em 1996, alan sokal perpetrou o que é até agora uma das maiores pegadinhas da indústria mundial de publicação científica. o affair, que até hoje leva seu nome, consistiu [primeiro] na submissão de um texto obtuso, porra-louca e, de resto, completamente infundado, à revista social text, que havia sido seqüestrada pelo que sokal rotulou, à época, de “pós-modernistas”… e que olavo de carvalho definiria muito bem como um “imbecil coletivo” científico. roberto campos, aliás, escreveu um excelente artigo na folha sobre o assunto, e começa justamente com a definição de carvalho para o “coletivo”: “O imbecil coletivo… é uma coletividade de pessoas de inteligência normal ou mesmo superior, que se reúnem movidas pelo desejo comum de imbecilizar-se umas às outras”.
face à aceitação de sua piada para publicação em social text, sokal publicou um paper sério, desmontando a pegadinha, no principal concorrente, o jornal dissent. e o resto é história; o debate decorrente da situação criada por sokal vem até hoje, o que levou o próprio a publicar um livro sobre a situação e seu “artigo”. michael shermer, publisher de skeptic e colunista da scientific american, acaba de escrever uma crítica [muito interessante] ao livro de sokal no new york sun, que acaba mais ou menos assim…
There is progress in science, and some views really are superior to others, regardless of the color, gender, or country of origin of the scientist holding that view. Despite the fact that scientific data are “theory laden,” science is truly different than art, music, religion, and other forms of human expression because it has a self-correcting mechanism built into it. If you don’t catch the flaws in your theory, the slant in your bias, or the distortion in your preferences, someone else will, usually with great glee and in a public forum for example, a competing journal! Scientists may be biased, but science itself, for all its flaws, is still the best system ever devised for understanding how the world works…
em bom português… a ciência tem seus problemas, mas também tem, embutido no processo e métodos científicos, um sistema de auto-correção. se você não descobre [ou não revela] os erros de sua teoria ou a polarização de sua análise, alguém vai fazer isso; e quanto mais importante for sua suposta descoberta ou comprovação de alguma coisa, se ela for insustentável, tão mais retumbante será a refutação pública do que você acha que é a verdade. a ciência ainda é a melhor maneira de entender e mudar o mundo. shermer, cético de profissão, falou e disse. e isso se aplica ao debate recente, no país, sobre as células-tronco embrionárias. a ciência venceu os dogmas e, se for mesmo ciência, continuará vencendo. sempre.