no começo da computação, ali pela década de 60, os computadores eram conhecidos como cérebros eletrônicos. de cérebros, mesmo, nada tinham, apesar de eletrônicos. sua capacidade, em memória e processamento, era normalmente menor do que qualquer telefone celular nas nossas mãos hoje. pra ver como a novidade era tratada pela imprensa, clique aqui e aqui.
não faz nem dois meses que demos notícia dos 23 desafios da DARPA, a agência de projetos de defesa dos estados unidos, dos quais o primeiro é, exatamente… develop a mathematical theory to build a functional model of the brain that is mathematically consistent and predictive rather than merely biologically inspired. ou seja: desenvolver uma teoria matemática que leve à construção de um modelo do cérebro [humano] que seja matematicamente consistente e preditivo, ao invés de meramente inspirado em biologia.
agora saiu a notícia de que a corrida para resolver o problema número um começou. a IBM foi contratada pela DARPA para liderar uma rede de grupos de pesquisa cujo objetivo é construir um cérebro eletrônico [agora, de verdade] que tenha capacidade equivalente ao de um gato [real]. se tudo der certo, o sistema resultante poderá vir a ser usado para analisar grandes massas de dados, entender e classificar imagens e para tomada de decisões.
o investimento de partida é troco, pouco menos de cinco milhões de dólares, para um projeto de tal envergadura. mas a DARPA tem por hábito investir em projetos-piloto pra testar a viabilidade dos mesmos e, depois, entrar com dinheiro de gente grande. para saber mais sobre o projeto, entre no blog de dharmendra modha, pesquisador da ibm que vai liderar o esforço.
tentar construir um sistema artificial que tenha as características do cérebro humano é um objetivo quase óbvio para a humanidade, pois faz parte do processo natural de entendimento e intervenção no universo ao nosso redor. primeiro, tratamos do mundo físico [o landscape], depois passamos a entender e intervir nas coisas vivas [o bodyscape] e, finalmente, estamos começando a tratar da estrutura mais complexa ao nosso redor, nosso próprio cérebro [o mindscape].
mas há uma razão mais prática, agora, do que a pura e simples pesquisa sobre o cérebro. o gigantesco volume de informação que temos que tratar e os problemas e dificuldades de seu processamento, boa parte dos quais [como processamento de imagens] é melhor resolvido por sistemas computacionais do tipo do cérebro humano. o que significa que pelo menos uma vertente das gerações futuras de computadores pode -ou deveria- ter comportamento semelhante ao cérebro humano. por trás da aposta da DARPA no "cérebro de gato" que a IBM pretende construir, há um claro objetivo de negócios… e competição [veja o projeto CCortex, por exemplo].
imaginando que uma ou mais das tentativas de se chegar a um cérebro artificial equivalente ao de um pequeno mamífero seja um sucesso, será só uma questão de tempo para construirmos um cérebro artificial muito parecido com o nosso. de lá para construirmos muitos outros, com capacidade de processamento muito maior do que a nossa… vai ser questão de menos tempo ainda. o entendimento dos sistemas cerebrais biológicos [neurociência], os processos computacionais para simulá-los [supercomputação] e a nanotecnologia para construí-los estão começando a se tornar realidade. quem viver verá.
[ps: segundo guilherme, nos comentários, a imagem é de… shodan – personagem do jogo System Shock 2, propriedade de www.TTLG.com]