a imagem abaixo mostra, graficamente, qual é a taxa de acerto de um algoritmo ao prever os votos dos juízes da suprema corte dos EUA, usando apenas dados disponíveis antes da decisão, durante os últimos 60 anos. quanto mais verde, mais o algoritmo “previu” o comportamento de um ministro do supremo americano.
não está na pauta –nem é hora, e talvez nunca seja admissível- substituir os juízes por algoritmos, claro. pelo menos ainda. mas os pesquisadores por trás do estudo dizem que “o que watson fez em jeopardy é o que nós queremos fazer na suprema corte”. e o que foi, mesmo, que watson fez em jeopardy? e o que é jeopardy? e “quem” é watson?
jeopardy! é um jogo de perguntas, feitas a humanos, que rola na TV americana há exatos 50 anos. talvez seja um dos programas mais conhecidos dos EUA, até porque testa uma das facetas do cérebro, nossa capacidade de responder perguntas. muitas delas, por sinal, não triviais. humanos competem entre si, tentando responder as perguntas mais rápida e corretamente, e ganham dinheiro com isso. às vezes, muito. os maiores campeões, ken jennings e brad rutter [esq. e dir., abaixo], ganharam mais de 5 milhões de dólares entre os dois.
aí entra watson, um [conjunto articulado de] algoritmo[s] da IBM, rodando sobre um supercomputador, com a capacidade de processar perguntas em linguagem natural e dar respostas da mesma forma. numa competição histórica em 2011, desconectado da web [senão era “só” varrer a rede atrás das respostas], watson derrotou jennings e rutter e ganhou o grande prêmio de US$1 milhão. hoje, a IBM está testando watson no diagnóstico de câncer –e parece que “ele” é melhor do que os médicos “humanos” ao fazer isso, até porque tem memória e capacidade de processamento para considerar a doença do ponto de vista genético. para a IBM, watson não é um brinquedo; a empresa trata o projeto como ponto de partida para o que pode ser um “serviço”, em rede, capaz de resolver uma miríade de problemas [jurídicos, também?] e gerar bilhões, em faturamento, por ano. watson pode ser a primeira plataforma multibilionária de inteligência artificial [IA] no mercado global.
saindo da quase ficção da previsão das decisões de juízes à melhoria do diagnóstico médico e passando pela tese de que pode [já, agora, em todo canto do mundo] haver um mercado para inteligência artificial, que tal olhar pra algo muito mais básico, que está no mercado americano agora, e nem tem IA sofisticada por trás [talvez não tenha nenhuma] mas, ao invés de substituir juízes, quer mexer no mercado dos advogados? olhe pra legalzoom.com, fundada lá em 2001 mas que começou a preocupar os advogados dos EUA nos últimos 3 anos, porque começou a ficar grande [demais?]. a legalzoom é um “comoditizador” de serviços jurídicos que são simples demais para serem necessariamente tratados por advogados humanos. como fazer um testamento padrão. ou trocar de nome. ou abrir um negócio [lá nos EUA, claro; aqui é um inferno].
legalzoom não é o único exemplo; google ventures é um dos investidores de rocket lawyer, quem sabe porque o futuro da “advocacia online”, baseado em algoritmos que quase certamente terão muito mais IA e que dependerão de “big data”, da capacidade de gerir o ciclo de vida de grandes volumes de dados e responder perguntas sobre eles. isso, ninguém duvida, google sabe fazer. e o número de negócios jurídicos "virtuais" não para de crescer, e poderá chegar no brasil em breve. atrasado e adiantado, ao mesmo tempo. mas essa é outra história, ligada à cultura brasileira de inovação, à qual, um dia, vamos tratar sob a ótica deste texto.
enquanto isso, leia o artigo onde se mostra como os últimos avanços em aprendizado de máquina já permitem prever os votos de juízes, algo que a gente achava impensável há poucas décadas. ou há poucos anos. depois, imagine [depois de ler este texto, aqui do blog, sobre “informatização das profissões”], se e quando é que a coisa chegará na sua profissão e o que é que você tem que fazer para escapar.