em janeiro de 2010, apareceu aqui no blog o texto “skype incomodando as teles”, falando de como a empresa que começou e mantém mais de 40% de seus colaboradores em talinn, na estônia, estava começando a capturar muitos minutos de voz internacionais das operadoras clássicas. claro que não há nada mais óbvio do que isso, considerando os preços astronômicos que as operadoras cobram por ligações de longa distância, como se um portador humano, a cavalo, tivesse que carregar os bits de nossas chamadas.
e a coisa pode ficar muito pior se você estiver em roaming celular: um amigo pagou quase mil reais por dia de conta de dados no chile, por não ter levado em conta que os smartphones passam o tempo todo mandando e recebendo dados, especialmente se conectados a redes sociais. resultado? em 2009 skype detinha 12% do mercado mundial de conexões internacionais de voz, comparado com 4.4% em 2006. entre 2009 e 2010, foram mais de 100% de crescimento, chegando a 24.7% do tempo de conexão internacional. coisa de gente grande.
mas isso é a história vista de nosso mundo -dos bits- olhando para o das teles, que ainda teimam em enxergar os usuários em minutos na maior parte dos casos. e não é isso que a microsoft está comprando.
om malik, que foi o primeiro a falar do assunto, elenca uma série de razões [do lado da vida digital, conectada, móvel] para a microsoft pagar US$8.5 bilhões de dólares por skype, tornando-o um bom negócio para eBay e todos os outros investidores. a coisa, como não poderia deixar de ser, passa guerra global de posições nas redes sociais e os papéis de google, apple, facebook e da própria microsoft.
a compra de skype pela última significa que google não pegou os 663 milhões de usuários de skype que, tratado como rede social, é 10% maior do que facebook. quer dizer também que facebook, de quem a microsoft é investidor [até para excluir google da cena…] pode pensar em construir uma liga entre seu grafo social e a conectividade distribuída oferecida por skype. ainda por cima, a apple vai ter que rebolar para enfrentar a combinação de microsoft, skype e facebook em todos os cenários, o que deve tornar a estratégia “social” de tim cook ainda mais difícil de ser executada.
em especial, a microsoft –há décadas expert em estratégias emergentes, inclusive e principalmente a partir do mercado- não gastou uma fortuna [1/6 do caixa da companhia] só para manter google longe de skype e aperriar a apple. os negócios de mobilidade de redmond, centrados em windows phone 7 e no acordo com a nokia, têm muito a ganhar com um skype “nativo”, até porque há teles que já acordaram para jesus e vinham conversando com skype sobre a transição para as redes LTE [long term evolution] que, de uma vez por todas, vão acabar com a história de “voz” e “minutos” nas operadoras móveis.
claro que há críticos e críticas de todos os tipos quando se trata de uma aquisição deste porte, por companhias de perfil tão elevado, num cenário competitivo tão acirrado. mas a grande maioria parece concordar que se a microsoft não “bagunçar” skype e souber usar, apropriadamente, o que sua mais nova aquisição oferece, o resultado pode ser um significativo aumento da competitividade de redmond nos mercados social e de mobilidade. como os dois estão cada vez mais visceralmente conectados… é bem capaz de steve ballmer ter feito a operação que vai garantir seu nome na história dos negócios da era da informação.