os centro e trinta bancos associados à febraban, gente grande e que sabe que dinheiro é coisa séria, decidiram tratar em conjunto a oportunidade de usar os celulares como meio de pagamento. o banco central foi avisado da intenção e a meta é começar até o fim de 2010.
pra coisa dar certo, algumas constelações têm que se alinhar. além dos bancos todos querendo fazer a mesma coisa, o que parece já ser o caso, pois concordaram em lançar uma plataforma unificada para transações financeiras móveis até o final de 2010, o banco central tem que deixá-los fazer, porque o espaço é regulado. estes dois itens não são maior problema. há coisas mais complicadas.
os bancos resolveram, também, que vão conversar com as teles “depois”. celulares, como se sabe, funcionam sobre a infraesturtura e serviços das operadoras, que têm idéias próprias sobre o assunto. e aí, nesta constelação, é onde mora um dos perigos. pra começar, a oi tem seu próprio serviço de m-payment [mobile payment], o paggo, para o qual angariou 900 mil usuários e 22 mil lojas no primeiro ano de operação [2007/2008] e deve ter entre 1.2 e 1.5 milhão de usuários hoje. e a vivo, pra não ficar atrás, também vai lançar um m-payment. afinal de contas, nada melhor do que virar um banco, se você não se envolver com empréstimos podres, como alguns dos maiores do mundo.
a ntt/docomo [japonesa] descobriu isso há muito tempo: cartões de crédito que funcionam como os de plástico que carregamos, só que embutidos no celular, foram lançados em 2006. trata-se de muito mais que um paggo, a ponto da operadora ter requerido uma carta patente de banco aos reguladores japoneses. a docomo deu a partida, os outros seguiram. rápido. hoje, mais de 30 milhões de celulares são osaifu-keitai [mobile wallet, ou carteira móvel], cerca de 30% de penetração entre os celulares japoneses. seria como termos uns 50 milhões de celulares-cartão no brasil. um monte..
os osaifu-keitai são usados pra tudo, de pagamento de passagens de ônibus, metrô e ingressos de todos os tipos a supermercados, máquinas de refrigerantes e o que mais você pensar. mas a vida não é tão simples quanto parece. os problemas associados ao uso do celular para transações financeiras não estão de todo resolvidos, mesmo no japão, país de povo viciado em keitai. pesquisa de outubro de 2008 mostra que apenas 15.6% dos japoneses usa seu banco a partir do celular, contra 68.2% de quem tem computadores pessoais na rede. .
mas nossos bancos podem estar vendo longe, muito longe. ao anunciarem o celular-cartão brasileiro, a pergunta de muitos bilhões de reais é… será que os bancos vão falar com as operadoras “depois” porque planejam lançar uma operadora virtual deles próprios, combinando os serviços e lucros das duas operações?…
pelo andar da carruagem, a anatel pode autorizar operadoras virtuais [MVNOs, mobile virtual network operators] antes do fim de 2010. uma MVNO é uma operadora que existe para mim e para você mas que não existe de fato lá na infraestrutura. a marca, o marketing e parte dos serviços vendidos no mercado a diferenciam das operadoras “normais”, mas ela usa, lá atrás, infra alugada de uma ou mais operadoras, digamos, clássicas. no brasil, os estudos técnicos estão prontos e sabe-se que a anatel vai decidir entre duas alternativas de modelo de MVNO para o país.
junte as peças: os bancos vão lançar um celular-cartão brasileiro, com todos eles apoiando [e ganhando dinheiro, muito]. isso é bom. a anatel vai liberar as operadoras móveis virtuais. isso é muito bom, pois vai aumentar a competição e melhorar a vida dos usuários. os bancos vão conversar com as operadoras “depois”. os bancos, em conjunto, podem lançar um osaifu-keitai na sua própria operadora, se quiserem; têm capitais e competências para tal.
agora pense: se você fosse uma operadora, faria o que?…