lá no começo da internet aberta, há uns 15 anos, costumava-se discutir que tipos de negócios concretos [feitos dentro de lojas, de tijolos, ou "bricks"] se tornariam redundantes por causa do comércio virtual, nas telas, movidos a "clicks". numa entrevista em 1999 para business week, jeff bezos já dizia que…
…strip malls will go away because physical retailing isn’t going to be able to compete on price. If you study the economics, online retailing is just more efficient. As a result, that leaves other things for physical stores to compete on, and there are lots of dimensions that are important to customers besides price. One is entertainment. So a lot of shopping gets done in large part as entertainment. This is why Nordstrom’s has a piano player and so on. So what’s going to happen is that stores are going to get more entertaining. The quality of the sales associates is going to go up to make that experience more pleasant. Stores are going to get cleaner. Every dimension you can imagine of making a physical store better is going to happen.
…lojas físicas não vão competir com as virtuais em preço, porque o varejo online é muito mais eficiente do ponto de vista econômico. as lojas da rua têm outras dimensões para competir com as virtuais, como entretenimento, conforto, limpeza, qualidade dos vendedores. as lojas físicas têm que pensar em muitas outras dimensões para competir com as virtuais, menos preço.
acontece que, apesar do grande avanço do ecommerce [no brasil, R$20B em 2011, um crescimento de 35% sobre 2010], a reação das [cadeias de] lojas físicas tem sido muito lenta e a prática do que os americanos chamam de "showrooming" se generaliza. o que é isso? você sabe: vamos à loja ver e experimentar o produto, pesquisamos [de lá mesmo] o preço na web e, se conseguimos algo muito parecido na loja, compramos lá mesmo, talvez por causa da vontade de levar pra casa na hora, se podemos carregar a coisa nós mesmos. caso contrário, compramos na web. mais barato, às vezes ou quase sempre, no comércio eletrônico da própria loja em que estamos.
no mundo inteiro, cadeias de lojas físicas estão pensando em alternativas para enfrentar o comércio eletrônico e a bola da vez parece ser produtos desenhados exclusivamente para o comércio físico. séries ou itens especiais feitos apenas para varejistas específicos, talvez sob demanda deles. será que funciona? o que deveria ser um liquidificador, fogão, celular ou tênis que só pode ser encontrado em uma loja física e que não dá pra comparar com um outro, "genérico", que pode ser adquirido online?…
deixando de lado o fato de que [por razões de escala] isso talvez só funcione para o grande varejo, as grandes cadeias nacionais ou, por outro lado, para itens de moda que já são [ou pretendem ser] quase únicos, a "solução" que está sendo desenhada pela target, nos EUA, parece escapismo puro.
a curva de crescimento do ecommerce acima deveria preocupar as lojas físicas no contexto do comentário de bezos, da amazon, que mais dia menos dia vai chegar ao brasil. de vinhos a geladeiras, de bicicletas a acessórios, de tênis a [cada vez mais] roupas femininas, a revolução do varejo online começa a pegar e, qualquer dia destes, vai chegar nas vendas de automóveis.
por que não? se você sabe exatamente qual o carro quer [porque pode testar num showroom, rodar no de um amigo, ou pode ser o mesmo modelo do táxi que você sempre pega], não seria muito bom comprar e emplacar na web, fazer o seguro e ter a coisa entregue diretamente na sua garagem? tá, pode ser muito enrolado [agora] entregar na garagem… mas pra que mesmo é que poderia servir o posto de gasolina na sua esquina?…
se eu estivesse no negócio de varejo, estaria trabalhando com a perspectiva de que tudo –mas tudo mesmo- que puder ser vendido online será. e teria a precaução de descontar, do "tudo", as coisas que podem, rapidamente, se tornar serviço [como carros, será?] e que, alguns anos, podem deixar de ser "vendidas" da forma como estamos acostumados a pensar hoje em dia. quem vender, verá.