eletrônicos: a crise ainda não acabou e…

image dados recentes da abinee, associação da indústria do setor eletroeletrônico, mostram que a crise continua por aí, e em variados setores da economia. clique no gráfico ao lado, que mostra as exportações do setor nos últimos três anos [2009 em verde, bem abaixo de 2007, em vermelho, e do azul de 2009], que você vai direto para o balanço feito pela abinee até setembro deste ano.

a crise neste mercado tem vários componentes, incluindo o day after da crise de crédito e a valorização do real. e o real forte não causoimageu, por exemplo, um aumento excessivo das importações, como mostra o gráfico à direita, onde se vê que a entrada de eletrônicos, em 2009 [verde], voltou aos níveis de 2007 [vermelho]. mas a valorização da moeda brasileira pode ter tido um efeito negativo muito sério na competitividade de produtos brasileiros lá fora: só a exportação de celulares, no ano e em valor, caiu 38% em relação ao mesmo período de 2008.

a única consequência benigna do atual estado de coisas  [?] é que o déficit do setor, eterna preocupação dos formuladores de política para a área, caiu, imagee caiu muito, como mostra o histograma ao lado. em relação a 2008, estamos economizando mais de cinco bilhões de dólares até agora. a previsão para 2009 é de US$22B de compras e US$7B de vendas, o que vai causar um rombo de US$15B nas contas do país. grande, muito grande, mas bem menor do que os US$22B do ano passado.

pra se ter uma idéia comparada do tamanho do problema, a tonelada de soja [este mês; veja os dados históricos aqui] está cotada ao redor de US$400 e o brasil deve exportar cerca de 25 milhões de toneladas de soja este ano o que vai resultar em US$10B do lado positivo da balança: por estas contas, precisamos de safra e meia de soja [exportada] só para cobrir o déficit de eletrônicos.

segundo a abinee, o mercado de 2009 será de 5 a 7% menor do que 2008, e a indústria deve voltar a crescer no ano que vem, mas… "Não há um futuro muito promissor… A tendência é que o déficit volte a aumentar em 2010". talvez voltemos aos níveis de 2008, e aí será necessário exportar duas safras de soja [no ano] pra pagar a conta: haja desmatamento.

a pergunta que talvez devêssemos fazer, sobre a crise da balança de pagamentos de eletrônicos, é… quais são as causas estruturais do déficit ou, talvez, qual é a principal causa estrutural do déficit? a indústria tem sua lista, ela é longa e passa pelos onipresentes e reais juros altos, parte do ubíquo custo brasil.

do lado de cá do blog, meus botões e muitos especialistas acham que o problema é mais profundo. o fato é que nós não somos competitivos no mercado internacional porque não temos o custo da china [e parece que nunca teremos] e, ao mesmo tempo, não somos inovadores como a finlândia [por exemplo]. e a consequência é que, no negócio de eletrônica em geral, informática inclusive, continuamos [majoritariamente] produzindo commodities para o mercado nacional.

precisamos de muito, mas muito mais empresas e empreendimentos que, ao invés de se pensarem num quintal de mundo e aceitarem como uma espécie de dádiva divina o quinhão que lhes sobra, quase que por definição e exclusão, passem a pensar no mundo como um quintal de suas operações. claro que é um quintal complexo e difícil, cheio de gente, parte da qual muito competente. mas competir em mercados internacionais nunca foi fácil e sem riscos.

para competir, de verdade, é preciso inovar. e a receita é conhecida: vamos ver o que pensa paulo tigre, presidente da fiergs: a inovação é a chave para a competitividade das empresas e o desenvolvimento do país e, consequentemente, determinante para o aumento da produtividade e da renda real. quase todo ator de primeira grandeza do cenário industrial e de negócios brasileiro, se provocado, daria uma declaração similar.

mas enquanto as empresas brasileiras de eletrônica e informática, inclusive muitas que se acham inovadoras, continuarem pensando em cópias rápidas e rasteiras de produtos existentes no mercado internacional, criadas para substituir importações para o mercado nacional, sempre num espírito rasteiro de “precisamos correr atrás”… continuaremos, sim, atrás e muito pouco competitivos no mercado internacional. e a balança comercial do setor continuará desbalanceada.

e os sinais de que ela pode se tornar ainda mais negativa são muitos, incluindo o significativo número de empresas brasileiras [de hardware] planejando a terceirização de sua produção para o sudeste da ásia. quando isso acontecer [é só o dólar cair um pouco mais…] o governo certamente reagirá com barreiras à importação, reinstalando com toda força o mercado cinza do setor, pelos caminhos desastrosos, do ponto de vista de trabalho, renda e impostos, que todos nós já conhecemos.

a crise da balança comercial dos eletrônicos e da informática não é superficial e tampouco conjuntural; ela é profunda, estrutural e nunca [na história deste país…] foi tratada com a atenção, dedicação, conhecimento e investimento que deveria, tanto do ponto de vista das empresas como das políticas públicas. enquanto isso não for feito, a crise não será resolvida, pois não se resolverá sozinha.

e o resto é economia de elevador, publicada todo mês como se fora tábua de marés, com números dançando para cima e para baixo, sobre discursos vazios e ouvidos ocos.

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