uma das práticas que mais divide a opinião dos blogueiros [e tuiteiros, e membros de redes sociais…] é a de receber [dinheiro, produtos, serviços] para escrever sobre empresas, marcas, casos de sucesso, produtos e serviços. no jornalismo, tal prática sempre existiu e sempre foi condenada; os praticantes eram –e são- vulgarmente chamados de “penas-de-aluguel”, que é o mesmo que ser lançado ao fogo do inferno das redações em plena vida. não queira nem pensar o que é ser apontado como tal.
a regulação deste [digamos assim] mercado de influências, interesses e remuneração sempre foi interna: as melhores redações nunca deixaram a coisa passar dos limites; e os limites eram [por exemplo] receber uma passagem de uma empresa para ir a um evento e aparecer, no topo da matéria, que a “reportagem viajou a convite de…”. daí pra frente, se descoberto, o pena-de-aluguel ia pra rua. propaganda tinha seu lugar e não era dentro do texto noticioso.
ou pelo menos a gente sempre acreditou nisso. claro que há redações [como é relatado neste caso aqui] que, in totum, não têm limites. para um público leitor com um mínimo de inteligência e senso, no entanto, elas perdem a credibilidade rapidamente e têm, como destino, a lata de lixo da história.
no caso dos blogs [e twitter, e redes sociais], não há uma redação na maioria dos casos. aqui no terraMagazine, por acaso, há: bob fernandes toca a operação, mas não intervém no que seus “blogueiros” fazem, pensam, dizem ou como escrevem [como este aqui, em minúsculas, veja aqui porque]… o que é uma permanente fonte de irritação para uma certa classe de leitores.
mas o fato é que a mídia social é cada vez mais importante. há blogs com audiência maior do que portais e jornais; redes sociais nos primeiros lugares de atenção e uso em todos os países; e coisas muito novas, como twitter, se transformando em fonte de informação essencial para uma ampla gama de pessoas.
o impacto das mídias sociais no mercado, nos negócios, o efeito nas comunidades já é importante a ponto da FTC [federal trade comission, o CADE dos EUA] ter decidido que vai multar blogueiros que escrevem “a soldo” em até US$16.000, caso não fique explícito, no texto para o qual estão sendo remunerados, as conexões materiais com o produto [serviço, etc.] do qual estão falando. ou seja, há que se diferenciar, mesmo num blog, o que é opinião isenta do autor e o que é paga, seja lá como for, por um anunciante. estes, aliás, estão sujeitos a multa, também, caso tentem se esconder por trás, por exemplo, de um blogueiro…
claro que as regras vão ser muito difíceis de aplicar. mas, na internet, que regra de uso é fácil de implementar? do ponto de vista mais amplo, as recomendações da FTC não são novas, mas uma modificação da regulação das interações entre anunciantes e o público que, revisadas pela última vez em 1980, ficaram quase trinta anos esperando que alguma coisa nova desse as caras. a novidade, como se vê, são as mídias sociais. mais hora, menos hora, vamos ter que pensar em algo parecido para o espaço midiático [virtual] nacional, que anda bem confuso aqui e ali, vez por outra…
quase pra terminar, taí o contexto usado pela FTC para enquadrar a mídia social americana:
The recent creation of consumer-generated media means that in many instances, endorsements are now disseminated by the endorser, rather than by the sponsoring advertiser. In these contexts, the Commission believes that the endorser is the party primarily responsible for disclosing material connections with the advertiser. However, advertisers who sponsor these endorsers (either by providing free products – directly or through a middleman – or otherwise) in order to generate positive word of mouth and spur sales should establish procedures to advise endorsers that they should make the necessary disclosures and to monitor the conduct of those endorsers.
a recomendação, como se vê, é simples e óbvia. faz parte do bom senso que deve regular a vida de anunciantes, veículos e mercado, em qualquer lugar e ambiente, dos jornais do séc. XIX à última geração de redes sociais.