grupos de hackers invadiram as petroleiras saudi aramco e rasGas nas últimas semanas. nos dois casos, toda a plataforma computacional não industrial foi comprometida, em ataques direcionados e de propósito específico. no caso da aramco, a maior companhia do mundo em valor [apesar de fechada, já teve seu valor estimado em USS$7 trilhões, ou perto de umas doze apple…] um vírus chamado shamoon, pilotado por um grupo que se intitula cutting swords of justice detonou 30.000 estações de trabalho, site e servidores da empresa no dia 15 de agosto. os atacantes acusam a aramco de crimes e atrocidades contra a comunidade mundial e desejam, segundo os próprios, afetar a maior fonte de financiamento da família al saud, que reina na arábia saudita desde 1744.
o ataque à rasGas, do qatar, tem as mesmas características do assalto digital à petroleira saudita, parece que usa o mesmo vírus e, até aqui, não foi assumido por ninguém. a rasGas é o segundo maior produtor mundial de gás e o qatar, com apenas 11 mil quilômetros quadrados e 300 mil qataris [mais de 90% de todo o trabalho é feito por imigrantes], detém 14% de todas as reservas de gás do planeta.
agora, leia o aviso dos cutting swords: “This is a warning to the tyrants of this country and other countries that support such criminal disasters with injustice and oppression. We invite all anti-tyranny hacker groups all over the world to join this movement. We want them to support this movement by designing and performing such operations, if they are against tyranny and oppression.” e não só: pense o que grupos ideológicos de todos os tipos, armados [literalmente] com as ferramentas da era da informação podem fazer contra ou a favor causas quaisquer, a qualquer hora, em qualquer lugar conectado.
e isso não é uma situação distante, quer no tempo ou espaço, do brasil. e pode não ter nada a ver com energia ou famílias reais no poder há séculos. que tal atacar os produtores de… “Coltan, the mineral that you use to produce capacitors of mobile phones, besides being harmful to health, is also the sick result of environmental rape and enslavement of underdeveloped populations”? sabia que coltan “dá” por aqui, no brasil, e somos os maiores produtores mundiais?… pois bem, alguém achou motivo e tempo para atacar empresas que produzem coltan no brasil, como a fujitsu general, cujo site ainda está fora do ar, dias depois do ataque.
nos últimos anos, as noções de cyber war [guerra cibernética] e cyber weapon se tornaram bem mais claras e presentes, até porque a DARPA, agência americana de financiamento à inovação para defesa, resolveu apostar num certo plan X, cujo ponto de partida é mapear todos os nós da internet e suas vulnerabilidades. um tal mapa mundi digital, dinâmico, seria o ponto de partida para defender [ou atacar?] qualquer ponto da internet, em qualquer lugar, quase instantaneamente.
e o brasil também está se preparando para tais ameaças digitais, estruturando um comando de defesa cibernética. a cargo do exército [uma entrevista recente do comandante está neste link], o CDCIBER se prepara para fazer bem mais do que se preocupar apenas com a defesa do universo digital militar. à medida que quase todas as capacidades de qualquer país passaram a depender de software e redes, qualquer estratégia nacional de defesa que não considere, também e com alta prioridade, os conflitos digitais [não necessariamente provocados por outros países, mas por todo tipo de grupos e interesses…], estará tratando de bem menos do que a realidade do embate contemporâneo entre o “bem” e o “mal”.