quinta passada rolou a abertura do gamePlay, simpósio/exposição sobre interatividade e games, no itaú cultural, em são paulo. tive o prazer de fazer a palestra inaugural, que tomara tenha sido gravada e vá pra rede alguma hora. quando for, anuncio o link aqui no blog.
enquanto isso, republico abaixo o comentário que guilherme kujawski escreveu no blog do itauLab sobre minha contribuição ao evento. os slides estarão disponíveis neste fim de semana e o link pra eles vai aparecer num PS deste texto e no meu twitter. inté.
Ele dorme pouco. Suas olheiras, porém, não revelam cansaço; muito pelo contrário. Sua postura é enérgica, vibrante; suas ações são vigorosas. Seu raciocínio é aguçado. Ele sabe que não há tempo para o sono no colo do gigante adormecido chamado Brasil. Há muito por se fazer contra a mediocridade que grassa, seja no congresso nacional ou nos congressos estudantis.
Esse incansável lutador lembra um pouco a energia infinda de Gordon Pask, o cientista britânico que, durante suas longas horas de vigília, propôs uma teoria da conversação que abarcasse humanos e máquinas. Mas tratamos de Silvio Meira, cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, que realizou a palestra inaugural do Simpósio GamePlay, ontem, dia 30 de julho.
E que palestra! Em sua preleção, associou os processos de interação – substância da exposição GamePlay – com o devir existencial, com o “ser-aí” (dasein) de Martin Heidegger, a potencialidade do ente em disparada, em constante atualização, em sua busca constante por uma tensão dinâmica que lhe proporcione recursos contra a entropia, o fluxo bêbado do mundo exterior.
Após algumas contextualizações filosóficas, Meira se desculpou por supostas imposturas intelectuais, e seguiu em frente em sua análise sobre o papel dos jogos eletrônicos na sociedade contemporânea. Se hoje eles espelham simulacros, é porque nos distanciamos por demais das percepções imediatas, da presença do real (a realidade propriamente dita) e do Real (a única realidade possível, segundo Lacan, a saber, a morte). Se os videogames tornaram-se hiperreais – a ponto de incluírem em seus ambientes sofisticadas simulações de leis de física – é porque, de certa maneira, nos tornamos escravos das formas puras platônicas, independentes dos mecanismos de percepção imediata.
No futuro, de acordo com as previsões do filósofo pernambucano, “game is over”. Sim, pois ao invés de fingirmos tocar a guitarra de George Harrison no videogame musical The Beatles: Rock Band, vamos literalmente reproduzir os acordes, sem o recurso da simulação. A coisa real será o apelo.
Logo, os personagens virtuais dos videogames serão materializados em robôs autônomos ou semi-autônomos que sentarão com humanos para redigir uma nova legislação de robótica, menos antropocêntrica que as três leis de Asimov. A lógica das percepções transformadas em emoções, hoje restrita ao universo dos humanos, fará parte de uma população de máquinas inteligentes não elaboradas para serem escravas ou assassinas de aluguel, mas simplesmente parceiras de jogos para a raça humana.
Ao final, Meira contou sobre o que parece ser a solução para os aborrecidos videogames educacionais: competições em redes sociais. Tal é o fundamento do projeto OjE (Olimpíada de Jogos Digitais e Educação), iniciativa de vários players tecnológicos de Recife. Ao invés de coibir a fuga de alunos para as lan houses, por que não trazê-las para o pátio dos colégios? O ensino não deveria ser um jogo de conhecimento?
Silvio Meira quer mais que um estado de bem-estar; quer um Welfare State of Mind. Conte conosco, caro filósofo das técnicas!
PS: para chegar nos slides usados nesta palestra, clique aqui [32MB, .pptx].