nos últimos trinta anos, o PIB real per capita americano aumentou 75%, o que pode ser atribuído a ganhos de produtividade resultantes, em boa parte, de esforços e efeitos de inovação. palavras do departamento de comércio dos EUA, que começou há dois anos um projeto nacional para medir as componentes de inovação [e seus resultados] nos diversos setores da economia para, a partir daí, desenvolver estratégias de fomento para [ainda] mais inovação onde ela já existe e inovação onde ainda não há.
inovação foi a “buzzword” da década passada. tudo é supostamente inovador, de ônibus e seus pontos a protetores de respingo de urinol. o problema de algo tão supostamente universal é que o desejo [e o marketing] de ser inovador é, na verdade, bem maior do que a inovação propriamente dita. até porque inovação é algo muito difícil de definir exatamente.
uma das minhas definições prediletas é que inovar é emitir mais e melhores notas fiscais. aumentar o faturamento e, ao mesmo tempo, as margens, fazendo os dois dentro da lei [daí as notas fiscais]. como fazer isso é outra história. e esta não é a única definição de inovação, claro, mas é uma daquelas que se presta a ser medida, na prática, em qualquer economia.
do outro lado do mundo, a china se tornou a fábrica do planeta nos últimos trinta anos e se prepara para fazer mais, nem sempre dentro dos princípios de comércio aberto que se pensava serem o principal efeito da globalização. menos ainda dentro do que por aqui nós costumamos chamar de “lei”.
no momento, o governo chinês está estabelecendo regras que darão prioridade, nas compras governamentais, a produtos cuja propriedade intelectual seja desenvolvida na china e que pertençam a empresas chinesas. como a china está para se tornar a segunda maior economia do planeta, os efeitos de tal decisão podem ser muito importantes para o resto do mundo.
a decisão chinesa não é original; uma versão menos inteligente dela já rolou por aqui em passado remoto. na reserva de mercado de informática, fizemos algo similar. não igual, mas similar. a ideia geral, na época, foi estabelecer uma reserva do mercado brasileiro para produtos fabricados no brasil, esperando que produção nacional em substituição às importações levasse primeiro à melhoria dos produtos locais e, lá na frente, a produtos nacionais globalmente competitivos. a experiência deu, como sabemos, errado.
a china está fazendo diferente: tendo primeiro se tornado competitiva no mercado internacional de fabricação de basicamente qualquer coisa, agora quer controlar seu gigantesco mercado interno para produtos que não sejam criados ou fabricados na china. a situação é discutível e conflituosa, com muitas empresas americanas de tecnologia fazendo lobby no congresso para que governo obama aumente a pressão em prol do livre comércio.
as chances de progresso são baixas. na última vez que o atual presidente americano [e ex-salvador do mundo] se encontrou com o premiê chinês, que manda em boa parte do mundo e em parcela considerável da dívida americana, todas as respostas a seus pedidos foram um singelo não.
até aqui, você leu a abertura desta série, que poderá ser estender por muitos artigos espalhados pelo linha do tempo deste blog. a pergunta que vamos tentar fazer [responder, nem pensar] é: no setor de informática, que políticas e estratégias deveria ter o brasil para ser mais competitivo?…
o pano de fundo já vem sendo discutido no blog há tempos, ao falarmos das indústrias nacionais de hardware, software e serviços intensivos em TICs.
retomando uma conversa antiga, acaba de sair o resultado da balança comercial de eletro-eletrônicos para 2009: exportamos US$7.5B e importamos US$25B, deixando um rombo de US$17.5B.
para 2010, a previsão é de que as exportações continuarão na mesma, enquanto as importações [para acompanhar o crescimento do mercado interno] crescerão para US$27B, o que deve deixar um saldo negativo de US$19.5B. se o ano for “bom”, ou seja, se a economia crescer mais do que o esperado, podem apostar num déficit de mais de US$22B, que foi o número de 2008. é esperar pra ver.
agora pense: se reservar mercado e esperar por inovação pra se tornar competitivo não deu certo antes, aqui [daria, agora?], se o brasil não tem uma indústria de TICs competitiva o suficiente [como a china, em hardware ou a índia, em software] para decretar uma reserva parcial baseada em compras governamentais sem incorrer em custos adicionais significativos… se, ao mesmo tempo, não estamos começando do zero e há, aqui, grandes fabricantes nacionais e internacionais de hardware e software, o que temos que fazer para criar uma indústria nacional internacionalmente competitiva em TICs?…