em junho passado este blog publicou um texto sobre a importação e exportação de eletrônicos, onde se dizia que… o déficit da balança de eletrônicos, até maio deste ano, já está 61% maior do que no mesmo período no ano passado [que foi, por sua vez, 41% maior que 2006, comparando ano a ano]. estima-se que o rombo passe dos US$20B em 2009, resultado de um mercado interno que compra cada vez mais PCs, laptops, celulares e tudo que tem, dentro, componentes, partes e peças que importamos a granel da ásia, combinado com uma muita dificuldade de exportar o que é produzido aqui, por causa do que se convencionou chamar de “custo brasil”, que agora inclui um real tão valorizado como há uma década.
de lá pra cá, o real se desvalorizou muito, o que deveria ser parte das boas notícias para o setor, mas não é: dólar mais caro significa insumos mais caros, principalmente componentes eletrônicos importados majoritariamente da ásia para o brasil, o que, como mostramos em outro texto, acaba complicando o cenário para os fabricantes nacionais de eletro-eletrônicos.
pois bem. a abinee acaba de publicar os resultados da balança comercial até setembro [ou seja, até o começo da "crise"] e a situação piorou um pouco. nos primeiros nove meses do ano, o déficit de eletro-eletrônicos está 65% maior do que no ano passado, como mostra a figura deste parágrafo. segundo a associação da indústria eletro-eletrônica… No acumulado de janeiro a setembro de 2008, o déficit comercial de produtos eletroeletrônicos foi de US$ 17,22 bilhões, 65% acima do ocorrido no mesmo período do ano passado (US$ 10,44 bilhões). Este total é resultado de exportações de US$ 7,53 bilhões e importações de US$ 24,75 bilhões …este saldo negativo é recorde histórico, e o resultado acumulado nos nove primeiros meses deste ano foi superior ao total acumulado nos 12 meses dos anos anteriores. Vale lembrar que, no ano todo de 2007, o déficit atingiu US$ 14,75 bilhões.
a abinee ainda deixa claro que… neste período ainda não foram contabilizados os efeitos que podem ocorrer em função da crise mundial. Portanto, por enquanto, permanece a previsão de o setor encerrar este ano com saldo negativo de US$ 20,6 bilhões, resultado de exportações de US$ 9,3 bilhões e importações de US$ 29,9 bilhões.
por um lado, a notícia é boa: como o país está crescendo e qualquer parte da infra-estrutura de qualquer país depende de eletrônica e informática, estamos investindo massivamente no que deveríamos estar investindo, inclusive do ponto de vista pessoal, com um monte de empresas [e pessoas] comprando, por exemplo, seu primeiro PC.
por outro, talvez se deva notar que o setor industrial de informática, no país, não é competitivo internacionalmente, o que significa que temos em voga, ainda, uma política industrial de substituição das importações. importamos componentes e fabricamos equipamentos [PCs, celulares…] para suprir o mercado nacional, com uma pequena parcela de exportações para, principalmente, o mercado latino-americano [60% dos US$1.7B exportados em celulares foram para argentina e venezuela].
resumo da ópera? espera-se que o déficit da balança comercial esteja sendo pago pelo aumento da produtividade dos negócios e das pessoas, como já está demonstrado que é o caso da introdução massiva de informática na economia. mas isso vai acontecer mesmo é no longo prazo. no curto prazo, aqui e agora, o buraco da balança comercial de eletrônica está sendo coberto mesmo é pelo nosso sucesso nas commodities…