a e-life, galera brasileira que entende de comportamento online há algum tempo, publicou uma pesquisa sobre o que os brasileiros "são" e "fazem" nas redes sociais. o blog entrevistou alessandro barbosa lima, um dos fundadores, pra entender um pouco mais do que eles descobriram [e pensam] sobre nosso comportamento em orkut, faceBoook, twitter e quetais.
semana passada, discutimos uma pesquisa sobre mobilidade, que se soma ao estudo corrente para nos dar dicas que levam a um entendimento de um novo [e esperado] universo de pessoas "digitais, conectadas, móveis", de que este blog falou neste link, no ano passado.
com vocês, alessandro barbosa lima.
pergunta 0. bio: quem é você, onde está, o que faz, links pro seu trabalho, como lhe achar…
Alessandro Barbosa Lima, 39 anos, fundador da E.life – empresa brasileira especializada em monitoramento, análise e gestão do relacionamento nas redes sociais. Sou Mestre em Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), onde estudei a comunicação interpessoal on-line através das redes sociais. Autor de E-LIFE – Idéias Vencedoras para Marketing e Promoção na Web e co-autor de Marketing Educacional em Ação.
A E.life nasceu em 2006 a partir de um protótipo de software para monitoramento, é líder no Brasil em seu segmento (estamos em Recife e São Paulo, onde fico a maior parte do tempo) e atende mais de 60 empresas, com foco em países de língua portuguesa e espanhola. Possui clientes no Brasil, Espanha, México e Portugal.
pergunta 1, slide 9: 42,5% dos seus entrevistados estão em rede quase 6 ou mais horas por dia; estamos entrando na era em que todo mundo, breve, vai estar na rede o tempo todo?…
A computação ubíqua já era prevista há pelo menos 4 décadas. O que não estava previsto, na verdade, era que com o avanço da tecnologia o nosso comportamento mudaria e a adoção das tecnologias da informação se popularizaria tanto, que não apenas nossos hábitos, mas mesmo as redes sociais se tornariam virtualizadas através dos dispositivos tecnológicos.
Se olharmos para trás, artefatos primitivos como a agenda em papel e mapas já eram formas de representar redes não apenas de lugares, mas pessoas, coisas etc. A prova maior disso é que hoje grande parte das atividades nos pontos de venda físicos pode ser monitorada pelas redes sociais. É o caso das filas. Cada vez mais munidos de smartphones, os usuários compartilham sua insatisfação não apenas para a pessoa que lhe atende no estabelecimento comercial, mas também para suas redes virtuais.
pergunta 2, slide 12: o acesso a web pelo celular, na pesquisa da e.life, subiu de 34,4% para 44.8% dos usuários em apenas um ano. qual a sua previsão para os próximos um, dois anos? o que você acha que será o estado de coisas lá na copa, daqui a três anos?
As previsões apontam um crescimento espantoso e o celular como o meio de acesso prioritário em alguns anos. No Brasil, nossa base instalada de celulares já passa dos 210 milhões, porém temos problemas como: 1) não se sabe exatamente o quanto desta base tem capacidade de acessar a internet; 2) o custo do acesso ainda é alto; 3) as taxas de conexão são baixas, mesmo para acesso domiciliar e só agora o Governo e órgãos reguladores estão propondo algum tipo de controle; 4) a publicidade espera que os consumidores paguem pelo custo de usar a internet (exemplo: anúncios impressos com QR Codes onde o anunciante espera que o consumidor baixe o QR Code para acessar sua propaganda). Será que alguém vai comprar uma TV apenas para assistir a um comercial?
pergunta 3, slide 15: apenas 6% das pessoas que vocês consultaram não acessa redes sociais de nenhuma forma nos celulares. quais poderão ser as consequências, para os negócios de todos os tipos, de uma população tão grande como a brasileira, conectada, móvel, social, em escala?
Em países como Coréia do Sul, o acesso à internet (assim como a educação) é mais que prioridade. Sabe-se que as pequenas e médias empresas movimentam a economia e estas empresas dependem massivamente de conexão à internet. Principalmente em áreas como a de Serviços, a internet se tornou tão vital quanto a energia elétrica e o próprio escritório físico da empresa. No Brasil, o Governo atentou recentemente para um plano de acesso às redes, porém com muitas críticas por conta de velocidades de acesso muito baixas.
