android, o “sistema operacional” de google, é na verdade uma plataforma para desenvolvimento e uso de aplicações móveis baseada no kernel [a parte essencial] do sistema operacional aberto linux. para saber mais sobre a coisa, clique aqui. durante algum tempo, se pensou que o alvo de android eram os smartphones, os telefones da classe do motorola motoQ, nokia e71 e apple iPhone; google, aliás, a open handset alliance [OHA], não falava em outra coisa.
isso mudou radicalmente na semana passada. segundo o wall street journal, a HP está testando android em netbooks, mas ainda não decidiu se nem quando lançaria android num deles.
netbooks e smartphones são vizinhos próximos no tempo-espaço da convergência digital. os últimos são muito mais que um celular e os primeiros algo menos do que um laptop. mas a coisa pega: inexistente há dois anos, o mercado de netbooks chegou a dez milhões de unidades em 2008 e pode dobrar [ou mais] este ano, até porque quem vai comprar capacidade pessoal de computação e comunicação tem menos recursos para tal.
dos mais de 500 modelos de netbooks no mercado, mais de 90% usam chips da intel, a mesma porcentagem que usa windows. depois de um começo alvissareiro para linux, a microsoft [quase como sempre] acordou e dominou o mercado. de novo. quase a totalidade destes laptops custa bem mais de US$200 e é distribuída pelos canais usuais de venda de computadores.
aí é onde entra a ARM e seus chips da classe a8 e a9, tão capazes quanto os intel ATOM usados nos netbooks, gastando menos energia [bateria dura mais] e custando uma fração do preço [seu bolso sofre menos]. resultado: isso pode trazer o preço de um netbook para bem menos de US$200; há quem fale em perto de US$50, ou R$100, se você conseguir um juntamente com um plano de dados na operadora, ao invés de “comprar” numa loja que vende PCs.
nesta faixa de preço, o que a gente costumava chamar de “computador” sai da classe produto se torna serviço, associado à infraestrutura de acesso à capacidade de computação e comunicação que reside, cada vez mais, na rede.
aí é onde o modelo de negócio de distribuidores, lojas, da intel, da microsoft e da apple passa a ser desafiado por uma dupla que pouca gente viu começar a nascer, pelo menos neste mercado. de um lado, a ARM, ingleses que projetam e licenciam microprocessadores, os chips no coração de computadores e telefones celulares, desde 1990. de outro, google, à frente da OHA, como proponente do sistema operacional e plataforma de desenvolvimento android, tentando vender um netbook como se fosse um celular. mas não só. google deve levar a disputa para um campo onde a oposição tem dificuldades a resolver, o de computação e software como serviço.
há anos, google vem desenvolvendo e disponibilizando uma plataforma de serviços em rede que atende boa parte das necessidades do cidadão comum. emeio, chat, agenda, processamento de documentos… quase tudo o que normalmente estaria em seu PC –ou netboook- pode estar em google. agora pense na combinação de banda larga móvel a preço fixo, netbooks a preço de banana [ou grátis] como parte do pacote e boa parte dos programas que costumavam rodar no seu laptop disponíveis na rede, como serviço. esta combinação pode pegar, principalmente onde banda larga a preço fixo pegar mais rápido. no longo prazo, vai estar em todo lugar.
se eu estivesse na oposição –apple ou microsoft- estaria pensando, com muito carinho, nos meus próximos passos.