também eram só robôs humanóides, só que autônomos, tamanho “kid”, entre 30 e 60cm de altura, “jogando” num campo de 6m de comprimento, dois tempos de 10min, em eidhoven, na holanda, no campeonato mundial de robôs de 2013. pelo iran, o time era o AUTman, da amirkabir university of technology e, defendendo os EUA, DARwin, da university of pennsylvania, que ganhou por 7 a 4 e levou o título mundial pra casa. “kids” é a liga mais competitiva e DARwin é tricampeão; para o irã, foi um grande feito chegar à final. os EUA, alemanha e japão quase sempre estão em alguma final e o resumo da ópera [“kids”] de 2013 está no vídeo abaixo, veja!…
a boa notícia para o brasil é que a robocup 2014 é aqui, em joão pessoa, de 21 a 25 de julho, logo depois da copa do mundo de humanos. o blog entrevistou o comitê organizador, alexandre simões, esther colombini e flávio toninandel, pra descobrir o que vai rolar na paraíba. todos são doutores em robótica; alexandre é professor da UNESP sorocaba e coordenador da mostra nacional de robótica; esther é professora da FEI e presidente da roboCup brasil e flávio, também da FEI, é o coordenador da olimpíada brasileira de robótica. todas as perguntas foram respondidas em conjunto pelos três, e a entrevista foi feita por emeio. acompanhe.
blog: o que rola num campeonato mundial de robótica?
galera da roboCup: Você vai encontrar muita coisa diferente na RoboCup. A competição tem 17 modalidades distintas, cada uma delas com propósitos e robôs bem diferentes. Existem, por exemplo, diversas ligas de futebol, que são as mais conhecidas da RoboCup. O objetivo, no futebol, é fazer um monte de peças de metal, controladas por hardware e software, jogar com regras da FIFA sem qualquer controle humano. Isso quer dizer que os jogadores-robôs tomam suas próprias decisões, guiados pelo que chamamos de sistemas de “Inteligência Artificial”. Há ligas de futebol de robôs com rodas, com pernas, robôs pequenos (do tamanho de crianças, ou kid size), médios (do tamanho de adolescentes) e grandes (do tamanho de adultos).
Além da liga de futebol, existem também ligas especializadas em resgate. Nessas ligas os robôs devem entrar em um ambiente que simula uma área de desastre, encontrar e ajudar vítimas. No desastre nuclear de Fukushima, robôs como os desta liga ajudaram em diversas operações em lugares perigosos para humanos. Na RoboCup também temos uma liga para versões reais da “Rosie”, a famosa ajudante-robô da família Jetson (desenho animado da Hannah-Barbera). Esta liga tem robôs que auxiliam os humanos em tarefas domésticas, tais como pegar um refrigerante na geladeira ou fritar um ovo.
Você também pode encontrar na RoboCup ligas para novos tipos de robôs industriais, que se adaptam à presença humana nas linhas de produção. A RoboCup também tem muitas ligas voltadas para crianças e adolescentes, que desde pequenos desenvolvem robôs em todo o mundo para jogar futebol, dançar e realizar mini-tarefas de resgate.
blog: quem participa da roboCup?
galera da roboCup: Durante todo o ano, milhares de pessoas pesquisam e desenvolvem robôs em universidades, centros de pesquisa e escolas de mais de 45 países com o objetivo de participar da RoboCup. Esses grupos participam de seletivas em seus países ou atendem a chamadas especiais de algumas ligas. Esse processo de seleção envolve desde a elaboração de vídeos e trabalhos científicos demonstrando as inovações dos robôs até competições locais com outros grupos. Só para dar um exemplo, no Brasil nós temos a Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), que atualmente tem mais de 1.000 times participantes de todos os estados do país. O time campeão brasileiro de cada ano é o representante do Brasil na RoboCup internacional. Da mesma forma, em cada país, seletivas como essa acontecem durante o ano. De alunos do ensino fundamental e médio a universitários e alguns dos mais renomados pesquisadores do mundo na área de robótica e IA participam da RoboCup.
blog: o que é IA? como um robô joga com inteligência artificial? não há controle remoto?
galera da roboCup: Vamos fazer uma analogia. Um humano jogando futebol precisa observar os jogadores e a bola, diferenciar seus colegas dos adversários, planejar sua estratégia, elaborar seus próximos movimentos e tentar realizá-los. Caso ela dê errado, ele precisa ser capaz de melhorar sua estratégia ao longo do jogo. Ele também precisa se comunicar com seus colegas de time, com seu técnico, e agir de acordo com seu estado físico atual. Isso acontece da mesma forma para um robô. Ele observa seus colegas e a bola através de sensores (câmeras, sonares, infravermelho, GPS, etc.), identifica-os através de técnicas de Visão Computacional, planeja sua estratégia através de software especialmente desenvolvido para esta finalidade e elabora os comandos que serão enviados a seus atuadores (o análogo de seus músculos de um jogador humano).
