a proporção de mulheres trabalhando em ciências, matemáticas e engenharias, incluindo informática, é muito menor do que a proporção de mulheres na sociedade. e isso não tem nada a ver com uma maior capacidade dos homens para tais assuntos. mas o fato é que não é incomum, em conferências da área de informática, a audiência ser composta por 70, 80 e até 90% de homens.
um estudo que acaba de ser publicado, analisando os últimos 35 anos de pesquisas sobre o assunto, revela que as diferenças de sexo [cérebro, hormônios…] e institucionais [como discriminação e preconceito] não são fatores primários para explicar porque há muito menos mulheres nas engenharias e ciências exatas do que sua porcentagem na população.
uma das autoras do estudo, susan barnett, diz que as mulheres deveriam representar perto de um terço dos professores sênior de matemática, nos EUA, se fosse levado em conta, para chegar lá, a porcentagem de mulheres que estão entre os 1% melhores em matemática na população como um todo. mas as mulheres em posições de senioridade nos departamentos de matemática dos EUA são menos de 10%…
segundo o professor stephen j. ceci, que liderou o estudo, "A major reason explaining why women are underrepresented not only in math-intensive fields but also in senior leadership positions in most fields is that many women choose to have children, and the timing of child rearing coincides with the most demanding periods of their career, such as trying to get tenure or working exorbitant hours to get promoted"… ou seja, a principal explicação para poucas mulheres em ciências, engenharia e, em geral, cargos de liderança, é que a maior parte das mulheres decide ter filhos, e a época em que isto acontece coincide com os períodos de maior demanda em suas carreiras; aí, os filhos ocupam as horas em que elas deveriam estar trabalhando feito loucas [como os homens o fazem] para se candidatar às promoções e espaços nas universidades e corporações.
tem mais: os autores concluem que não adianta, simplesmente, "atrair" mais mulheres para carreiras de ciências, matemáticas e engenharias; é preciso criar alternativas práticas de carreira para as mulheres, incluindo degraus de progressão, no trabalho, que levem em conta a maternidade e a possibilidade, durante a primeira fase de crescimento dos filhos, de trabalho em casa. coisas a se pensar quando se fala em "oportunidades iguais" no mercado de trabalho e se leva em conta que [pelo menos por enquanto] as mulheres precisam mesmo ter filhos… senão a humanidade não tem futuro.
o artigo, Women’s Underrepresentation in Science: Sociocultural and Biological Considerations, de stephen j. ceci, wendy m. williams e susan m. barnett, publicado no psychological bulletin, uma das revistas mais importantes do mundo na área, está disponível neste link. boa leitura.