você já leu o post sobre os 4Cs [conteúdo, contexto, comportamentos e condições] das redes sociais? ainda não? pois vá ler, ele é o preâmbulo deste aqui. por que? primeiro, porque as coisas vão começar a tomar conta da internet. já estão aí aos bilhões, são muito mais do que gente na própria rede, até do que no planeta. o número de coisas em rede passou o de habitantes no planeta, segundo algumas das contas, há mais de 2 anos.
o blog também já escreveu sobre a internet das coisas, e uma série inteira, onde fundimos as noções de spimes [de sterling] e everyware [de greenfield] na ideia de spimeware e suas consequências, como um campo informacional global, que vai passar a envolver todos nós. isso vai pegar, é questão de tempo. e as coisas não vão estar só na internet, como um endereço IPv6 perdido na imensidão da rede. elas vão estar em rede, mesmo, relacionadas. a internet das coisas é social.
como assim? pois é… o sinal de trânsito perto da sua casa vai estar numa rede social. e você acertou, nós vamos poder “seguir” a coisa. mesmo? sim, claro.
ao invés do sinal ser parte apenas de uma infraestrutura de informação fechada, monolítica, operada pela cidade e opaca a tudo e a todos, ele [e muito mais] será parte de alguma rede social. o desenho e a implementação desta rede, quando ela existir [daqui a algum tempo, quando cidades, estados e países estiverem prontas pra seus corações pra dados abertos de verdade], fará com que sinais, câmeras, carros, ônibus, motos, bicicletas e pedestres sigam uns aos outros por contexto, por exemplo. aliás, este é um bom exemplo de redes ad hoc, aquelas formadas por conjuntura, por necessidade.
proximidade é parte do contexto. e pode mudar tudo: o sinal que está travado no vermelho para todos os lados, ao conseguir se comunicar [facilmente…] com os veículos em transe [porque o trânsito… esse tá parado] ao seu redor, pode “dizer” pra todo mundo em seu contexto [isto é, que usa o contexto pra lhe “seguir”] que desenrolem a parada sozinhos, pois ele perdeu a funcionalidade que controla o trânsito, apesar de ainda poder “mandar sinais”. de fumaça, no caso. a câmera que lhe multa quando você corta o sinal, apesar de ter a informação de que o sinal está vermelho, recebe um “liberou geral” [digamos do twitter] do sinal e passa a não se preocupar com quem está cortando o sinal [até receber um “atenção, a postos!”].
alguém, de longe, o sistema de supervisão e controle do trânsito, também “segue” nosso sinal e, a esta altura dos acontecimentos, estará tomando providências para que um time de manutenção venha consertar o sinal. o mesmo sistema pode enviar guardas de trânsito ao local, pra minorar o impacto do defeito. mas, pense bem: se os guardas [na verdade, seu sistema de informação pessoal] que estão no contexto do sinal [proximidade!…] “seguissem” o sinal, eles próprios poderiam se dirigir pra lá sem qualquer comando central. e a solução se torna social. sem um sistema de comando e controle central observando tudo e dando ordens pra todo mundo [e se tornando um ponto central e único de falha], a rede, como um todo, se articularia através de seus agentes periféricos e do relacionamento entre eles.
o que não quer dizer que não haja um ou mais centros na nossa internet das coisas. a ideia é que, liberar da bijuteria [como um sinal de trânsito travado na imensidão de são paulo…] os “centros” possam se dedicar a atividades bem mais estratégicas, como redesenhar o comportamento de certos agentes para tratar contextos até então inexistentes. o centro, aqui, desenha e programa agentes, ao invés de fazer o mesmo com a rede [ou pior, com algum sistema de comando e controle central].
sai comando e controle, entram conexões, relacionamentos e interações. ou seja, saem os sistemas centrais, piramidais, monolíticos, que têm um “dono”, entra a construção coletiva, cooperativa, articulada, entram as redes sociais. os princípios fundamentais da arquitetura dos sistemas [e não só das redes] sociais são coletar [a informação no meu contexto, ou gerar informação, se for o caso] e conectar [entrar na rede] para compartilhar. compartilhamento é princípio basal de uma rede [social] de coisas; informação é gerada e coletada para que os agentes, conectados a compartilhem. não faria sentido se fosse de outra forma.
para implementar estes 3Cs, em um mundo [contexto!] muito fluido, a história recomenda empreender de forma pragmática [não invente se não for essencial, o ótimo é inimigo do bom], ágil [ontem é melhor que hoje, e se der vamos fazer pra anteontem], iterativa [você vai errar, prepare-se para aprender e tentar de novo] e experimental [descubra como se faz um experimento e qual é o que você está fazendo quando acha que está resolvendo o problema de vez].
e qual seria o incentivo para que o desenho das redes que vão interligar a internet das coisas ser social? é simples: tanto lá, no universo das coisas, como cá, no das pessoas, há muito mais conjuntura do que estrutura nos relacionamentos. só que ainda estamos em um ponto onde, de economistas a gestores, públicos e privados, ainda se pensa que é possível impor uma ordem às coisas [e pessoas], e não é.
que ver?… o que acontece quando a presidente da república redesenha a conta de luz? surgem centenas de emendas à medida provisória correspondente. e por que? porque os agentes interessados se articulam, em rede, para reagir ou se aproveitar da mudança, até porque a mudança não foi coreografada nem por nem para todos . depois do pulso causado pela nova regra [imposta por um agente que –ainda- tem muito mais poder de e em rede do que todos os outros], a rede inteira se adapta e o próximo estado de equilíbrio [sempre instável] pode não ter qualquer relação com os objetivos da tal regra que mudou, a da conta de luz. conjuntura, sempre e muito à frente de estrutura, pelo menos nas geografias que gozam de algum grau de liberdade.
conclusão? se a internet das coisas não for “social”, estará para a rede, do ponto de vista de impacto, como a coréia do norte está, entre os países, para a democracia.