“If you show the graphs to a cardiac surgeon, he will say it’s a human heart… But no, it’s not a human heart, it’s the prosthesis.” se você mostrar um eletrocardiograma para um especialista, ele vai dizer que se trata de um coração normal. mas não é um coração humano, é artificial. palavras do professor alain carpentier, da université pierre et marie curie em paris, responsável, juntamente com um time de engenharia da EADS [empresa que faz o airbus…] por um coração artificial que… parece humano.
o coração desenhado e construído pelo time de carpentier é o primeiro capaz de entender o que o corpo ao seu redor está fazendo e funcionar de acordo com a demanda. você está dormindo, ele "sabe" e bate devagar; você levanta de repente e tenta ir pro banheiro, ele também "sabe" [via sensores, atuadores e computação e comunicação pra mediar uns e outros] e age de acordo. e aí você não cai ao levantar da cama.
e não é coisa de professor aloprado não: o projeto tem investidores de risco [sete milhões de euros, pra começar…] incluindo dinheiro do próprio carpentier. algo me diz que falta muito disso no brasil. muito mais acadêmicos dispostos a arriscar seu tempo, trabalho, reputação, currículo lattes [ou coisa que o valha] e seu próprio dinheiro, tentando mudar o mundo pela via de uma das formas mais rápidas e eficazes que existe, o mercado.
inovação não acontece nos artigos científicos publicados em grandes jornais e congressos, em patentes obscuras enquadradas e penduradas nas salas de pesquisadores e tampouco nas bancadas e prateleiras dos laboratórios, onde morre de inanição a vasta maioria das idéias da academia. inovação é a mudança de comportamento de agentes, no mercado, como fornecedores e consumidores. de qualquer coisa. e precisamos de inovação nos transplantes.
em 2007, foram realizados pouco mais de 11.000 transplantes de todos os tipos no brasil, quando havia mais de 66.000 pacientes na fila. não há órgãos naturais em quantidade e qualidade suficientes para dar conta da demanda. queiramos ou não, trata-se de um mercado: há uma demanda de órgãos para transplante e a oferta é muito menor do que ela, o que resulta em escassez, sofrimento, corrupção e,em muitos casos, morte.
e a vida é um mercado prioritário para qualquer sociedade minimamente civilizada investir, de forma a universalizar as chances de sobrevivência de seus cidadãos. órgãos artificiais como o coração do professor carpentier são grandes avanços nesta direção. precisamos de mais progressos deste tipo. e muito mais rápido.
[ps: amanhã, neste espaço, reprise de um pequeno conto que publiquei há quase uma década atrás, sobre um coração artificial, conectado, andando por aí no corpo de alguém…]