TODOS OS NEGÓCIOS estiveram sob gigantesca pressão para fazer DUAS COISAS nas últimas semanas, quando cinco décadas de um processo de transformação digital que vinha, para muitos, se desenrolando de forma lenta e gradual, de repente se transformou num APOCALIPSE DIGITAL: a primeira, aprender em velocidade de crise, com meses transformados em semanas e estas, em dias ou horas; a segunda, aprender e, ao mesmo tempo, escalar, criando e agregando valor a comunidades que antes não existiam ou eram uma fração do seu tamanho de crise.
A demanda por aprendizado, especialmente sobre e para tudo o que é digital e suas aplicações e usos, cresceu ordens de magnitude, em volume e velocidade. Por uma razão muito simples: sobrevivência. Como todos podem imaginar, há diferenças fundamentais entre estudar e aprender. Digamos, por alto, que estudar nos ajuda a responder questões e aprender nos prepara para resolver problemas. As primeiras, no universo abstrato das teorias; os segundos, no ambiente imediato e prático da realidade.
Nos últimos sessenta e tantos dias a realidade mudou radicalmente em muitos mercados, com a presença física dos negócios desaparecendo, às vezes completamente, em função da quarentena. Havia quem estivesse preparado para “trabalhar de casa”, o que não é a mesma coisa que “home office”, porque a vida toda das pessoas -inclusive filhos, quando foi o caso, se mudou com elas, pra casa. Mas no caso de muitos negócios, o ambiente de trabalho, mesmo que fosse de informação, dependia de infraestuturas físicas que não podiam sair do escritório. No caso de muitos outros, como no varejo, não havia presença virtual, pura e simplesmente, e tudo teve que ser construído em dias, semanas, no máximo.
E isso levou os líderes de muitos negócios a descobrir pelo menos duas coisas que talvez não sejam necessárias em tempos de bonança e estabilidade: primeiro, que a mudança rápida -inclusive para um modo digital de operação- é muito mais possível do que a vasta maioria pensava; segundo, que o domínio do ciclo de vida de dados -mesmo em operações analógicas- é a chave para mitigar e gerenciar mudanças rápidas, digitais ou não. De novo, questão de sobrevivência. E se deu ainda melhor quem era -de verdade- resiliente, essa palavra que tantos pronunciam e tão poucos sabem o que verdadeiramente significa. Porque resiliência vem da cultura, arquitetura, métodos e processos do negócio, e não de sua tecnologia e planos de contingência. Afinal de contas, quem tinha um plano, pronto, para as consequências de algo tão poderoso como COVID-19?
Muito já se disse sobre os efeitos dessa pandemia e um certo novo normal que ela deverá provocar. Mas não será um único normal; serão muitos, e por muito tempo. Mercados inteiros desaparecerão, levando consigo as empresas, hábitos e consumo que lá estavam. Não é novidade, aconteceu muitas vezes na história, acontecerá agora. Outros mercados ficarão iguais, uns devem crescer de forma explosiva, alguns nem tanto. E novos mercados serão criados, sem dúvida. Quais? Quem disser que tem certeza deve ter acabado de chegar do futuro. Quem quiser saber mesmo… tem que ir até lá.
O futuro vem do futuro. Às vezes, lentamente. O primeiro ecommerce é de 1994. Isso mesmo, mais de 25 anos. E tem gente que só agora descobriu que é vital, e aprendeu de uma hora pra outra que precisava de um “site”, o que é um “lead”, como fazer “SEO”… agora. Deram sorte, iriam desaparecer sem notar. Talvez demorem a ter uma plataforma de negócios digitais como parte de um ecossistema em rede… se chegarem lá. Mas o milagre operado pelo apocalipse digital já é mágico: nunca tantos aprenderam tanto em tão pouco tempo sobre um novo sistema operacional para negócios -no modo digital- que já estava aí há tanto tempo.
Um aprendizado essencial, em tempos de crise, deve considerar as empresas que atravessaram muitas delas. A história das organizações mais resilientes do mundo corporativo ensina que elas sobreviveram a transições como COVID-19 investindo em talentos, pesquisa, desenvolvimento e inovação e criando e evoluindo relacionamentos e redes de valor de alta confiabilidade. Além de lideranças coerentes que tratem todas as pessoas, no negócio, como líderes, inclusive de si mesmos. É isso que se aprendeu em crises como essa, no passado.