uma notícia de hoje, na china, chama a atenção pela importância da pessoa que o fez, pelo seu papel na rede de valor de eletrônica e computação e pelo fato da empresa que fundou e preside estar chegando ao brasil, como parte de nossa nova política de informática [já comentada por este blog aqui].
terry gou é "o cara" da foxconn, montadora dos produtos da apple e sony, entre muitos outros. sua empresa emprega mais de um milhão e duzentas mil pessoas, um milhão delas baseadas em suas fábricas na china. segundo a agência de notícias oficial da china, gou disse em uma festa da empresa na última sexta-feira que cerca de um milhão de robôs estarão operando suas linhas de montagem até 2014. hoje, a empresa tem 10.000 robôs em suas linhas de produção, número que deve crescer para 300.000 já no ano que vem. os robôs serão "empregados" para realizar tarefas "simples" como soldar, pintar e montar partes, peças e sistemas, tarefas hoje realizadas por humanos.
gou, o presidente, não disse quantos empregados vão ser demitidos. mas deixou claro que a mudança é necessária, face ao aumento dos custos trabalhistas [na china].
agora pense comigo: em maio, quando se anunciou que a foxconn abriria uma fábrica no brasil, foi dito também que os 100.000 empregos que a empresa criaria no país [em cinco anos a partir de sua chegada…] seriam "para brasileiros", isso como se fosse imaginável trazer cem mil chineses para montar iPhones e iPads em alguma cidade do interior.
segundo o ministro mercadante, aqui mesmo no terraMagazine…
A fábrica que nós fomos visitar na China tinha 400 mil trabalhadores. A escala para essa indústria é essa. Para poder entrar nesse mercado, é por aí. Tem que ter volume e tamanho.
agora, o presidente da foxconn está dizendo que vai trocar humanos por robôs na china, e estará fazendo isso "… to cut rising labor expenses and improve efficiency…" para diminuir os crescentes custos trabalhistas e aumentar eficiência.
sem querer discutir os muitos outros aspectos da decisão de gou, robôs fazem todo sentido dentro de sua cadeia de valor: garantidas a celeridade, flexibilidade e qualidade que se exige de uma montadora por clientes de seu tipo e porte, todo o resto se decide pelo custo. e os humanos, mesmo na china, estão se tornando mais caros. porque querem ser tratados como… humanos. simples assim. na foxconn, vale lembrar, os operários não podem conversar durante o horário de trabalho [para aumentar a tal da eficiência] e 17 trabalhadores se suicidaram nos últimos anos [talvez por causa das tais medidas para "aumentar a eficiência"].
antes dos suicídios, o salário-base de um trabalhador da linha de montagem da foxconn era menos de R$250. depois, subiu para perto de R$500, ainda assim bem menor que o salário mínimo brasileiro. resta saber, agora, como é que vão aparecer os tais 100.000 empregos de montagem no brasil, se na china, mesmo com salários menores do que os brasileiros e com custos trabalhistas adicionais perto de zero, a foxconn vai trocar boa parte dos humanos em suas linhas de produção por robôs, para manter-se competitiva na produção de iPads, iPhones, Wiis… tudo o que todos querem comprar, o mais depressa possível, pelo menor preço possível.
por isso, paga-se um preço: para evitar suicídios, haverá robôs na linha de montagem. tirando um bug aqui ou ali, não há nenhuma notícia, ainda, de um robô se autodestruindo por excesso de trabalho.
ah, sim: e os humanos que vão ser despedidos das linhas de montagem? pois é: estamos na economia do conhecimento e parece que os únicos trabalhos que vão "sobrar" para humanos, no médio e longo prazos, são aqueles nos quais é preciso exercitar funções essencialmente humanas: pensar, imaginar, perguntar, descobrir, criar, resolver, desenhar, projetar… coisas que robôs ainda vão demorar muito tempo pra começar a fazer.