O caso da própria E.life é um exemplo de como a Internet pode impulsionar negócios. Saímos de um faturamento de 0 (zero) a 10 milhões de reais em 5 anos, graças à internet e possibilidade que tivemos de ter um negócio sem escritório (mas com clientes). Hoje, ainda 50% dos nossos colaboradores trabalham em escritórios virtuais ou no regime de Home Office. Estas escolhas da E.life se deram pela falta absoluta de venture capital no Brasil (não há cultura e quando falamos de seed Money é praticamente impossível). Tenho certeza que educação+conexão podem impulsionar milhares de pequenos negócios como o nosso.
pergunta 4. slides 18+20: na sua amostra, faceBook já passou orkut em volume de usuários… e quase o dobro de pessoas diz usar mais faceBook do que orkut. que mudanças de comportamento estão por trás disso? dá pra identificar o que, agora? e quais as consequências para os negócios?
Aqui vale uma consideração. Segundo dados da ComScore, o Orkut ainda é o líder absoluto no Brasil, mas cresce mais lentamente do que Facebook. O que podemos observar no nosso estudo é que de fato mais pessoas declararam usar o Facebook em 2010 em comparação a 2009 (quase o dobro), mas o Orkut se manteve no mesmo lugar (diferença pequena de 3 pontos percentuais, o que está dentro da margem de erro). Isso confirma que Facebook está na curva ascendente, enquanto Orkut ainda cresce entre os laggards (público adotante tardio – no Nordeste, segundo dados da ComScore de março, o Orkut ainda cresce).
Porém, a tendência (pode não ser este ano) é que o Orkut entre na curva descendente (isso se não houver nenhuma modificação na rede social). Isso aconteceu na Índia em 2010 e, em breve, deve se confirmar no Brasil. Segundo Dunbar, o tamanho do córtex no cérebro humano define o tamanho das nossas redes sociais e que podemos gerenciar um número limitado de 150 contatos na nossa rede. É claro que o número de contatos que conseguimos gerenciar com os artefatos da Tecnologia da Informação ampliam a capacidade do nosso córtex, porém não creio que as pessoas possam trocar de rede social tão facilmente, a não ser que o incentivo seja muito bom. O Google nos passa uma mensagem confusa ao investir em uma nova rede social (Google+) ao invés de reforçar o Orkut em países onde ele é forte (como Brasil).
Para os negócios, o crescimento do Facebook é realmente uma benção. Isso porque desde o começo o Facebook se preocupou com as empresas, criando serviços e produtos mais focados no público corporativo. Basta ver, por exemplo, a adoção corporativa das empresas ao Facebook, que se deu muito mais rapidamente e em maior escala do que no Orkut. É mais provável que uma empresa que invista em redes sociais aqui no Brasil tenha uma presença no Facebook do que no Orkut. O Orkut atentou para isso e começou a investir em produtos próprios para as empresas. E tem atraído as organizações e os consumidores. O caso recente mais emblemático é da Coca Cola Brasil. Em 2 de junho, a empresa criou uma comunidade oficial no Orkut e hoje esta comunidade se aproxima do seu primeiro milhão de membros. Ou seja, a Coca Cola contradiz a máxima que o Orkut está morrendo.
pergunta 5, slide 33: assistir TV e estar na rede parece ser simultâneo, em pelo menos parte do tempo, para 57,8% da sua amostra. quais são as consequências disso para TV? vocês percebem, na e.life, um elevado índice de atividade no twitter, faceBook e outras redes sociais, relacionado a programas e comerciais da TV? na sua opinião, que consequências isso tem para TV? e para a rede?…
Sim, notamos que há um uso simultâneo das redes sociais e mídia de massa desde as eleições do ano passado. Este ano, ao monitorarmos a estreia de “O Astro” observamos pico de tweets exatamente no mesmo horário em que a trama era exibida pela TV Globo. Observamos que os picos acontecem exatamente nos horários em que as novelas vão para o ar. Isso é um indicativo que as pessoas assistem a TV e acessam as redes sociais ao mesmo tempo.
No Twitter, é possível descobrir quem foi impactado por cada buzz da novela e criar novas formas de medir audiência qualitativa e quantitativa usando redes sociais. Com a adoção maciça da internet pela população e o uso disseminado das redes sociais irá substituir os índices de audiência tradicionais rapidamente.
mudanças, mudanças. muitas e sociais.