a santa sé não costuma divulgar as leituras do papa, mas sua santidade pode ter passado os olhos num texto de david levy sobre amor e sexo entre robôs e seres humanos [na amazon: Love and Sex with Robots: The Evolution of Human-Robot Relationships, de novembro de 2007]. ou então alguém em roma leu [ou viu as entrevistas de levy] e uma pitada do assunto entrou no discurso mais recente do sumo pontífice.
segunto texto da agência EFE publicado no terra neste sábado, o papa disse que… "nenhuma técnica mecânica" pode substituir o ato do amor "que o marido e a mulher compartilham como sinal de um mistério maior, que os vê como protagonistas e co-participantes da criação". o papa falava em roma, fazendo referência aos quarenta anos da encíclica humanae vitae, promulgada em julho de 1968 e reafirmando que… "a verdade expressa em humanae vitae não muda; ao contrário, à luz das novas descobertas científicas, a encíclica é ainda mais atual". humanae vitae tratava de contracepção, aborto e casamento, numa época em que a humanidade via aparecer a pílula e os costumes sexuais se tornavam muito mais abertos do que nas décadas passadas.
a reação mundial à encíclica foi tamanha que paulo vi não escreveu nenhuma outra nos últimos dez anos do seu papado. e há quem diga que humanae vitae alargou ainda mais o fosso que já se estabelecia, na década de 60, entre os católicos romanos e os dogmas e regras de sua igreja. mesmo que bento xvi não faça a menor idéia das conversas e propostas do livro de david levy, mais cedo ou mais tarde algum papa [talvez o próprio] vai ter que comentar a noção de relações amorosas e sexuais entre robôs e seres humanos.
pra você ter uma idéia do que pode vir a acontecer, veja três respostas de levy, em entrevistas diferentes, antes de ler o livro… na scientific american: se as pessoas se apaixonarem por robôs, não estariam apenas "caindo" por um algoritmo? não, as pessoas não se apaixonarão por um algoritmo, mas por uma simulação convincente de um ser humano, e simulações convincentes podem ter efeitos impressionantes nas pessoas.
em metal fingers and my body: que características essencialmente humanas os sexbots do futuro vão mudar pra sempre? eu acredito que sexbots vão mudar nossas percepções das relações humanas e que de alguma forma nós vamos exigir mais dos nossos parceiros humanos. isso não vai ser inteiramente bom… se alguém fez sexo muito bom com um robô, vai querer que o sexo com seus parceiros humanos seja tão bom quanto, o que talvez leve a grandes desapontamentos. por outro lado, sexbots serão excelentes instrutores e, com eles, as pessoas vão poder aprender as habilidades necessárias a grandes amantes…
na new scientist: se um robô puder se apaixonar, não seria mais provável que ele [ou ela] se apaixonasse por outros robôs?… nós os programaremos para que nos queiram. quando os robôs atingirem o nível de inteligência que acho que terão na metade deste século, vai ser importante os seres humanos terem algum tipo de controle sobre eles.
pra saber quem é david levy e quão relevantes são suas idéias, siga este link. pra saber o que a santa sé pensa sobre o amor e sexo com robôs, vamos ter que esperar… afinal de contas, ainda não temos a opinião oficial de roma sobre inseminação artificial, técnica cujo pioneiro [em cães] foi o ex-seminarista lazzaro spallanzani [em 1784], e que é cada vez mais usada, hoje em dia, para gerar filhos de casais do mesmo sexo.