eu, você e o a-erre-pê-u

em entrevista recente ao teletime, o presidente da associação gsm américas disse que a penetração de celulares no brasil pode até crescer um pouco nos próximos tempos, mas que a receita [mensal] média por usuário vai continuar a mesma. esta receita é o a-erre-pê-u do título, average [monthly] revenue per user ou ARPU.

o sonho de toda operadora é um ARPU alto, por motivos óbvios: pra ter um cliente com um celular na mão, a operadora tem que construir e tocar uma infraestrutura cara e complexa, que ainda por cima deve atender as normas regulatórias da anatel. tem que ter serviços, marketing… em suma, não se trata de montar um bar na esquina. como se não bastasse, não estamos falando de um monopólio: há quatro companhias diferentes lutando pelo ARPU de cada um de nós. ainda por cima, como todas são muito parecidas e o serviço tem muito pouca ou, na maioria dos casos, nenhuma diferenciação ou valor agregado que torne uma companhia preferível a qualquer outra, os usuários podem trocar de serviço num piscar de olhos. principalmente agora, com portabilidade numérica e celulares desbloqueados.

resultado? o ARPU brasileiro é US$17, apenas um dólar acima da média da américa latina. e três vezes menor do que o americano. nossa renda média, claro, é menor do que na américa, assim como cobertura e qualidade de serviço na maioria dos lugares. mas outros fatores, tão importantes quanto, entram em cena: aqui se fala muito menos pelo mesmo preço, primeiro porque as operadoras cobram mais e segundo porque o brasil cobra dos usuários de celulares um dos impostos mais altos do mundo.

compare: em países como estados unidos e canadá, o imposto sobre conectividade é menos de 10%; em lugares como inglaterra e argentina, é da ordem de 20% e, por aqui… estamos ao redor de 40%. a cada um real de carga no seu pré-pago ou de conta de seu celular, perto de 40 centavos vão direto para os cofres públicos. o imposto médio, no mundo, sobre celulares, é abaixo de 18%. mas a sanha arrecadatória, por aqui, é radical…

e tudo fica muito mais grave [do ponto de vista do ARPU] por causa da imagem abaixo, da teleco, que mostra a distribuição dos celulares pré-pagos no país. olhando para o todo, 81.5% das pessoas que têm celular, no brasil, têm um pré-pago. isso é basicamente a área em vermelho no mapa, onde estão o sul e sudeste e mais o distrito federal e mato grosso do sul. na área verde os pré-pagos representam de 85 a 90% e na área azul são mais de 90% dos celulares. os pré-pagos [ARPU de um terço dos pós-pagos, ou menos] definem o ARPU de cada operadora e do sistema, portanto.

image

não é segredo para mais ninguém que estamos frente a uma crise econômica mundial de grandes proporções. talvez fosse interessante dar uma olhada em estudos diversos que apontam para uma correlação entre a penetração de celulares, seu uso intensivo e o aumento da capacidade de desenvolvimento regional e nacional.

muito provavelmente, 10% de aumento de penetração [e uso efetivo] de mobilidade corresponderiam a mais de um ponto percentual de crescimento adicional da economia. pontinho adicional que poderia ser muito importante nos meses, talvez anos, que vamos viver daqui por diante. será que cortar 10 pontos percentuais do imposto sobre mobilidade, com obrigação de abatimento direto no preço de comunicação, para o usuário final, não seria um bom investimento, agora?… é, mas isso teria que mexer com os gastos do legislativo, judiciário e executivo. melhor esquecer, talvez.

o presidente da gsm américas, na mesma entrevista, dá uma receita para as operadoras: na iminência de ver o tráfego [e o ARPU!] reduzido por causa da crise, elas deveriam incentivar seus usuários a usar mais SMS e emeio móvel. a gsm américas certamente sabe do que está falando e também sabe [mas não disse] dos preços de dados móveis no brasil. 

os últimos dados que achei sobre o preço de SMS no brasil e no mundo[também da consultoria teleco]  são mostrados comparativamente a na imagem abaixo:

para cada SMS mandado por um de nós, um súdito de hugo chávez manda cinco e um chinês envia quinze. o título do histograma não reflete a verdade dos números; melhor seria “brasil tem um dos maiores preços de SMS do mundo”. será que as operadoras, no brasil, ganham muito com dados? não. na venezuela [SMS a US$0.03], dados são 31% do negócio; no brasil, [SMS a US$0.15 ou mais], dados representam apenas 14% do faturamento.

moral da história: a continuar valendo a conjunção de preços altos e impostos altíssimos, combinada com escassez de cobertura e serviços, aliada ao baixo grau de inovação das operadoras locais, o potencial de mobilidade, no brasil, continuará, por muito tempo, sendo um potencial.

o que seria uma pena. com o que sabemos e temos aqui, desde necessidades, mercado e capacidades locais até o mercado potencial no mundo, poderíamos fazer muito, muito mais.

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