dia atrás, prince declarou que a internet havia “se acabado”. a entrevista foi ao mirror inglês e quem tiver tempo e dominar a língua deve passar por lá pra ver quão estranho um ser humano pode se tornar. prince, há tempos, chegou no nível 9 da escala jackson de esquisitice. este blog comentou o delírio do artista neste link, a business insider neste outro e a rede inteira falou sobre isso, dias a fio.
vamos voltar rapidamente ao assunto pela ótica da business insider que, dando uma outra conotação à frase de prince, diz que a internet está mesmo se acabando; se acabando e renascendo, todo dia, o tempo inteiro. e o olhar é sobre as empresas: para algumas, o sol está se pondo quase de uma vez por todas; para outras, ele pode continuar nascendo, mas com muito, muito esforço.
claro que isso vale para todos os tipos de negócio, na rede ou não. em particular, eu acho que todas as pequenas empresas de software, dessas responsáveis pela informatização de pequenos negócios, estão correndo sério risco de terminarem, nos próximos anos, no grande cemitérios dos CNPJ. nos EUA, a estimativa é que esta parte da economia de software perca centenas de milhares de empregos nos próximos anos; no brasil, não vai ser diferente. a razão é software como serviço, SaaS. com tanta mudança envolvida, o assunto é controverso.
e este não é um cenário de fim de mundo; o que desaparece, se feito por uns e ainda necessário –mesmo que de outra forma e com outra eficiência- será feito por outros, de outra forma. ou então será substituído por outras coisas, que terão que ser feitas… e por aí vai. o mundo todo, todo dia, se renova.
voltando ao “fim da internet”, business insider cita algumas das grandes empresas da economia digital e discute como elas estão administrando um legado monumental de um passado digital distante, de dez, quinze anos atrás e o trabalho gigantesco que terão que realizar para estarem vivas daqui a dez, quinze anos. e as chances de isso acontecer.
a lista dos gigantes problemáticos tem a microsoft [que tem 35 anos de vida, já], yahoo, AOL, mySpace e eBay. claro que a microsoft atrai mais atenção do que todo o resto; AOL, mySpace e eBay, para todos os efeitos práticos, são página virada –pelo menos segundo o pessoal da insider; pra saber porque, clique neste link. yahoo, como se sabe, casou com a microsoft e é por isso mesmo que o blog vai tratar, nos próximos poucos parágrafos, somente do estado da empresa de bill gates. e isso de forma muito ingênua, simples e curta, pois a discussão é longa e complexa e merece livros, artigos e teses. vamos lá.
antiga dona do desktop, a microsoft vê seu domínio ameaçado por aplicações na rede; perde espaço para google na coleta, geração e organização de informação em rede e para a apple nos dispositivos. e pra eles e muitos outros em mobilidade. como se não bastasse, há tempos e estágios da evolução do mercado de TICs, demora muito a agir e mudar. veja a dificuldade do momento, a de criar uma estratégia de mobilidade que ofereça uma alternativa a iPhone e android. como todos sabem, os KIN, celulares da empresa, morreram alguns meses depois de lançados, um fracasso retumbante sob todos os aspectos. na verdade, nunca deveriam ter sido lançados; ninguém, em bom juízo, sabe até hoje porque foram lançados. segundo um funcionário [e acionista] da MSFT…
"We had a huge launch party on campus and I bet that party cost more than the amount of revenues we took in on the product. As an employee, I am embarrassed. As a shareholder, I am pissed. It's one thing to incubate products and bring them to a proof-of-concept to see what works, but it's something else to launch. I suspect we launched because we felt like we HAD to so we could save face because we were trying to build buzz, but overall – HUGE fail."
ou seja: KIN não era um brinquedo… e havia gente levando a coisa a sério a ponto de dar uma megafesta de lançamento do “produto”. pra entender o problema, veja os muitos [muitos mesmo, e muito interessantes, alguns] comentários de gente da própria empresa em um texto sobre o fim do KIN neste link. grave, sob qualquer ponto de vista.
claro que o problema da microsoft –como de toda empresa de sua idade e porte- é muito maior do que o de uma linha de celulares; mas há muita gente, e gente que saiu da microsoft, repetindo aos quatro ventos que a empresa deixou de tomar decisões com base em negócios e engenharia para ser um grande e confuso espaço de politicagem.
se for isso mesmo, o risco de caos organizacional nunca foi tão grande, especialmente neste tempo dos negócios em rede, quando o “inimigo” da empresa [de “software fechado”] deixou de ser a diversidade, riqueza e animação [e, em parte, a desarticulação e desalinhamento] dos grupos de “software aberto” para vir dos negócios, muito bem estruturados e alinhados, de “software como serviço”. em poucas palavras, a disputa entre software aberto e fechado está sendo vencida por software como serviço, ou “no software”. closed vs. open = no, eu diria [num texto de 2004, aqui].
ao mesmo tempo, o estilo ballmer de administrar as coisas trata tudo do mesmo jeito: games, do ponto de vista estratégico e operacional, parece que tem que funcionar como office ou windows. ou, muito pior, como o malfadado KIN. e ballmer, ao contrário do que gates era consistentemente capaz de fazer, talvez não esteja vendo muitos possíveis futuros.
vale a pena dizer que os problemas da microsoft já duram mais de década, como pode ser visto neste link, que aponta para dificuldades, em 2000, que a empresa enfrenta até hoje. pra ver o tamanho do problema em valor de mercado, clique na imagem acima, de um infográfico interativo do NYT, comparando a microsoft e apple nos últimos dez anos.
segundo muitos analistas, as chances de empresas do porte da microsoft se renovarem são baixas; mas redmond tem muitos bilhões de dólares [mais de 37B] em caixa para gastar numa mudança [radical, se quiser]. mas não será fácil. segundo gente senior que saiu da empresa, um tal esforço deveria começar pela demissão de muita gente [uns quarenta mil… dos quase noventa mil empregados] que estão batendo cabeça em redmond e no resto do mundo… coisa difícil de fazer em uma estrutura do porte e complexidade da microsoft. e tem gente que acha que o próprio steve ballmer deveria pegar o caminho de casa para nunca mais voltar, responsável que seria pela “década perdida” da empresa. complicado.
mas deve-se lembrar que a IBM já esteve bem pior, lá pela década de 90, se recuperou e voltou a ser um gigante do setor, com quase cem bilhões de dólares de faturamento e margem de lucro acima de 14%. tudo bem que a empresa de t. j. watson não é a lançadora de pods, pads e modas; mas é um grande e lucrativo negócio, depois de sua gigantesca crise dos anos oitenta e noventa.
e não é difícil lembrar que a própria microsoft, depois de achar que a internet não era pra valer, deu a volta por cima e se tornou um dos líderes do mercado de software para e na web. segundo muitos, foi exatamente o custo político e estratégico desta virada que levou a empresa ao limbo onde hoje se encontra.
mas o mundo que gates criou, definitivamente, ainda não acabou. vamos ter muito o que falar disso, ainda.