Esse sistema robotizado também faz uso muitas vezes do que chamamos de “aprendizado”, reavaliando continuamente o seu desempenho para poder melhorá-lo. Toda essa gama de atividades é o que chamamos nesse caso de “Inteligência Artificial”. Dessa forma, não existe controle remoto. Os robôs são o que chamamos de “autônomos”. A grande tarefa dos cientistas e programadores envolvidos na competição é encontrar formas novas, criativas e eficientes de conseguir incorporar tudo isso em um time-robô. Não existe uma “receita de bolo” para fazer isso. Estamos falando de uma área de pesquisa de muita complexidade e aplicação prática. Boa parte do conhecimento associado aos robôs-jogadores na RoboCup está relacionado aos mesmos problemas enfrentados cotidianamente por empresas que fazem uso intensivo da automação para a melhoria de seus processos produtivos.
blog: já houve esse evento no brasil? por que ele está acontecendo agora?
galera da roboCup: A RoboCup acontece anualmente desde 1997, quando a sede foi Nagoya, no Japão. Desde então a competição já passou por 16 cidades em muitos países, mas nunca no Brasil nem na América do Sul. Esta será a primeira vez em que teremos a chance de receber um dos maiores eventos de tecnologia do mundo. Como a RoboCup foi criada com o objetivo de desenvolver uma “seleção de robôs” que possa vencer em um futuro próximo a seleção humana campeã da FIFA, ela possui uma grande proximidade com o futebol. Por isso, existe uma tradição de realizar a RoboCup no país-sede da Copa do Mundo. Contudo, isso nem sempre acontece. Em 2010, por exemplo, a RoboCup foi realizada em Singapura, e não na África do Sul, porque o país não tem uma tradição forte em robótica. Desta forma, o Brasil, como país sede da Copa do Mundo, tinha boas chances de conseguir sediar a RoboCup. Contudo, foi a união da comunidade científica brasileira –os pesquisadores na área de robótica– que tornou sólida a candidatura do país como possível sede da RoboCup. Os pesquisadores apresentaram uma proposta que foi prontamente apoiada por dezenas de universidades, pelo Governo do Estado da Paraíba e pelo Ministério do Esporte.
blog: o que foi preciso fazer para organizar a roboCup no brasil?
galera da roboCup: Vamos fazer novamente uma analogia com o futebol. O treinamento de uma seleção pode custar caro, levar anos e envolver um número muito grande pessoas. Nenhum time que disputa um torneio mundial gostaria de, depois de todo esforço, disputar suas partidas em um estádio com o gramado ruim. Da mesma forma é para os robôs. A RoboCup é um dos mais importantes eventos de tecnologia do mundo, com muitas especificidades técnicas. Para que os robôs possam competir mostrando todo o seu potencial, é preciso garantir toda uma série de condições nos campos, energia de qualidade, iluminação, internet e wireless e por aí vai. Muitos quesitos precisam ser tecnicamente perfeitos para que eles cumpram bem seu papel.
blog: por que uma roboCup, realizada aqui, é boa para o país?
galera da roboCup: A RoboCup está muito além de ser um evento apenas técnico. Ela possui vertente cultural, esportiva, científico-tecnológica, de inovação, educacional e de divulgação científica e é importante que a passagem do evento pelo Brasil deixe um legado nessas áreas. A organização do evento em si gera vários benefícios locais: atração de turistas, movimentação da rede hoteleira, internacionalização, etc. Do ponto de vista cultural, não é tão comum termos contato com robôs no Brasil. Essa cultura é totalmente diferente em alguns países asiáticos, por exemplo. Conhecer e se relacionar com elementos de alta tecnologia tem muita valia em termos culturais: estimula os jovens a seguirem carreira em áreas científico-tecnológicas, apresenta à população elementos de alta tecnologia, incentiva o desenvolvimento e a inovação. Podemos dizer que os robôs são hoje o que os computadores foram na década de 80. É preciso estimular a interação das pessoas com este tipo de tecnologia, evitando que parte da população acabe sendo tecnologicamente excluída em alguns anos. Além disso, a robótica é também uma fantástica ferramenta educacional. Robôs são hoje utilizados com muito sucesso em milhares de escolas brasileiras e em todo o mundo como elemento lúdico capaz de trabalhar conteúdos transversais, algo que é fundamental no ensino contemporâneo. É uma ferramenta capaz de atrair a atenção do jovem da (e para a) nova sociedade tecnológica.
Em termos de mercado, precisamos considerar as implicações potenciais em termos de geração de novos produtos e processos com alto grau de inovação. O Brasil tem ainda uma tradição pequena na utilização de robôs para serviços. A tendência mundial nos diz que o uso de robôs em tarefas não industriais crescerá muito nos próximos anos. A robótica pode abrir novos mercados no país, estimulando a criação de novas empresas que movimentarão a economia. De fato, seria muito melhor estimularmos a produção de robôs no Brasil do que dependermos da importação para atender a este mercado crescente.
blog: eu –e o leitor- podemos participar da roboCup?
galera da roboCup: Para aqueles que desejam competir na RoboCup, a fase de seleção ocorre anualmente entre agosto e fevereiro (dependendo da liga). Para 2014, as seleções já estão encerradas. Mas há outras formas de participar da RoboCup 2014. Todos os jogos serão abertos ao público e com entrada franca. Você está convidado a conhecer centenas de robôs de mais de 45 países que virão para o Brasil. Além disso, a RoboCup é um evento integralmente organizado por voluntários. Se você quiser ajudar na organização, pode se candidatar a ser um voluntário. A RoboCup terá também palestras, mini-cursos, simpósio e workshops, e contará também com apresentações de robôs culturais e artísticos. A agenda de eventos estará disponível em breve na página do evento, no link www.robocup2014.org.
o objetivo, digamos, final da roboCup é chegar a um ponto onde um time de robôs humanóides completamente autônomos consiga derrotar o time humano campeão da copa do mundo da FIFA, isso se tal organização ainda existir; se não, é derrotar seja lá quem estiver jogando muito bem, como o atlético de madrid de hoje em dia. a data-alvo da partida é 2050, ano em que, se tudo correr bem, haverá uma copa e um time campeão mundial humano para disputar com os robôs. o vídeo abaixo fala dos desafios científicos da kid size e porque um monte de cientistas de primeira linha, mundo afora –e aqui no brasil…, investe seu tempo e recurso neste tipo de “brincadeira”…