videogames: será que estamos preocupados com as coisas erradas? este é o sub-título do site do livro Grand Theft Childhood: The Surprising Truth about Violent Videogames, de autoria de lawrence kutner e cheryl olson, pesquisadores do centro para mídia e saúde mental da harvard medical school e do massgen hospital em boston. ao invés de situações simuladas em laboratório e experimentos em pequena escala, o time liderado pelo dr. kutner [psicólogo clínico treinado na mayo clinic e professor do departamento de psiquiatria da harvard medical school] resolveu tratar situações reais, acompanhando 1.200 adolescentes no ambiente das suas famílias por um período de dois anos.
o resultado? em uma manchete, a agência reuters diz que “jogos não criam assassinos“. apesar de haver uma correlação nos dados levantados no estudo, mostrando que 51% dos garotos que estiveram envolvidos em pelo menos uma briga nos últimos 12 meses jogam videogames considerados violentos, contra 28% dos que não jogam, não se descobriu quem causa o que. pode ser que mais garotos que são “naturalmente violentos” escolham jogar games violentos, mas não há evidência para provar tal tese ou seu oposto.
o estudo descobriu que jogos violentos são especialmente populares entre meninas: GTA, o megahit grand theft auto [cuja versão IV, discutida neste blog, vendeu US$500M na primeira semana] é o segundo jogo preferido das garotas, perdendo apenas para the sims. e muitas meninas [e meninos] disseram aos pesquisadores que entram em jogos violentos “para relaxar“. algo parecido com uma sessão de box ou de terapia do renascimento.
o livro não tem uma receita para resolver problemas relacionados a games, mas aconselha [como não poderia deixar de ser óbvio] bom senso. segundo os autores, se uma criança está em jogos violentos, joga outras coisas e seu comportamento é normal, em casa, na rua e na escola, há pouco com que se preocupar. mas se uma menina só joga games violentos e durante muitas horas por semana e se comporta de forma esquisita, alguma coisa pode estar errada.
nada que a gente que tem filhos e netos, do lado de cá da tela, não saiba. muita gente espera que um “mundo seguro” caia do céu e que não seja preciso fazer nada para criar filhos, além de tê-los e provê-los de teto, comida e escola. mas há uma instituição antiga, por aí, chamada família, que ainda serve pra muita coisa. numa família caótica e talvez violenta, as melhores almas jovens podem resultar em adultos deploráveis. o que não significa que uma família equilibrada resolve todos os problemas do crescimento… mas que ajuda, ajuda, e muito.
mas… você poderia perguntar: e os viciados em jogos? parece que as pessoas não se viciam em jogos por causa dos jogos, mas porque sofrem de transtornos que os levam a tal tipo de comportamento, como depressão. em tais casos, o jogo [e o vício] pode ser uma fuga de uma realidade indesejada e tem que ser tratado como tal.
e… na sociedade? kutner e olson estudaram os estados unidos [não há nenhum estudo parecido e em tal escala por aqui] e, lá, os crimes violentos cometidos por jovens caíram 44% desde 1994. que por acaso é o ano em que o sony playstation chegou ao mercado… será que isso quer dizer que jogos diminuem a violência? não necessariamente, não há nenhum estudo que demonstre uma relação de causalidade. mas certamente não parecem aumentar.
ah, sim: e quem financiou o estudo? a indústria de jogos? não, foi o vetusto departamento de justiça dos estados unidos, interessado em entender o problema e, no processo, criar parâmetros para tratar a indústria de jogos.
em resumo: jogos violentos não são a causa da violência infanto-juvenil. isso significa que você deve deixar seu garoto de seis anos de idade jogar GTA? não. a menos que você não tenha argumentos suficientes para convencer uma criança tão jovem a jogar pebolim, fazer uma pipa, ir à praia ou ao parque, montar um roboneco com material reciclável, fazer um quebra-cabeças de 200 peças, ler uma revista infantil, ouvir ou contar uma história, preparar uma surpresa para o dia das mães, essas coisas que as crianças deveriam fazer com a participação dos pais.
mas… se você não tem tempo pra participar da criação de seus filhos, pode deixar que GTA toma conta e desenvolve. tenho certeza de que é bem menos violento do que o noticiário que você já os deixa ver na tv… sem se lembrar de que nem toda mídia é boa pra saude mental.
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[ps: este assunto pode ser um dos temas do fantástico deste domingo. se for, este blog deve estar lá.]