o IPEA, instituto de pesquisa econômica aplicada, no comunicado 147, trata do download de músicas e filmes no brasil: um perfil dos piratas online. luis cláudio kubota e rodrigo abdala filgueiras de sousa apresentaram o estudo que, como muito do que vem da mesma fonte, é um texto valioso. sabia que só há cinemas em apenas 508 dos de 5564 municípios brasileiros?
sabendo, você se assustaria ao descobrir que 75% da classe A, 80% da B, 83% da C, e 96% das classes D e E são "piratas", pelo estudo do IPEA? pirata, aqui, rotula quem "baixa" conteúdo pelo qual sabe que deveria estar pagando… mas não paga. a classificação do IPEA é frouxa: você baixou algo nos últimos três meses [pouco importa se pagou ou não…] E pagou por algum conteúdo online nos últimos doze meses?… OK, você não é pirata. mesmo que tenha comprado só um ringtone no último ano e tenha baixado todas as suas séries preferidas usando métodos não necessariamente aprovados pelos detentores de copyright.
mas, e se você mora em taperoá, quer pagar para ver um filme no cinema e não há um por lá? pirataria, ao fim e ao cabo, pode não ser questão de preço, mas de acesso. ou qualidade do conteúdo. ou os dois, ao mesmo tempo. pirataria, sabe-se há muito, pode ser apenas mais um modelo de negócios…
agora, pense: há tempos em que a moral e a ética estão à frente da lei e a última precisa ser reescrita para dar conta da evolução das primeiras. se mais de 3/4 da população de todas as faixas de renda e níveis de educação está "pirateando" conteúdo na rede… será que as pessoas estão "certas" e a lei está "errada"?…
a suíça, país onde 1/3 da população é "pirata", descobriu há pouco tempo e contra a poderosa pressão da indústria global de direitos autorais, que a cópia pirata, para uso pessoal, não afeta de forma significativa o mercado de conteúdo… e que, por isso, o download de conteúdo, para uso pessoal, é absolutamente legal.
se rolar um voto sobre "legalidade" da pirataria [para uso pessoal] no brasil… os "piratas" quase que certamente ganhariam. caso contrário, e dando crédito aos números do IPEA, nossa hipocrisia estaria em órbita. e logo ali em eta carinae. e, apesar de compartilhar o continente com os EUA, nem sempre precisamos ser tão hipócritas quanto; podemos, se vamos imitar alguém, fazê-lo com os suíços…