acima diz que nos países onde a rede está bem estabelecida a contribuição da internet ao crescimento do PIB foi, em média, 21% nos cinco anos entre 2004 e 2009. nos BRIC, grupo em que estamos, onde ainda persiste todo tipo de problema para conectar pessoas, economia e sociedade, tal contribuição ficou em 3%, com o brasil ficando em apenas 2%.
o relatório, de 70 páginas, fornece evidências para apoiar grandes projetos nacionais de inclusão digital, intensa, em todos os níveis, de pessoas e negócios. veja esta…
…mostrando que pequenos e médios negócios que atingem alta proficiência e intensidade de uso da web crescem e exportam duas vezes mais do que outros, menos competentes na rede.
ocorre que aqui no domínio .BR as coisas não estão como talvez devessem. olhem só o gráfico abaixo…
…mostrando a correlação dos índices i4F, de intensidade e qualidade de capital humano, financeiro, infraestrutura e ambiente de negócios e supply, de intensidade de fornecimento, que indica se o país é mais pra fornecedor do que consumidor das tecnologias e serviços de rede. o brasil está lá no fundo do poço dos dois índices neste conjunto de treze países.
nada pra gente ficar se lamentando que aqui as coisas não andam, que o lugar não tem jeito e a choradeira de sempre. trata-se de entender a oportunidade, seu tamanho –mundial e não apenas local- e partir pra dar conta dela. o relatório da mcKinsey dá algumas pistas do que fazer, todas elas conhecidas há muito tempo por aqui, parte do grande diagnóstico nacional e raramente alvo de um conjunto de ações, profundas, financiadas e de longo prazo, que nos façam resolver parte considerável do problema.
falta gente: temos que educar mais e melhor; temos que fazer e, mais cedo ou mais tarde, vamos fazer isso. só que esse “isso”, educar, leva tempo. até lá, mesmo que comecemos a educar mais e melhor agora, que tal trazer gente de fora? isso não faz mal, ao contrário do que muita gente pensa, até porque somos um país de imigrantes, no momento um monte dos quais ilegais, fugindo de seus problemas na américa latina para aproveitar a boa fase do brasil. por que não criamos condições para gente do mundo todo vir para cá, agora que precisamos de tanta gente, especialmente em TICs, e não há?…
temos poucos sistemas locais de inovação como o porto digital e o tecnopuc, focados em TICs: que tal criar mais e financiar muitos, inclusive os que existem, numa escala que os torne globalmente competentes? fora dos estados unidos, todo mundo fez e faz isso: inglaterra, coréia, espanha, china… e nossa política de parques tecnológicos é um vagalume. vez por outra acende. mas só muito vez por outra. ao invés dos bilhões de reais que deveríamos destinar para aglomerar competências tecnológicas e de negócios e aumentar a escala e alcance das empresas, nos contentamos com uma tal pequena empresa de base tecnológica que raramente atinge um estágio de maturidade que a torna economicamente interessante.
há pouco investimento em inovação e empreendedorismo em TICs: que tal ampliar os mecanismos de financiamento existentes e promover, em larga escala, o investimento privado? de risco, principalmente, em todos os degraus da escada de valor de criação e evolução de novos negócios inovadores de crescimento empreendedor? EUA, coréia, china, israel e, mais recentemente, inglaterra e chile estão fazendo isso. aliás, chega a ser constrangedor ver startups brasileiros sendo levados para o chile [veja isso aqui, startupchile.org, “…a program of the Chilean Government to attract world-class early stage entrepreneurs to start their businesses in Chile”]. dos 110 projetos de 28 países escolhidos pelos chilenos para 2011, 4 são brasileiros [e 13 são argentinos].
nossa infraestrutura é deficiente, disso sabemos há muito. vamos criar e operar, a sério e a longo prazo, políticas, estratégias e financiamentos para o setor privado resolver o problema?… o japão fez isso, há tempos, forçando a NTT, estatal, a sair de sua paralisia e agir pra não perder mercado. aqui, estamos tentando criar uma estatal para fazer o setor privado sair de seu sono eterno?… por outro lado, quando há evidências que o setor privado não pode dar conta do problema pois não há renda suficiente no mercado alvo, o estado tem mesmo que intervir e isso acontece até em países muito ricos como a suécia, onde o governo está investindo mais de meio bilhão de euros para oferecer alta conectividade a populações de áreas pouco densas.
finalmente, capital: empresas de tecnologia de informação e comunicação não são construídas com empréstimos, mas com investimentos inteligentes, que têm agenda, design, conectados a múltiplas redes de valor. e isso tem que estar associado a muitas outras condições, como uma política de encomendas estratégicas, ao invés de compras governamentais [já falamos disso aqui]. esta é uma constatação global, não é algo que serve para o brasil ou países em desenvolvimento.
nem tudo está perdido. o que perdemos até aqui foram os primeiros 15 anos de negócios da economia das redes, da informação e do conhecimento. isso não deveria ser razão para não olharmos o futuro de forma curiosa, confiante e decidida. há 100 anos, china, japão, coréia, índia, israel, finlândia e mesmo EUA não existiam num cenário industrial global dominado por uns poucos países europeus. israel, então, não existia literalmente. e eles não chegaram onde estão por acaso. nós tampouco chegaremos em qualquer lugar relevante só dependendo de acasos.
mas podemos fazer mais, muito mais. e podemos começar já. ontem.
PS: acima, uma sessão do conselho nacional de política industrial e comercial, em 1944. o conselho, cuja missão era desenhar o país do futuro, depois da guerra, teve vida curta: criado em 1944, fechou em 1945. mesmo assim, foi palco de grandes debates, protagonizados por roberto simonsen, eugênio gudin e muitos outros. mas foi só, ao fim e ao cabo, palco. e por pouco tempo.
pra desenhar um futuro no presente, de verdade, pro futuro, precisaremos de muito mais que palco. senão, mal comparando, ainda veremos um mário, sobrinho de roberto, inaugurando fábrica de alguma “cobra” do futuro daqui a 30 anos, como parte de uma reserva de mercado da época, como na foto abaixo, de 27 de julho de 1979.