…se você for parte do grupo de tecnologia da IBM na américa do norte, sim. a companhia avisa que tal medida é essencial para se manter competitiva. isso não é bom, e não só para os funcionários da IBM, pois tem a ver com uma crise global que não quer terminar e que começa a dar as caras por aqui. ainda por cima, e estamos falando da “melhor” profissão dos EUA, cujos salários chegam perto de duas vezes a média salarial americana.
em um mundo todo conectado, o desenvolvimento de software está se tornando atividade global. isso não vale só para software e, tampouco, é recente. e quem dá as cartas? 45% da força de trabalho do planeta está nos BRICS. se a hora de engenharia de software, nos EUA, está entre 50 e 80 dólares, um indiano [que fala quase a mesma língua] faz o mesmo trabalho por apenas 15 dólares por hora. no brasil, hoje, a hora custa mais ou menos 20 dólares. se for mantida a qualidade, porque pagar mais? esta é a pergunta que clientes globais de empresas de software, em todo mundo, se fazem o tempo todo. e que leva a IBM, para continuar competitiva, a refrear a pressão por aumento nos EUA.
aqui no brasil, dados do softex mostram que o custo de capital humano vem aumentando sua participação no custo total das empresas do setor de software: em 2003, os salários eram 23.3% dos custos; em 2009 [último ano para o qual se tem dados consolidados], chegavam a 27.1%. e não deve ter diminuído nos últimos três anos, o contrário. os encargos, pelo menos para uma parte das empresas, caíram muito depois de uma desoneração recente.
podemos aumentar muito os salários para engenheiros de software no brasil, hoje? sim e não. não, para os que competem diretamente com a índia pelo trabalho que está saindo dos custos americanos para os indianos. sim, para quem compete com os EUA e faz, aqui, o que eles fazem –lá- para “dominar o mundo” [pelo menos o de software e serviços de, ou baseados em, software].
mas… [sempre há um “mas” nos negócios, no brasil], estudo do softex publicado esta semana alerta: daqui até 2020 o setor de software pode perder R$115 bilhões em receitas, porque não há gente. prevê-se uma escassez de nada menos que 280 mil profissionais de software no país até o fim da década.
e não se descobriu agora: feito para o MCT pelo softex em 2006, um estudo [o FCHS, sobre formação de capital humano para o setor de software] alertava para a necessidade de investimento profundo na formação de capital humano no período 2006-2012 [montante sugerido à época? perto de R$500 milhões], sob pena da escassez de capital humano vir a se tornar um grave impedimento para a evolução da indústria de software no país.
o que foi feito, em relação ao estudo e suas propostas? nada. e as consequências? prevê-se que o país poderá perder mais de cem bilhões em receitas, que em última análise podem, em boa parte, se tornar déficit na balança comercial. o que será feito em relação a isso? a se julgar pela história e destino do FCHS, pouco. ou nada.
então, sabemos que haverá menos gente do que a demanda. isso quer dizer mais salário, certo? pois é: não necessariamente. volte para o início do texto: como o mercado é global e quem determina o salário-base são os indianos, é muito mais provável que percamos a oportunidade de gerar 280 mil empregos em software aqui –transferindo boa parte deste trabalho para a índia e outros países- do que os salários daqui irem para a estratosfera. a menos, claro, que você não seja parte de quem compete com a índia. aí, as oportunidades e retornos, em potencial, sempre serão imensos. inclusive a de pedir –e conseguir- aumento de verdade em 2012.