a temperatura da nasdaq, a bolsa onde são negociadas as ações das empresas de tecnologias de informação e comunicação, anda elevada. dia 30 de setembro, as ações google deram um tilt e chegaram a ser negociadas por US$250, o que foi depois atribuído a "ordens erradas" e expurgado do pregão. quando tudo vai mal, tudo fica ainda pior. o que mesmo está acontecendo no setor? nos últimos três meses, quando a crise financeira americana foi mesmo para o fundo do poço, a bolsa nasdaq caiu cerca de 10%. pra você comparar, a bovespa caiu 20% no mesmo período. apesar do que diz a propaganda governamental [e boa parte da mídia nacional], eles espirram por lá e a gente tem que se limpar por aqui. mas vamos voltar a tecnologia propriamente dita, olhando pro gráfico abaixo, cortesia de yahoo finance.
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a linha azul é google, que está em seu menor valor desde 2006, abaixo de US$400 e prometendo migrar para a linha de US$350; perdeu 22.5% em três meses [e vale perto da metade de seu pico]. recessão significa menos anúncios, no topo de todas as dúvidas que pairam sobre o modelo de negócios da companhia. a linha verde é a intel, com quase 15% a menos; recessão significa menos chips vendidos. a linha marrom é a própria nasdaq, com a depressão mais à direita no gráfico correspondendo ao dia em que o congresso americano não aprovou a proposta original para salvar as instituições financeiras. neste único dia, o valor que desapareceu das companhias de tecnologia foi de mais de US$110B.
a linha vermelha é a amazon, que sofreu em relação a agosto, quando valia 20% a mais do que hoje. aparentemente, mais recessão siginifca menos vendas [de livros, também]. a linha amarela, bem perto da perda zero, é a microsoft. significa que, crise ou não, a empresa venderá mais windows e office? não: quer dizer que a microsoft está muito bem estabelecida no mercado e que, mesmo depois das correções da economia, o mundo vai continuar funcionando. a empresa está na bolsa desde abril de 1986 e vale, hoje, 30.000% a mais do que no seu primeiro dia na nasdaq. a ibm, que já estava na bolsa quando a microsoft chegou, vale umas três vezes mais.
sobre a crise, ouça steve ballmer, o CEO de redmond: "We have a lot of business with the corporate sector as well as with the consumer sector and whatever happens economically will certainly effect itself on Microsoft… I think one has to anticipate that no company is immune to these issues… There are parts of our every business which are probably ‘safe’ in the sense that it’s not like our business would go to zero… On the other hand, when businesses have less money -they can borrow less money, they can spend less money- that can’t be good." em suma? a economia afeta a microsoft; quando os negócios têm menos dinheiro e gastam menos, isso não pode ser bom para ninguém. até aqui em pindorama parece que tal análise tá pegando… inclusive na propaganda governamental.
no encantado mundo de google, por outro lado, eric schmidt, que toca o barco, diz que "o negócio continua como sempre", bem ao estilo da companhia e do silicon valley. mas… todo mundo concorda que a janela para IPOs, o primeiro lançamento de ações das companhias nas bolsas, tá fechada. e que vamos ter uma start-up depression, ou seja, quem tem investidor vai provavelmente perder se não estiver muito perto de se tornar negócio de verdade; quem está dizendo que já conseguiu um está muito provavelmente enganando a si mesmo e quem não tem… bem… que tal fazer um ótimo, ao invés de bom, plano de negócios? com um protótipo que já pareça muito com a coisa que vai vender antes de falar com os investidores e se preparar pra muita, mas muita conversa antes de ver qualquer dinheiro?
seja lá qual for seu caso, se anime: até agora, o mundo não acabou, tanto que a internet continua ligada e acessível. meu primeiro sinal de fim de mundo -ou da civilização como conhecemos- é a internet saindo do ar, razão pela qual sempre acho que meu provedor é o fim do mundo. mesmo que acabe, temporariamente, pra você, saiba que o empreendedor de verdade sempre tem cartas na manga, mesmo que use t-shirts. e veja uma lista de companhias que foram para o espaço no .bomb [em 2000/1] e o que seus empreendedores estão fazendo hoje. e confirme que o verdadeiro empreendedor sempre volta a empreender, como se empreendedorismo fosse um tipo, talvez incurável, de neurose.