há oitenta anos, a IBM era uma das duas grandes companhias de tecnologias de informação e comunicação que estava na -até bem pouco- maior crise de todos os tempos, a grande depressão de 1929. a outra era a at&t, se bem que a companhia que hoje usa este nome não tem muito a ver com a empresa homônima que existia, no fim da década de 20, nos estados unidos.
a ibm, inicialmente chamada computing-tabulating-recording company [CTR], foi resultado de uma fusão, em 1911, de outras empresas que já existiam desde o século XIX. em 1914 [começo da primeira guerra mundial], o negócio começou a ser dirigido por thomas j. watson sr., que estava à frente das operações quando começou a grande depressão, com o crack da bolsa de new york em 1929.
só pra lembrar, a economia da época levou três longos anos pra chegar ao fundo do poço: em julho de 1932, o índice do new york times chegou a 1/9 de seu valor de outubro de 1929, logo antes do crack. as ações da IBM, que já usava seu nome atual desde 1924, voltaram ao mesmo patamar de 1921. a empresa havia perdido 11 anos de ganhos.
e o que watson sr. fez, em tempos de crise? investiu. nos empregados, por exemplo. a IBM esteve entre as primeiras empresas a oferecer seguro de vida em grupo [em 1934] e férias pagas [em 1937] a seus funcionários.
watson sr. também resolveu continuar fabricando equipamentos para os quais não havia demanda garantida, contra os conselhos de seus principais acionistas. quase foi demitido da presidência do negócio, pois a atitude era verdadeiramente temerária numa crise daquela monta. o negócio talvez tenha sido salvo pelas pela lei de seguro social de 1935, que encontrou na IBM a única empresa com capacidade para tratar os registros das 26 milhões de pessoas que passavam a ser protegidas pela [então] revolucionária legislação criada pelo governo de franklin roosevelt. exatamente porque watson sr. era o único que tinha fabricado os equipamentos para prestar o serviço. e havia mantido os funcionários para fazê-lo.
neste particular, a ibm teve muita sorte. continuar produzindo sem mercado, ou com muito menos mercado, certamente não é prática recomendável em nenhuma época, com ou sem crise. a menos que você e seus planejadores tenham uma bola de cristal. e daquelas de alta precisão. vamos convir que não há muita gente com acesso a uma destas nos nossos tempos.
mas foi em 1932, no auge da crise, que watson sr. fez seu investimento mais revolucionário. apostando que o mundo não ia se acabar e que, depois da crise, haveria demanda para produtos e serviços melhores, mais eficazes, mais eficientes e mais baratos do que antes, watson detonou um milhão de dólares da companhia na construção do mais moderno laboratório de pesquisa e desenvolvimento de seu tempo, em endicott, ny. o lab ficou pronto em 1933 e custou 6% do faturamento, que andava escasso.
a visão de watson sr. para o futuro era clara, direta e precisava de tal investimento. em rochester, na câmara de comércio, no auge da crise, ele perguntava e respondia: "When is industrial progress going to start again? I say it never stopped. Some people may not believe that, but it is a fact. You are going to find as we get further out of the Depression —and we are on our way ou — that inventive genius, progressive ideas, progressive people, have been more active than ever. Industrial progress has never stopped." ou seja: quando sairmos da depressão, vamos descobrir que o gênio inventivo, as idéias e pessoas progressistas terão estado mais ativos do que nunca. e estiveram mesmo, com a ibm à frente. o faturamento da companhia, na crise, subiu de US$19M em 1934 para US$31M em 1937 e continuou crescendo pelos próximos 45 anos. e watson sr. se tornou um dos executivos mais bem pagos dos estados unidos.
nesta crise não vai ser diferente. ao invés de esperar, invista. talvez você não deva se arriscar tanto quanto watson sr., mas não fique parado. se você não tem um negócio e acha que as coisas vão mesmo piorar por um tempo, aproveite e aprenda, rápido. estudar nunca fez mal a ninguém. se você tem um negócio de TICs, pequeno ou grande, invista também. e faça isso de forma seletiva, usando suas energias em coisas que sobreviverão aos tempos em que talvez tenhamos que fazer muito mais com muito menos. e se lembre que ter que fazer mais com menos é uma das maiores e melhores fontes de ações inovadoras. com ou sem crise.