SILVIO MEIRA

as células-tronco e o futuro

os primeiros trabalhos sobre anatomia humana datam de três e meio milênios atrás e começam no antigo egito. passando por hipócrates e galeno, até que o estudo da anatomia sucumbiu às trevas, preconceitos e superstições da idade média. apesar da atividade científica ter continuado no mundo árabe, quase um milênio e meio de parálise separam o trabalho fundador de galeno [ao redor do ano 200] do próximo marco ocidental nos estudos do corpo humano, de humani corporis fabrica, escrito [e desenhado] por vesalius na metade do século xvi. isso porque o oriente e o ocidente se separaram e, depois, o crescente fértil minguou como economia, sociedade e cultura.

nesse meio -e longo- tempo, as doenças da humanidade foram tratadas à base de preces e meizinhas. sofrimento e morte eram abundantes, resultado da ignorância que era mais que a ordem do dia na sociedade medieval: quem quisesse saber mais, entender mais, sobre o espaço, o tempo, os seres vivos, as razões reais de estarmos aqui e fazermos o que fazemos, era ordenado a continuar ignorante. isso se quisesse continuar vivo. a fogueira levava, quase sempre, desta para a melhor, os renitentes e descontentes.

estávamos diante de uma pequena idade média no brasil, no caso das células-tronco embrionárias, até o supremo decidir, hoje à tarde, pela continuidade das pesquisas no país. isso reabre a janela de possibilidades para o desenvolvimento de terapias baseadas em células-tronco e cria uma gama muito grande de expectativas do público, doentes, familiares, investidores e empresas de saúde e fármacos. a importância das células-tronco embrionárias, hoje, é do tamanho da controvérsia que as cerca desde o começo, e nem podia ser de outra forma. revoluções são revoluções porque mudam o mundo; e a vasta maioria -quase a totalidade- dos habitantes do planeta quer continuar levando a mesma vidinha estável que sempre levou, dentro dos limites que sempre teve, com os mesmos problemas de ontem e anteontem… mesmo que isso signifique matar o amanhã das possibilidades criadas pela ciência, tecnologia e sua transformação em inovação, no mercado.

o brasil está acordando. volto a dizer que a decisão do supremo é uma declaração de grau de investimento ao nível de conhecimento e entendimento da vida e do mundo que começa a desabrochar no país. estamos formando quase 50.000 mestres e mais de 10.000 doutores por ano e isso tem conseqüências teóricas e práticas. há coisas que nem podíamos pensar há vinte anos e que fazemos hoje com a mesma naturalidade de acordar, num dia de sol, e sorrir antes de escovar os dentes. isso inclui um cerrado agricultável transformando o país em potência capaz de matar a fome do mundo. e ainda não inclui, infelizmente, um desenvolvimento agro-pastoril-industrial em equilíbrio com o ambiente, até porque não se ouve e aplica, como se deveria, os resultados que a ciência e tecnologia brasileira são capazes hoje, como inovação, em todos os campos.

o resultado da votação do stf não é um destino, é uma partida. outras votações, sobre outros temas tão espinhosos quanto, virão. nelas, cada vez mais, o debate será sobre o conhecimento que temos do mundo, e não sobre nossas superstições, ideologias e crenças. num mundo onde todos temos que viver juntos e em conjunto, o denominador comum não pode ser o dogma de cada um, mas o conhecimento compartilhado por todos. compartilhar é o nosso destino, é o nosso futuro. e foi pra lá que o stf apontou a sociedade. mãos à obra…

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Silvio Meira é cientista-chefe da TDS.company, professor extraordinário da CESAR.school e presidente do conselho do PortoDigital.org

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