o blog da lu “apareceu” lá no C.E.S.A.R pra tomar um café e me fez uma ruma de perguntas interessantes. a primeira foi sobre “educação digital”.
LU: Falando sobre a presença das pessoas na rede, a inclusão digital é necessária e importante para o desenvolvimento do país, porém alguns especialistas dizem que se não houver uma “educação” digital antes disso, essa tendência pode ser mais perigosa do que se imagina. Como você enxerga essa questão e quais seriam as providências a serem tomadas nesse sentido?
Silvio Meira: Eu não acho que é possível, em escala nacional (e ainda menos global) criar alguma “educação digital” que faça sentido, hoje. O que todos estamos vendo é que as pessoas estão num modo “aprender fazendo” e que o sistema educacional (que seria responsável, em tese, por uma “educação digital”) ficou para trás e luta, desesperadamente, para entender o que está acontecendo no mundo digital, das redes e redes sociais, da robótica e por aí vai. Daqui a algum tempo, talvez, o sistema educacional formal chega lá, descobre o que está acontecendo e sistematiza alguma forma de comunicar isso de forma estruturada às pessoas. Aí ele vai poder cuidar da educação digital desde o maternalzinho. Por enquanto, a vasta maioria do “sistema” está mais perdida do que cachorro em dia de mudança e é melhor a gente deixar ele se encontrar antes de confiar que, a partir dele, vamos ter alguma “educação digital”.
outra pergunta legal foi sobre o futuro, daqui a 20 anos…
LU: …gostaria de convidá-lo a um exercício sobre o futuro: se você dormisse e só acordasse daqui a 20 anos, o que você imagina que veria nas ruas? Como seria o transporte, as escolas, as paisagens e as pessoas?
Silvio Meira: Em vinte anos, haverá gente com quinze anos que só vai nascer em 2017, daqui a cinco anos. E 2017 é quando alguns fabricantes de automóveis acham que os primeiros carros sem motoristas (aqueles que “se dirigem” sozinhos) estarão no mercado por um preço aceitável. Então, quem tiver 15 anos em 2032 vai nascer 15 anos depois dos primeiros carros realmente “automáticos”: vão poder chamar um carro pelo smartphone da época (qual será? uma lente de contato conectada à rede móvel?…) e o tal carro vem, sem motorista, pra levá-los onde quiserem (ou onde puderem pagar pra ir). Isso pode significar que, aos 15 anos de 2032, ninguém vai ficar contando os dias, durante três anos, para tirar carteira de motorista, algo que tem que se tornar obsoleto, no médio prazo, pra gente se livrar da ideia de “ter um carro”. Pois carros têm que ser parte de uma infraestrutura compartilhada de mobilidade, senão será impossível resolver o problema de mobilidade urbana.
Agora, vamos olhar para o que eu acabei de dizer… com os olhos da mudança nas pessoas, e não na tecnologia. Tecnologia habilita mudança, ela própria não muda nada. Se não fizermos uso dela no nosso dia-a-dia, nada acontece. Para que os tais carros “automáticos” aconteçam, talvez tenhamos até que mudar as leis. Provavelmente mudaremos mesmo, proibindo motoristas urbanos, porque ineficientes e, talvez, perigosos demais. Isso muda muita coisa, não é? Inclusive, resolve a Lei Seca… pois deixamos de precisar dela: os carros “automáticos” não aceitam ser dirigidos por nenhum motorista, alcoolizado ou bonzinho da silva. Mas… e o tamanho da mudança de comportamento, de filosofia de vida, pra que isso aconteça… vai vir de onde?
gostei das perguntas. pense nos “autocarros”, coisas que “se dirigem” pela cidade, e não precisam de motoristas pra nada. aliás, neles, o motorista é passageiro…
estes “autocarros” [a previsão para 2015 é da ford] certamente serão capazes de recarregar suas fontes de energia sozinhos, também. pra todos os garotos e garotas que nascerem quando o mundo já for assim, isso será absolutamente natural, eles não precisarão de “educação digital” nenhuma pra conviver com este cenário. a menos que queiram ser parte da turma que vai fazer as próximas gerações dos autocarros e seus substitutos.
para os que já estão aqui, agora, esperando que aconteça, ou que nem sabem que pode [ou vai] acontecer, vai ser um choque danado. educação digital serviria pra isso, também, pra preparar as pessoas pra um futuro do qual, sem aviso, elas não fazem a menor ideia. um futuro onde não haverá motoristas nas cidades [e os poucos que houver terão copilotos].
o futuro, como se sabe, vem do futuro. o passado, na maioria das vezes, é só um detalhe. a complicação é que nem a escola nem a universidade estão pensando em pensar [e tratar, e aprender com] o futuro, e insistem, no presente, em ensinar os velhos conceitos e práticas do passado, só porque já sabemos o que é, mesmo que sirva pra muito pouco ou quase nada.
toda a conversa do café com a lu está neste link. vá ver. e boa leitura…