a [nova] síndrome da china

vez por outra a gente encontra alguém que foi à china e ouve a pessoa, meio que assustada, nos contar sobre as muitas formas dos novos comunistas estarem começando a dominar o mundo. as fábricas, as mudanças urbanas, a maneira como o partido, deixando de lado o maoísmo que ainda estão começando a introduzir no nepal [!] conduz a modernização acelerada do império do centro.

segundo alguns observadores, parece que os chineses estão mesmo implementando, na prática, a filosofia que está por trás do termo tian-xia, ou "tudo-sob-os-céus" [all-under-heaven], conhecido desde os primeiros textos do império e que é equivalente ao "universo", ou "mundo", nas línguas ocidentais, mas com um toque indiscutivelmente oriental: também quer dizer "os corações de todos os povos", ou "a vontade, conjunta, de todos".

segundo xun-zi [filósofo que viveu entre 313-238AC, citado neste texto de tingyang zhao] mesmo para o conquistador e senhor dos terras e povos… enjoying all-under-heaven does not mean to receive the lands from people who are forced to give, but to satisfy all people with a good way of governance. bem mais de um político nacional podia entender isso: ter "tudo-sob-os-céus" não é receber de quem é forçado a dar, mas satisfazer a todos com boas normas e formas de governo. neste ponto, em particular, viva a china.

mas "tudo-sob-os-céus", hoje, tem um significado bem mais prático, como robert scoble é só mais um a redescobrir e publicar: a china começa a dominar todas as etapas da cadeia de valor de qualquer coisa e deixa, muito rapidamente, de ser a fábrica-do-mundo para ser, cada vez mais intensamente, um provedor de "tudo-sob-os-céus". de conceito a projeto, de design a produto, de sistema a processo, de serviço a negócios. tudo. sob os céus e, se brincar, inclusive os céus eles mesmos.

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não deveria ser novidade pra ninguém. mas ainda é. e há quem ainda brinque de tentar, escondido num canto qualquer do planeta, fingir que a china não está na jogada. basta ler a "descoberta" de scoble pra ver que está, sim, e radicalmente, em tudo, inclusive informática e internet.

pra nós, aqui, fica um dever de casa: em plena semana global do empreendedor, esta coisa que nós achamos que cada brasileiro é desde nascença, mas onde sabidamente temos uma dificuldade imensa de criar negócios capazes de competir mundialmente, como [e em quê?] nos prepararmos para enfrentar a competição chinesa dos próximos 100, 200 anos?… não adianta só aprender mandarim, que serviria apenas para, talvez,  exercermos nossa eterna vocação de colônia; teremos que fazer muito mais. temos que fazer muito mais, desde já.

o futuro, não custa nada lembrar, vem do futuro. vem dos investimentos que fazemos, pensando no futuro, agora. vem da nossa capacidade de, como povo, inovar. e algo me diz que o muito confuso, ineficiente e ineficaz ambiente brasileiro de empreendedorismo, capital, trabalho e relações trabalhistas, investimento, inovação, política, governo… não é exatamente o que deveríamos ter, agora, para podermos inovar para e no futuro. temos problemas graves. para escaparmos da nova síndrome da china, que é a do aumento radical da competitividade [deles!] em quase tudo, precisamos dar um reboot, urgentemente, no nosso próprio, vasto e complexo império.

mas cadê a coragem, de uns e de todos, para cuidar de "tudo-sob-os-céus", satisfazendo a todos com novas normas e formas de governo que nos conduzam para o futuro?… enquanto nossos imperadores, em sua vasta maioria, só pensam no próximo episódio eleitoral [um a cada dois anos!], o país vai deixando de fazer o que seria essencial, agora, para se tornar mais competitivo no futuro muito próximo. e a china e outros, pouco se ligando, vão em frente, para os lados e alto, tomando conta de "tudo-sob-os-céus"…

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