irã: a revolução não será…

image este texto não tem qualquer intenção de avaliar a lisura dos resultados da recente eleição presidencial no irã. não há, longe de lá, quem possa fazê-lo, por pura e simples falta de acesso a dados independentes sobre o processo eleitoral, principalmente sobre a fase de apuração. aliás, é muito provável que, mesmo no irã, pouca gente venha a saber exatamente o que rolou nas últimas eleições, já que o processo, como um todo, parece sofrer de falta de transparência, para dizer o mínimo. mas isso, como dissemos no começo deste parágrafo, é outra história.

como em qualquer regime ditatorial que se preza, o irã controla conectividade de forma severa. e isso não deixou de acontecer na confusão que se seguiu ao anúncio do resultado das eleições. parece que havia razões de sobra, no regime, para prever que o resultado que foi anunciado não seria aceito, facilmente, por uma boa parcela do eleitorado. o problema, neste tipo de situação, hoje, é que o mundo inteiro –mesmo o irã- está se conectando de uma forma que nunca antes foi possível na história da humanidade. e pessoas muito conectadas, local, regional, nacional e mundialmente, mesmo numa ditadura, podem fazer uma diferença enorme.

o que o governo iraniano faz para controlar a situação na tarde do 12 de junho? tirou SMS do ar, depois bloqueou o acesso a todas as grandes redes sociais e, por fim, derrubou a rede celular, inteira, tentando controlar a interação entre os descontentes. o papel da TV –que nunca televisiona as revoluções- foi o de repetir mensagens gravadas, conclamando todos os iranianos a apoiar o resultado “das urnas”. o líder supremo do país, aiatolá khamenei, conclamou a população: “In this great event, the vigilant and clear-sighted people of Iran showed that they are still interested in the path and principles of Imam Khomeini and that they still seek to achieve progress and prosperity by treading his path." até aí, surpresa zero: líderes totalitários afirmando que os vigilantes e patriotas estão certos e que o seu é o único caminho não é exatamente uma novidade. já vivemos isso no brasil, e não faz muito tempo.

a oposição [informal], sem poderes para bloquear SMS, internet e derrubar a rede de celulares… tirou do ar o site do próprio khamenei durante algum tempo no domingo. a imagem abaixo é de iran.twazzup.com às 22:30 do domingo e mostra todo o twitter sobre o irã em tempo real, enviado de dentro e de fora do país [o “bloqueio” da internet não foi tão efetivo assim…].

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os manifestantes não só conseguiram furar o bloqueio dos aiatolás à rede mas foram às ruas incendiar os carros da polícia e, como mostra a imagem abaixo [clique na imagem para ver o vídeo no youTube] havia bem mais de uma pessoa gravando a cena, quase certamente de seus celulares. daí pra uma montanha de vídeos e relatos quase ao vivo da confusão, de sexta pra cá, parar no youTube e muitos outros sites… foi um passo.

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ao redor das 11 da noite, no domingo, havia alguém [eram umas 4 da manhã da segunda, em tehran] ativo no twitter, aparentemente reportando uma iminente invasão aos dormitórios da universidade. a imagem abaixo é de hashtags; dependendo de quem estava seguindo este “canal” ele pode ou não ter conseguido ajuda.

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em suma: o povo, qualquer povo, é uma rede. quando se percebe como tal, age, em rede, para defender o que entende serem seus direitos líquidos e certos. é isso que está acontecendo no irã, e ninguém precisa de líderes para tal. segundo declarações do professor sadegh zibakalam, da universidade de tehran, à al-jazeera, as demonstrações foram reação espontânea aos resultados da eleição: "No one is giving them commands, no one is ordering them, no one is leading them”; ninguém está comandando os manifestantes, ninguém lhes dá ordens, ninguém lidera. o povo, em rede, na rede, dentro e fora do irã, mudando o mundo.

a televisão nunca transmitiu a revolução. nem vai. a rede, sim. aliás, é muito mais: a rede faz a revolução. e nós ainda nem começamos mesmo a nos conectar como deveríamos. imagine uma situação como esta -e muitas outras- daqui a 20, 50 anos. será que ainda haverá, daqui a tanto tempo, governos -e "eleições"- como os do irã?…

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