há quase um ano, este blog [na série mundo, plano ou picos?] conjurou uma combinação de redes e fluxos no espaço [o mundo de bush-drucker-castells] para ameaçar uma explicação do mundo conectado, aquele que friedman dizia plano. a conclusão é que o "mundo plano" é inerentemente cheio de picos. muitos picos. conectados, mas picos.
no texto introdutório para uma seção especial sobre teoria de redes no volume 5 [2011] do international journal of communication, castells et al. dizem que…
…power is the relational capacity by which people or institutions can impose their will on others… and, since networks are based on
relations, it follows that power resides in the network.
…poder é a capacidade relacional através da qual pessoas ou instituições podem impor suas vontades sobre outras… e, como redes são baseadas em relacionamentos, conclui-se que o poder está na rede.
e isso abre uma conversa que passa por uma série de artigos, inclusive um do próprio castells [uma teoria de redes do poder], onde ele expõe e relaciona os quatro poderes da [ou em?…] rede.
primeiro, networking power, o poder em rede, o poder que os conectados [pessoas e instituições], especialmente os muito conectados [o core, o centro da rede] têm sobre os que não estão em rede; segundo, network power, o poder da rede, vindo dos padrões necessários para coordenar a interação em rede [e concentrado naqueles os que os definem]; terceiro, networked power, o poder na rede, exercido por atores que estão em rede sobre outros que também lá estão e, por último, network-making power, o poder de formar redes, o poder de desenhar [ou programar] redes segundo desejos, vontades ou habilidades dos programadores. é o tal "programe ou seja programado".
mesmo que fosse só pra ler uma teoria de redes do poder já era negócio ir ao international journal of communication. e não é coisa pra ler e sair falando na lata, pois é preciso refletir sobre muitas das implicações do que está dito lá. por exemplo, hackers e engenharia social estão incluídos? sim, podem inclusive deformar redes. redesenhar redes, terminá-las. e por aí vai.
mas há bem mais do que o texto de castells: em networks, societies, spheres: reflections of an actor-network theorist, bruno latour conclui [antes do fim do artigo], que…
Whenever an action is conceived as networky, it has to pay the full price of its extension. It’s composed mainly of voids. It can be interrupted. It is fully dependent on its material condition. It cannot just expand everywhere for free. (Its universality is fully local). Networks are a great way to get rid of phantoms such as nature, society, or power, notions that before were able to expand mysteriously everywhere at no cost.
…sempre que uma ação é concebida "em rede", ela tem que pagar todo o preço de tal "extensão". será composta principalmente de vazios. poderá ser interrompida. depende totalmente de sua condição material, não pode se expandir para todo lugar gratuitamente (pois sua universalidade é local). redes são uma boa forma de dar conta de fantasmas como a natureza, a sociedade, ou o poder, noções que gozavam da misteriosa capacidade de se expandir para todo lugar a custo zero.
este workshop rolou no começo de 2010 [os resultados só saíram em 2011] e o debate sobre as contribuições vai continuar por muito tempo. porque [segundo castells] a promessa, afinal, é que…
…network theory could provide a common language, a common approach toward the understanding of nature and society through the fundamental shared networks of biological networks, neural networks, digital networks, and human communication networks.
…a teoria das redes poderia ser a linguagem comum para a criação de um amplo entendimento da natureza e da sociedade, pela via das muitas redes fundamentais e compartilhadas: as redes biológicas, neurais, digitais e de comunicação humana.
pense numa encomenda. vai dar um trabalho danado pra entregar…