estudo da IBM com mais de 1.500 líderes dos mais diversos tipos de organizações, inclusive do setor público, em todo mundo, dá conta de uma percepção cada vez maior de aumento da complexidade de fazer [e manter] negócios de qualquer tipo, em qualquer região, especialmente negócios globais e de classe mundial.
os CEOs que participaram da pesquisa não só identificam um aumento de complexidade nos mercados, produtos serviços, competição e nos seus próprios negócios…
…mas uma boa parte deles se sente despreparada para enfrentar o desafio de um significativo aumento da complexidade de suas operações e relações dentro do curto e médio prazos, como mostra a figura abaixo.
traduzindo as duas figuras acima em miúdos, para 3 em cada 5 CEOs a coisa já está bem complicada; para 4 em cada 5, o ambiente de negócios vai ficar ainda mais complexo nos próximos cinco anos. na minha opinião, é bem provável que o 1 em cada 5 que acha vamos continuar como estamos… está enganado e vai levar um algum tipo de susto radical dentro desta meia década, destes que podem transferir sua empresa para o grande cemitério dos CNPJs. finalmente, só 5 em cada 10 CEOs se sente preparado para a complexidade esperada nos seus negócios, mesmo que ela não mude muito em relação à atual.
um dos líderes consultados pela IBM dá uma resposta que parece típica frente a tal cenário: “em relação aos outros, estamos preparados; mas em termos absolutos, vai ser difícil”.
para quem está liderando algum negócio ou está pensando em começar um, o estudo vale a pena, inclusive porque compara tendências desde 2004, quando foi realizado pela primeira vez. uma delas está no gráfico abaixo [difícil de ser visualizado na resolução deste blog; pegue o original, em .pdf], que mostra o aumento da importância de fatores tecnológicos [em roxo] na complexidade dos ambientes de negócios, agora só inferior a fatores oriundos do próprio mercado [em azul], e acima de fatores macroeconômicos [verde] e de capital humano [laranja].
talvez seja interessante acrescentar uma observação sobre o diagrama acima. é bem possível que as mudanças tecnológicas, especialmente das tecnologias de informação e comunicação, que perpassam todas as empresas e negócios, tenham sido percebidas apenas do ponto de vista dos negócios e seu planejamento, operação e gestão, ou seja, “dentro” da empresa.
mas os mercados estão cada vez mais em rede, no sentido em que os usuários e consumidores passaram a determinar boa parte do ciclo de vida de informação sobre produtos e serviços oferecidos pelas empresas, e agora fazem isso completamente fora do controle das empresas. um CEO consultado no estudo disse que “parece que temos mais dados [sobre os clientes] mas nossa informação parece ser pior…” o que é quase certamente verdadeiro.
a maior mudança pela qual as empresas estão passando agora é a transformação do “consumidor” em usuário em rede. esta mudança, por sua vez, vai causar mudanças radicais nos próximos anos, começando por uma abertura cada vez maior das empresas para seus parceiros [parte de sua rede de valor] e clientes [agora, usuários]. neste cenário em rede, liderar não vai ser fácil, pois a dinâmica dos negócios e mercado é determinada, em boa parte, por agentes externos à empresa… qualquer empresa.
boa parte do que líderes de negócios de todos os tipos chama de “complexidade” advém do aumento radical do número de fatores a tratar em todos os tipos de mercado, absoluta maioria dos quais relacionada ao aumento exponencial da participação de usuários em rede nas atividades dos negócios e nas consequências disso para estes novos, digamos, negócios em rede. o blog publicou uma série de artigos sobre o assunto, que começa neste texto, contendo as ligações para todos os outros. vá ver.
pra saber mais um pouco do que estamos falando, a zona de complexidade da matriz de stacey é aquela onde estão os problemas difíceis de enquadrar, para os quais as relações de causa e efeito [ainda] não são claras, onde muita gente é dono da bola e do campo e dá pitaco sobre tudo [quase sempre sem saber porque], quando o problema evolui enquanto está sendo tratado e para o qual, mesmo considerado estático, não há um único conjunto de soluções e, como se não bastasse, quando não é possível estabelecer uma medida objetiva de sucesso para tentativas de solução. bote tudo isso junto e você tem uma boa aproximação do que é complexidade nos negócios.
para liderar em tais ambientes, naturalmente fluidos e agora em rede, onde as mudanças tecnológicas em alta velocidade e intensidade redefinem, constantemente, os cenários para empresas e até países, que característica principal se exigirá dos líderes? a resposta, lógica e confirmada pelos mais de 1.500 executivos mundiais consultados pela IBM, é criatividade. a arte de lidar, o tempo todo e com bom senso [inclusive de risco] com situações que estão lá naquela zona de complexidade.
eu acho que criatividade na liderança de organizações de qualquer tipo é algo que pode ser definido pela combinação de duas expressões que usam apenas tres palavras: consecução [aqui, a combinação de concepção e execução, nem tão longe do original], emergente e estratégia. criatividade na liderança é combinar a consecução emergente de estratégias com a consecução de estratégias emergentes. parece jogo de palavras mas não é; reflita sobre o uso de tais combinações na zona de complexidade da matriz de stacey e um dia destes voltamos ao assunto. enquanto isso, vá ler o relatório da IBM e o texto do blog sobre empresas em rede…